Ontem foi 21 de Março, reconhecido como dia Internacional da Eliminação da Discriminação Racial. Está data, instituída pela Organização das Nações Unidas (ONU), faz referência ao Massacre de Shaperville, em 1960, na cidade de Joanesburgo, capital da África do Sul. Neste dia, mais de 20 mil homens e mulheres negras/os protestaram contra a lei do passe, que os obrigava a portar cartões de identificação, especificando os locais por onde eles podiam circular. Embora pacífico, o protesto terminou com 68 mortos
Mais de seis décadas depois do Massacre de Shaperville, a população negra segue rê-existindo e lutando por sobrevivência, seja na África do Sul ou no Brasil. O extermínio da população negra ainda é uma realidade brasileira, quer seja pelas políticas genocidas e pela negação dos direitos ou por meio da violência policial.
Abaixo compartilhamos o texto de Maria Lúcia de Oliveira, que é um Manifesto de luta e união do negro e faz parte de uma produção audivisual feito coletivamente com Eloá Norberta e Sabrina de Oxum.
21 de março: um Manifesto na luta pela eliminação da Discriminação Racial
A diáspora africana através do sequestro da população negra, que foi obrigada a trabalhar no modo de produção escravocrata no Brasil levou trezentos anos de muita luta e muito esforço para que o nosso povo pudesse chegar a uma pseudolibertação.
Temos 133 anos de pós abolição, que nos deixou uma herança terrível, no qual não fomos beneficiados com nenhuma política pública. O Estado além de não nos oferecer a garantia de direitos, ainda aparelhou as instituições como mecanismo de repressão para que nos tornássemos ainda mais excluídos. Sendo nosso povo jogado na vala da desesperança, nas favelas, nas ruas, pedindo esmola. Na diáspora esse processo se perpetua o nosso povo continua sendo desterritorializado, sem ter o direito mínimo à moradia. Isso diz muito sobre o que a gente ainda precisa fazer.
A pandemia escancarou as vísceras desse racismo estrutural, quando uma das primeiras pessoas que morreu nesse país foi uma mulher negra empregada doméstica. A população negra continua sendo desterritorializada, para que não tenhamos o sentimento de posse, de pertencimento. Esse é um pensamento eurocêntrico, capitalista e escravocrata. Sendo as mulheres negras as mais prejudicadas durante o processo pandêmico, com a retirada do auxílio emergencial e a falta de dinheiro para pagar o aluguel, fez com que nossas companheiras fossem obrigada a ocupar terras que não cumpriam sua função social, onde elas moram sem nenhuma estrutura básica.
Passamos pelo processo de desterritorialização também do nosso povo que tem uma história com a comunidade; e quando nos é oferecido algo é longe da cidade, porque eles não nos querem dentro da cidade, a não ser que seja mão de obra nas cozinhas, nos hospitais, nas escolas e em todos os meios de produção trabalhando no subemprego.
Durante esse processo nos dias de hoje quero dizer que nós a população preta temos saída, pois numa encruzilhada sempre há uma saída! Uma delas é nos unirmos pra que a gente continue fazendo a resistência, a herança que nós temos das nossas ancestrais, é a resistência! Porque nós estamos sendo as mais prejudicadas, somos nós que temos o direito e a necessidade do pertencimento e o direito a cidade; somos nós que levamos nossos filhos para escola, andamos de bicicleta, nós que dependemos do transporte público. Porém enquanto estiverem nas estruturas de estado de poder homens brancos, arcaicos que não passam e não sentem o que uma mulher preta passa dentro de uma favela a gente vai continuar sofrendo, então para isso temos que continuar a luta!
Os grandes progressos, os grandes projetos nos desterritorializam vinte e quatro horas, é um processo contínuo para que a gente não se sinta parte, então só nos resta a luta.
No dia de hoje eu quero dizer UNIÃO E LUTA POVO PRETO! UNIÃO E LUTA MULHER PRETA!
Reparação histórica a dívida nunca foi paga e as chagas estão abertas!
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