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9 poesias para o Dia Internacional da Mulher

As rosas vermelhas do nosso 8 de Março, já cansaram de ser jogadas em cima dos caixões de nossos filhos. Em cima de mulheres mortas pelo machismo, tipificando Feminicídio. Por cima de nossas irmãs e irmãos, vítimas do sexismo. Porque nascer homem e querer ser mulher, aí já é demais pro meu filho Bolsominion.

Nossas poesias vêm trazer cotidiano, labuta do dia dia, o nosso corre diário. De mulheres da cor de barro e argila, lindas, cada uma com seu tamanho, VIVAS! É assim que queremos ser lembradas, vivas nos espaços de poder e decisão. Protagonismo, Igualdade e Poder, poderíamos dizer que são só alguns dos nossos objetivos, mas então…

São muito mais as pautas que tocamos incansavelmente. Saúde Mental, Autocuidado, Afetividade, não deve ser só pra quem pode pagar por isso. Quem garante espaços de lazer, promoção e financiamento à cultura pras mães, filhas e filhos da periferia, quando nem a segurança e o direito à vida o Estado e a Polícia tem permitido a eles?

Vamos pensar sobre isso recitando poesia?

ENCARCERADAS – Faz uma trajetória da mulher do espaço privado para o espaço público, relembrando nossas avós, mulheres afro pindorâmicas, da terra. Nesse processo de saída, ela também encontra a agressão e  o estupro. Somado a isso, o mito que devemos derrubar cotidianamente: de que somos Fortes, e tudo aguentamos, principalmente as mulheres negras, as que mais passam por cima de suas subjetividades para atender a exigências externas do Patriarcado e do capital econômico.

 

“Já nasce com o lugar  pré determinado

Seu ambiente, tem que ser o privado

Dentro de casa pro amor, pra dor, pro servir

Se ela se atreve a sair 

Muito terá que ouvir

Família, Amigos, pai, mãe, irmão

‘seu lugar não é na rua é na pia ou no fogão’  

Fuja mulher, desse domínio

Fuja mulher, desse extermínio

Fuja mulher, do feminicidio

Abra sua cabeça, afaga o raciocínio

Não tenha medo do que pode vir 

Enfrenta esse machismo, ele há de cair

Ele tem que cair!

Nós vamos destruir!

Libertas, do mundo sexual

Mas não podem beber, vai ser desculpa pra bacanal

O homem não entende

Não é isso que ela quer

Se aproveita da situação

E culpa a mulher

Culpadas por beber

Culpadas por sair

Culpadas por viver

Culpadas por se divertir 

Encarceradas

Dentro do próprio lar

Encarceradas

Nós precisamos mudar

Encarceradas

Em toda situação

Encarceradas

Homem não é teu patrão

Derruba essa parede

Que o padrão subiu 

Ela tem muito concreto, só te deixa servil

Mas não é impossível , de derrubar
Continuar com essas correntes só vai privilegiar

Os homens
Donos de si
Tão pouco se lixando se o machismo é ruim
Levanta! Essa tarefa é tua
É dura, É árdua mas não é o fim de tudo  

Depois dela virá  

liberdade e decisão

Essa é tua escolha, tá na tua mão!

Não levante cedo só pra preparar o feijão

Já levanta cedo com a enxada na mão

Levanta cedo

E também morre mais cedo

Jornada tripla

Mãe, dona de casa, trabalha e ninguém identifica

Que é por ela

que a casa toda se sustenta

Mesmo quando seu trabalho não produz grana

é ela que se arrebenta!

Ê filin..se oriente!

Ela dá sua própria vida

Pra que a sua movimente.

 

‘NA PONTA DO ABISMO LÁ VAI A MÃE PRETA’ – Carol Dall Farra/ MC e Poeta

ABORTE UM MACHO – Fala e trás dados sobre o aborto no Brasil, colocando em evidência não apenas a responsabilidade do homem e a falta de educação sexual desde a infância e adolescência, mas também a cultura do estupro e a romantização dela, como a fantasia de ‘relacionamentos, fechados ou não, e a não utilização de camisinhas ou preservativos’. A camisinha – masculina – é um dos métodos mais acessíveis e eficazes, pois além de prevenir à gravidez também evita doenças e infecções sexualmente transmissíveis. Além disso, aponta para políticas públicas que encare o aborto como um problema de saúde pública, que mata mulheres e afeta suas vidas diretamente.

