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36 perguntas de se apaixonar: o amor não é uma ciência exata

Durante um de seus muitos estudos, o psicólogo norte-americano Arthur Aron, realizou um teste em laboratório buscando investigar a proximidade em um contexto experimental. O psicólogo pretendia medir a afetação das hormonas e dos neurotransmissores por meio da intimidade. Para isso, Aron procurou acelerar a proximidade entre dois desconhecidos a partir de um questionário, contendo 36 perguntas dividido em três partes, sendo que o nível de profundidade aumenta conforme as perguntas são respondidas. A ideia central do estudo era confirmar que a vulnerabilidade mútua promove a intimidade. 

Seis meses após a  realização da experiência, dois dos voluntários até então desconhecidos, se casaram. Em entrevista ao “El Pais”, o psicólogo conta que o questionário não foi criado com o objetivo de desencadear a paixão, mas sim para simular em laboratório a “conexão temporal entre pessoas que não se conheciam”.

Foto: reprodução

Apesar do experimento ter sido realizado pela primeira vez em 1997 e ter certo reconhecimento no meio acadêmico, foi apenas em 2015 que ganhou atenção do público geral, com o relato de Mandy Len Catron, colunista do The New York Times. Acontece que durante a realização do questionário, a colunista em questão não seguiu todos os passos de Aron e realizou a experiência com um já conhecido colega de faculdade, o que parece só ter contribuído para um resultado favorável. 

Muitos internautas têm compartilhado esse conteúdo como uma espécie de fórmula amorosa, promovendo de maneira inconsequente a ideia fantasiosa de que o experimento pode resultar em um encontro do parceiro ideal, gerando grandes expectativas sobre a durabilidade de uma possível relação. Mas, o sentimento de proximidade criado pelo questionário, na verdade, possui o intuito de ser algo temporário.

Quando abrimos tanto da nossa vida para outra pessoa é praticamente improvável não construir algum tipo de conexão, mas isso não é necessariamente uma regra.  Baseando-se nos estudos de Erick Berne, analista transacional,  Aron tenta provar ao criar uma conexão entre os voluntários que para as relações interpessoais funcionarem de verdade é necessário que nossos três estados de ego estejam alinhados. 

Erick Berne explica que esses três estados formam quem somos e o que podemos ser, sendo chamados de a criança, o pai e o adulto, os estados de ego determinam nossas atitudes em relação aos outros e a nós mesmos. Para Berne, o comportamento das pessoas se diferenciam pela predominância de um estado sobre o outro ou pela inconsciência do seu estado atual. 

Os Três Estados de Ego:

Foto: reprodução

A criança: “A maneira e a intenção com a qual você reagiu é a mesma que você teria se você fosse agora um pequeno garoto ou garota” (BERNE, p. 24). 
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O pai:“Você está no mesmo estado mental que um de seus pais (ou responsável) costumava estar, e você está respondendo como ele ou ela responderia, com a mesma postura, gestos, vocabulários, sentimentos, etc” (BERNE, p. 24).
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O adulto:“Você acabou de fazer uma avaliação autônoma, objetiva da situação e está pensando ou percebendo problemas ou conclusões de uma maneira não preconceituosa ou julgadora” (BERNE, p. 24).

Os entrelaços das teorias de Aron e Berne ficam claros ao ler o questionário formulado por Aron, suas perguntas parecem buscar algum tipo de identificação entre os participantes em diferentes momentos. A construção da conexão proposta pelo questionário parte do pressuposto de que os participantes mantenham algum tipo de laço, mesmo que momentâneo, e possam manter o interesse durante o teste, criando  uma sinergia entre os três estados de ego a partir de interesses e relatos em comum.

Um Relato Pessoal:

Quando li sobre a experiência de Arthur Aron pela primeira vez fiquei totalmente desacreditada, afinal, tecnicamente o amor não seria parte de uma ciência exata, seres humanos, seus sentimentos e conexões não podem ser representados por apenas 36 perguntas que se tornam  uma espécie de fórmula. 

A paixão sempre foi um sentimento superestimado. É praticamente improvável achar uma pessoa que não gostaria de encontrar alguém com quem dividir sua vida. Alguns juram de pés juntos que algo tão trivial não faz parte dos seus planos, mas em muitos casos, sem muita sinceridade. Acho que de certa forma consigo me encaixar nesse grupo. O amor, a paixão ou o leve envolvimento com alguém nunca fez parte das minhas prioridades. 

Com toda uma vida para viver, amigos leais e uma mãe  e irmãs que me apoiam, imaginei que esse tipo de relacionamento não seria algo crucial no meu desenvolvimento pessoal, apesar de ter curtas relações ao longo dos anos. Conforme amadureci pude finalmente entender que toda experiência é válida, sendo uma oportunidade de nos conhecermos, construir nossos caminhos e seguir na melhor direção possível. 

Sempre tive certa dificuldade de me conectar verdadeiramente com alguém. Quando você cresce com pais em um relacionamento inconstante, repleto de discussões, você passa a acreditar que toda relação está fadada ao fracasso e que é preciso proteger seus sentimentos a todo custo. Então, você se guarda a sete chaves e passa a desacreditar  nessas conexões. 

Com o passar do tempo, o ser humano tende a evoluir e como qualquer pessoa que passa pelas diversas fases da vida, me vi crescer, amadurecer e me permiti novas possibilidades depois de uma boa dose de terapia. Pesquisei mais sobre o teste e sobre seu autor, e finalmente pude entender o seu sentido. Aron não criou o questionário para ser descrito como uma fórmula do amor, mas para estudar a ideia de conexão a partir da vulnerabilidade e de sentimentos de identificação, permitindo que o participante reflita sobre sua própria vida.O fato de um casal entre seus voluntários terem se casado seis meses após o teste foi só mais um golpe de sorte do destino.

Com minhas muitas dúvidas sobre a veracidade do teste, resolvi aplicá-lo tentando seguir o caminho de Aron, mas incorporando algo do método de Mandy Len Catron, busquei fazer o teste com quem já despertasse meu interesse. O parceiro em questão era alguém de quem eu não sabia muitas coisas, mal o conhecia, mas em um momento de coragem súbita resolvi procurá-lo e o convidei para fazermos o teste, e para minha surpresa a resposta foi positiva. Conheci uma pessoa totalmente diferente do que eu costumava imaginar e tínhamos mais coisas em comum do que esperava. Mas ainda assim, a chamada “fórmula do amor” não é mágica, esse relato não é um conto de fadas e como uma boa história da vida real não consegui me ligar a pessoa na esfera emocional e tenho certeza de que foi recíproco, a atração continuou, mas não cultivei qualquer tipo de sentimento pela pessoa em questão. 

Entretanto, pude me conhecer e me entender mais do que nunca, foi um momento em que pude refletir sobre coisas as quais geralmente passam despercebidas no meu dia a dia.  Passei a me dar novas oportunidades e me tornei mais segura comigo mesma. Depois de responder esse questionário percebi quem eu sou e quem eu posso vir a ser,  me orgulhei da minha história e do fato de não me deixar abalar pelos momentos de baixa da vida e sempre me permitir seguir em frente.

Aprendi a valorizar mais minhas conquistas e consequentemente a me valorizar ainda mais, e até pode ser prepotência minha, mas finalmente pude perceber que qualquer pessoa que conseguir notar o quão especial eu posso ser, será esperto o suficiente para não me deixar escapar. As 36 perguntas não foram suficientes para que eu me apaixonasse por outra pessoa, mas foram essenciais para que eu pudesse me amar cada vez mais.

Texto: Bianca Duarte / Jornalismo Juazeiro do Norte – CE

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