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2020: ano do futuro, mas com um pé no passado

A diferença de gênero diminuiu ligeiramente no mundo desde o ano passado, mas ainda levará 99,5 anos para atingir a paridade total

Este conteúdo faz parte da série de reportagens sobre Direitos Humanos realizada pelos estudantes do curso de Comunicação Social da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) matriculados na disciplina Direitos Humanos, Comunicação e Políticas Públicas, unidade ministrada pelo professor Dr. Antonino Condoreli. As reportagens têm como objetivo refletir as questões de direitos humanos criando ambiente crítico no âmbito da mídia, além de contribuir para a disseminação dos conteúdos acadêmicos na sociedade.

Por Ana Clarice Sousa

Desde o início dos tempos a desigualdade entre homens e mulheres vem sendo uma constante. Estamos em 2020, século 21, ano em que quando éramos crianças imaginávamos que veríamos carros voadores e robôs por todos os cantos, mas o que vemos é desanimador. Como mulheres, já passamos por muitas lutas e tivemos muitos direitos conquistados, mas sabemos que a nossa batalha é diária e ainda há muito mais por vir.

O Global Gender Gap Index (GGGI) é uma estrutura que busca capturar a magnitude das desigualdades de gênero e acompanhamento de seus progressos ao longo do tempo. O índice foi introduzido pela primeira vez pelo Fórum Econômico Mundial em 2006 e mede a Participação Econômica, o Desempenho Educacional, os Subíndices de Saúde e Sobrevivência e o Empoderamento Político.

As classificações são projetadas para criar consciência global dos desafios colocados pelas lacunas de gênero e as oportunidades criadas por sua redução, também permitem comparações eficazes entre regiões e grupos de renda. O objetivo é servir de base para formular medidas eficazes para reduzir as desigualdades de gênero.

Foram 153 países analisados no GGGI 2020. Nenhum país até agora atingiu a paridade de gênero total, porém, todos os cinco principais países fecharam pelo menos 80% das suas lacunas. O Top 10 é composto pela Islândia em primeiro, seguido da Noruega, Finlândia, Suécia, Nicarágua, Nova Zelândia, Irlanda, Espanha, Ruanda e Alemanha.

A Islândia fechou 82% da sua lacuna até agora, tendo o melhor desempenho entre todos os países analisados. Desde 2018 o país tem se destacado ao ser o primeiro lugar do mundo a criar uma lei que exige a igualdade de salários entre homens e mulheres. Pelas novas regras, todas as agências governamentais e empresas privadas que tenham mais de 25 funcionários são obrigadas a obter uma certificação oficial que comprove suas políticas de igualdade. Os empregadores que não cumprirem podem ser multados.

A Espanha que ocupa o 8º lugar tem sido uma boa surpresa. No último dia 13 o conselho de ministros aprovou o decreto que determina a proibição de diferença salarial entre homens e mulheres no país. A ministra Yolanda Díaz avalia a desigualdade salarial como uma “aberração judicial e democrática”. As empresas terão seis meses para se adaptar às regras e deverão manter registros de salários e funções dos funcionários. Caso não cumpram, a multa pode chegar a 187 mil euros.

O Brasil tem muito o que aprender com os países citados. Um país que tem na Constituição: “Artigo 5. Todos somos iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza. Inciso I. Homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações.” ainda ocupa o 92º lugar no ranking do GGGI com pontuação geral de 69,1%. Em 2006, ano em que o primeiro índice foi publicado, o Brasil ocupava a 67ª posição.

O país tem uma das maiores lacunas de gênero da América Latina, ocupando o 22º lugar entre os 25 países da região, e está a quase 90 posições atrás da Nicarágua (80,4%, 5º), o país com melhor desempenho.

No gênero econômico a lacuna permanece grande. A baixa taxa de participação feminina na força de trabalho, combinada com salários e renda desiguais, pesam sobre o desempenho do país neste subíndice. Uma pesquisa da empresa de recrutamento online Catho, divulgou dia 15 de outubro, que as mulheres em cargo de liderança como gerentes e diretoras ganham, em média, 23% a menos do que homens.

A pesquisa ainda aponta que o salário continua desigual em outros níveis da hierarquia como supervisor/coordenador (-15%) e analista (-35%). Também mostra que a remuneração é desigual em todos os níveis de escolaridade: profissionais mulheres que tem pós-graduação, MBA ou especialização chegam a receber 47% a menos em relação aos homens.

A questão do empoderamento político, ou a falta dele, representa o maior prejuízo no desempenho geral do Brasil. Com uma pontuação de 13,3% o país ocupa a 104ª posição no mundo. Em junho de 2019, apenas dois cargos no gabinete de 22 membros foram ocupados por mulheres (122º) e as mulheres representam apenas 18% dos membros do parlamento (114º).

No entanto, apesar da situação negativa, alguns pontos podem ser comemorados: o Brasil fechou as lacunas de gênero na educação e na saúde. Há perfeita paridade na taxa de alfabetização (93%) e educação primária (95%), e uma proporção maior de mulheres estão matriculadas no ensino médio e superior, onde há 140 alunas para cada 100 alunos. Além disso, as mulheres podem esperar viver com boa saúde cinco anos a mais do que os homens. O país está entre os 70 países do mundo que alcançaram paridade entre mulheres e homens para funções técnicas e profissionais, e cerca de 40% das funções de liderança (gerentes, altos funcionários, legisladores) são ocupadas por mulheres (27º).

O Global Gender Gap Index conclui que a paridade de gênero na remuneração está se mostrando difícil de alcançar e que o progresso para fechar essa lacuna estagnou. Nenhum país, incluindo os mais bem classificados, ainda atingiu 100% a igualdade de gênero em salários. Este ano o relatório destaca a importância para os políticos que desejam permanecer em seus cargos de fazer a igualdade de gênero uma pauta constante em sua nação. E por fim, afirma que a diferença de gênero diminuiu ligeiramente no mundo desde o ano passado, mas ainda levará 99,5 anos para atingir a paridade total se continuarmos no ritmo atual.

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