 

“Não faço mais força pra relevar

O processo é difícil, sei bem

Convoco a falarmos um pouco de machismo

E o respeito depois, mesmo assim, se mantém

Só que não é mais por harmonia

Disso vocês não querem nem saber

Já cansei desse bla bla

Agora cês tem que entender

Essa luta é por direitos

de sobreviver, e também pelo direito de viver!

Não tem mais conversa fiada

Nem as gata de doze ano guenta mais calada

Quer transar sem camisinha, gato fiel

Pega uma boneca inflável e começa a treinar o créu

Num é vocês que sentem a dor quando a notícia se confirma

Pode escrever mil letras, essa rima cês não domina

Deixa que nós merma fala, da gravidez e do aborto

Porque bom mesmo é na hora de fazer, né macho escroto

Na hora de parir, de cuidar e educar, é nós sozinha no sufoco

Enquanto nós grita em cima de um colchão

Tu tá na esquina fumando um com os amigo, né malandrão

Não tamo falando de peninha, e mesmo se você tivesse

De vocês não quero nem isso, cambada de muleque!

Vai querer que eu desenhe

ou que eu pegue na sua mão pra proteger esse caralho

Se quiser posso botar a mão

Bem no meio da tua cara, otário!

E quem não tem grana pra trazer pílula do exterior?

Vai sofrer tortura no SUS, fazer curetagem,

Ouvir humilhação de doutor

Destruir os órgãos internos

Isso quando fica viva

Aborto com sucesso é privilégio, não rotina!

Uma em cada sete brasileiras já fez

Tua mãe, a vizinha, eu ou vocês

Se for pra fazer, queremos que seja público e seguro

Porque as que podem pagar fazem sem caô

Pra nós é polícia no hospital, um absurdo!

Mas se liga aqui, vacilão, deixa eu te dizer

Não quero nem precisar fazer

Se tu tivesse educação sexual, nem era preciso isso acontecer

Trauma psicológico, levado pra vida inteira

Tu não tem a dimensão dessa dor

Vai pensar que é besteira

Mas tô ligada que tu não é ingênuo

E não se protege porque não quer

Aborto devia matar era o pai, Zé Mané!!

VENTRE LIVRE DE FATO – Luana Hansen/ MC

 

PRETA RAINHA – Fala sobre a saúde mental de mulheres negras, a cobrança e estigma da sociedade sobre seus corpos e a busca na espiritualidade para a cura.

 

Não…

Não é dormir que eu quero não…

Não é com sono que eu estou

Eu já dormi o suficiente no fluxo que foi e..voltou…

Eu tô deitada é pra esquecer de mim

Esquecer do começo e também do fim

Continuar deitada…

Sem nenhum retorno….

Eu tô dormindo é pra esquecer do mundo,

Esquecer as prioridades

Esquecer do meu futuro, esquecer

Todos os maus agouros

Quando chega a noite, não sou graças nem louvoures

E eu durmo…Pra esvaziar essa mente

Abrir espaço pro rap, e também pro repente

Deixar dormir, toda a confusão mental,

Advinda do ódio, desse capital!

E eu perdi…

Tudo que era de leveza, hoje não me emociono fácil

Não sou mais de sutilezas

Desconfio…

De todas elas, sou cabrera!

Desconfio, não confio, não consigo ver beleza!

Sentimento endurecido, eu não consigo decorar

Se é pra vir, tem que ser da alma, deixa a essência gritar

E eu não quero acordar…

Não é o que diz meu coração…

Meu corpo não é de calmaria, sou a mais completa confusão!

 

E ele tá gritando, e é pra se levantar,

Me deixe em paz, saia daqui

Já não aguento mais esperar.

Tá doendo, cada músculo estático

Vai embora!

Sai daqui! o mundo pode ser fantástico.

Te levanta…vai pro mundo menina

Sei que tu vai conseguir pois já nasceu uma guerreirinha

Tu não combinas, com essa postura

Tu precisas resistir e mostrar tua bravura

Elabora teus próprios mantras se não consegues rezar

Os pontos cantados no seu ouvido, você vai se recordar

Acalma o teu ser, ainda há esperança

Vai acorda pra essa vida e vai pegar tua bonança

Tu não é mais criança, lembras?

Tu era tão forte, como está o seu espírito?

Ele parece estar sem norte…

Não acaba por aqui, vá em busca do porvir

Só vejo brilho em teu caminho mas tu precisas florir

 

Respire duas vezes, seu corpo já está aceitando

Você é uma rainha e não perca o seu encanto

Respire duas vezes, seu corpo já está aceitando

Você é uma rainha e não perca o seu encanto

EWA AFRICANO – ‘ Eu, africana, que carrego a minha fala ‘- Brenda Lima, Cantora e Poeta

VIVAS! DEVASTAÇÃO FEMININA – Sobre a vivência da mulher no hip hop enquanto artista, mas poderia se estender a várias outras profissões em que a mulher ainda é invisibilizada e desacreditada, e na contramão disso tudo vem, mesmo assim, produzindo em demasia.

Mulheres do hip hop Piauí e Maranhão. Carmen Kemoly, Elayne Pereira, Nalda Santos, Pryscila Soares, Mona Lima e Nábia Cristina, 2016/ Foto: João Albert

“Pé na porta!

Acabou com essa história de ir no show só pra assistir

De ter respeito só quando tem um macho do lado, aqui ou ali…

De se só a gata do cara que possui o talento

Bora sair desse lugar, mulher

Mostrar nosso empoderamento

No começo é tudo lindo, vem aqui, deixa eu te ensinar…

Quando recebe um não, manda logo procurar seu lugar

E o nosso lugar, é nós quem vai escolher

E vai ser no nosso próprio momento que vamo fazer e acontecer

Quem vai dominar, agora é a mulher

Aquela que tu fingiu não ver

Que apagou o nome da história e do movimento desapareceu

Era igualdade e harmonia, você não escutou

Agora é o revide! Pow pow pow!

Não vem apagar meu grafite, não vem não

Não preciso do seu palpite, vacilão!

Não analisa minha voz, flow ou levada

Porque é sem perdão

Vamos fazer nossos próprios corres e produções

Sem pedir permissão!

Pensou bem que eu ia chorar HA HA HA

Tu não consegue imaginar mesmo a mulher em outro lugar, em outro patamar?

Pois meu bem, saímos dessa toca que tentaram nos prender

Tamo soltando a voz, fazendo essa cultura estremecer

Juntas, unidas, sem disputa ou competição

Já tamo aqui, bebê, não é mais uma ilusão

Eu acho bom vocês se preparar

Porque machista…machista!

Aqui não passará

Hoje em dia eu tô blindada

E vocês não vão escapar

Se essa merda tá fedendo, vocês vão ter que cheirar!!

 

Beatriz Nascimento, Abdias Nascimento e Lélia Gonzalez. Foto: Elisa Larkin, 1978.

 

ATLÂNTICA – Reverencia as mulheres nordestinas, a diáspora brasileira dos nordestinos aos sudeste reivindicada por Beatriz Nascimento; e as mulheres intelectuais negras como potência matriz na construção de uma nova história a ser contada no Brasil, escrita pelas “Juremas, Jussaras, Aqualtunes, Dandaras e suas aliadas, como Esperança Garcia e Marielle Franco”.

 

Toda vez que eu dou um passo o mundo sai do lugar

Toda vez que eu dou um passo preto

Vem a história branca me confrontar

Me afrontar, tentar me dominar

Toda vez  que essa corrente eu tento tirar

Vem a escrita eurocêntrica tentar me derrubar

Me desequilibrar, duvidar, tentar me formatar, me moldar, me enganar

Feito um muro de pedra, que separa o bom do ruim

Vem com toda força tentar me confundir

Meus irmão desenganado, repetem, tentam reproduzir

Eu? Tô fora! tô do outro lado, quero ver o fim!

Porque eu sou do Nordeste brasileiro

e percebi a imensidão do Rio de Janeiro

Subindo e descendo a Estrada do Grajaú

Milhares de pontinhos de vida

Que não consigo ver da zona sul

Tenho que concordar, aqui tem gente pra todo lado

De Jacarepaguá a Piabetá

Neguin come tampado

No metrô tu começa a sentir

No buzão tu confirma a impressão

Mas é no trem que os preto e as preta da baixada tem a certeza da permanência da escravidão

Por aqui também encontrei muito maranhense

Mas é claro que eu ia falar da minha terra, oxente!

Na Babilônia, na Mangueira, na Aldeia Maracanã

Chegaram nessa cidade bem antes dela ser maravilhosa

e ostentar o Museu do Amanhã

Beatriz Nascimento quem falou

Atentai à diáspora brasileira que vem pro Sudeste

Do Norte e do Nordeste

Atravessaram o Atlântico Negro, não vieram por ibope

Construíram esse país pelos mares, fazendas, indústria têxtil, metalúrgica

Mas não ganharam holofote

À noite, continuam a subir o morro

lutando por dias melhores

Mas se segura ladrão, que nosso bonde tá forte!

Esperança Garcia, negra piauiense escravizada,

até a OAB já teve que oficializar

nossa primeira brasileira advogada

Sua carta de 1770

denunciava tanto quanto Mariele Franco na bancada

Mais de 500 anos que nossas preta e índia segue aliada

Pergunta pras Jurema, pras Jussara

Se quiser alongar a história, fale da guerrilheira Aqualtune, das Dandara

Mas também não esqueça da aquariana Lélia González

E a noção que ela trás lá em 88 de Améfricanidade

Muito menos da Sueli Carneiro

Que hoje em dia segue fazendo coro e tombando a internet com a Djamila Ribeiro

É discurso inflamado, narrativa de malôquero

Junta com essas roda de slam e freestyle

espalhada pelo Brasil inteiro

E agora me diz se nos não tem projeto político pra esse país

Forjado na luta de muita mulher matriz

Não tem essa de Princesa Isabel, redentora dos escravos, imperatriz

Nosso debate aqui é muito avançado

Não comporta mais em tese de doutorado de mandado

Quando nós se junta é pra tomar logo de assalto a nação

Todas as nações em diáspora africana

black block, na contramão, até da tua falsa esquerda de oposição

Indo bem além do discurso cor de yoga do Dalai Lama

Nós tamo munido é de muita revolta

Em luto rebelde, vamo dar uma senhora reviravolta

E fazer com que uma nova África ressurja aqui no Brasil não Ocidental

E que ela não mais chegue aqui no navio dos amiguinho do Pedro Álvares Letal

Dessa vez, vai ser inspirada no Pan Africanismo de outro, do Amilcar Cabral

Sem piedade, vamo rir da cara dos racista, meter a mão na cara dos polícia

e perguntar

Quem é aqui que tem instinto de animal?

 

 

FILHA DA LUTA – Uma mulher avista outra mulher na Avenida de Copacabana e admira seu empoderamento.

 

Eu vi

Ninguém me contou não…eu vi!

Três da manhã em Copacabana

Uma Deusa

Negra

Como o mar, à noite, da vista do alto do morro

Vinha em desfile, em festa!

Dona de si, do mundo, e da pista!

DONA

Cem reais? Por uma noite?

Acabei de receber duzentos por uma sentada, me respeite!

PUTA

LINDA

Na labuta.

Quem olhou pra ela, pra dentro dela?

 

 

*** As poesias escritas são da jornalista e MC, Carmen Kemoly, que também é colunista do Ocorre Diário.

 

 

 

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