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A cultura ameaçada de morte: mudança na política cultural de Teresina gera retrocesso e cenário de incertezas

Nesta semana, na terça-feira (11),  um assunto ganhou a cidade: a Fundação Municipal de Cultura, através do seu presidente Scheyvan Lima, cumprindo determinação da Prefeitura Municipal, informou o cancelamento do contrato de gestão com as Organizações Sociais (OS) que administram a Orquestra Sinfônica de Teresina, Balé da Cidade e outros grupos culturais. Por meio de nota, a prefeitura de Teresina informou que passará a adotar uma nova forma de relação com o setor artístico, com a contratação direta de artistas, sem o intermédio de ONGs e associações. 

A decisão atinge diretamente os projetos: Orquestra Sinfônica de Teresina : Balé da Cidade de Teresina; Banda 16 de Agosto; Orquestra Sanfônica Seu Dominguinhos; Projeto Banda Escola; Projeto Orquestra Escola; Projeto Violão nas Escolas; Aulas de sanfonas, violão e guitarra realizadas no Palácio da Música; Aulas de teatro, dança e música realizadas no Teatro do Dirceu, Teatro do Boi, Céu das Artes Sul e Norte.

A Orquestra Sinfônica de Teresina e Balé da Cidade estiveram hoje (13) pela manhã, em coletiva de Imprensa, falando sobre os contratos firmados entre a Associação dos Amigos da Orquestra Sinfônica de Teresina e a Prefeitura Municipal de Teresina. Marcelino Barroso, conselheiro da Associação dos Amigos da OST, ressalta o retrocesso que essa medida vai trazer para a cultura de Teresina e, em especial, para a Orquestra Sinfônica. 

“A  Orquestra Sinfônica de Teresina é feita com gente do povo e feita para o povo. A  Orquestra Sinfônica de Teresina já foi a todos os bairros, a orquestra vai para as escolas, a orquestra já foi a vários estados do Brasil e até ao Congresso Nacional. Não é uma brincadeira, não é uma coisa pra elite Teresinense. É um patrimônio do povo de teresina”. 

Uma das justificativas da Prefeitura de Teresina, segundo o Secretário de Finanças, Robert Rios, é que haveria desvios e irregularidades nesses contratos, incluindo, supersalários. O Maestro Aurélio de Melo nega a informação do Secretário de que a contadora da OS recebeu um valor de 14 mil reais. “Quem é a contadora? A nossa contadora colocamos na nossa planilha, com salários. Estamos loucos pra saber quem é a contadora que ganha 14 mil e que ainda é minha esposa. Garanto pra vocês, que no final dessa sinfonia macabra que eu vou ter que reger a gente encontra essa contadora”, afirma o maestro. 

CONSELHO DE CULTURA NÃO FOI CONSULTADO

João Henrique Pimentel – Arquivo Pessoal

A cultura, em especial nos bairros periféricos, tem tirado jovens da criminalidade e mostrado novas perspectivas de futuro, nas artes. Além disso, o incentivo à cultura na cidade de Teresina é um direito da população e o que se espera neste momento de pandemia é ampliação das políticas para as pessoas que trabalham na cultura e sem ter o que comer. O Produtor Cultural e presidente do Conselho de Cultura de Teresina, João Henrique Vieira, questiona a falta de diálogo e o momento no qual essa medida foi tomada. 

“Soubemos dessa notícia por meio de rede social e pegou todo mundo de surpresa e todos comentam com espanto e tristeza. Isso representa mais um desmonte em um setor tão abalado como o setor artístico cultural. Em um momento em que os artistas mais precisam ter contratos garantidos, renda garantida, vem uma notícia dessas. É preciso que haja por parte do poder público um movimento exatamente ao contrário, de garantir projetos e espaços, e não uma precarização”, afirma João Henrique.

O Conselho Municipal de Cultura também foi pego de surpresa, não foi consultado, nem mesmo informado oficialmente, o que também representa um desrespeito ao Conselho. “Como artista e produtor Cultural eu vejo como um momento muito importante para a classe se mobilizar em defesa desses projetos e espaços. Fortalecer um movimento de salvaguarda dos artistas nesse momento de pandemia. Isso vai na contramão e vemos com muita tristeza e preocupação”, afirma. 

Para os movimentos culturais da cidade, a decisão da prefeitura de Teresina faz puxar mais um gatilho de bala para matar mais jovens, porque a educação e cultura é o que constrói uma nova realidade. Teresina parece estar sendo gerida por vários gestores antiquados que precisam passar por um processo de reciclagem, filhos de uma velha política que nem tem mais espaço no mundo contemporâneo e digitalizado. Estamos à beira de um colapso social na capital e a arte, que tem mostrado novos rumos de tentar passar por esse momento, tem duramente sido atacada. É mais que uma notícia triste para a cultura de Teresina. É uma tentativa de assassinato a cultura piauiense, pois cada projeto mencionado tem um história de mudança social na capital de Teresina e que contribuiu para que jovens e adolescentes não entrem na marginalidade. 

BALÉ DA CIDADE HÁ 27 ANOS MOVIMENTA A CENA CULTURAL DE TERESINA

A Companhia sempre se mostrou disponível e buscou diálogo com as instituições, estreitando laços e buscando parcerias para levar produções para todas as zonas da cidade. O momento em que vivemos, devido a pandemia de Covid-19, não está sendo fácil para nenhum setor. Os artistas estão entre as classes que mais sofreram e sofrem o impacto pela suspensão de encontros presenciais. 

Foto Balé da Cidade

Além disso, existe também o impacto simbólico de deixar de investir na Companhia, um bem imaterial da cultura de Teresina, premiada e reconhecida internacionalmente, a única companhia profissional na cidade, que com seu funcionamento gera trabalho para outros artistas, técnicos, fotógrafos, assessores de imprensa, professores de dança, coreógrafos, além de promover ações de democratização do acesso à dança.

Mesmo com a pandemia e as limitações que ela trouxe, o Balé da Cidade de Teresina se reinventou e continuou produzindo. Nesse um ano de isolamento social, a Companhia abriu suas aulas para o público, conversou sobre dança e fazer artístico através de lives, estreou o espetáculo “Morada” e a intervenção artística “Comensura”, seguiu com aulas, realizou parceria com a FMC para aulas compartilhadas com os Instrutores de dança da Fundação, estreou a série documental “Como Ensaiamos?” e lançou o projeto de oficinas gratuitas “Fora da Caixa”. Foi um ano intenso e criativo.

O convênio do Balé da Cidade de Teresina era feito através da Associação dos Amigos do Balé da Cidade de Teresina (AABCT), que sempre prestou contas e tratou de forma transparente os gastos e ações realizados pela Companhia. Somos contra qualquer tipo de ataque pessoal e seguimos firmes no propósito de valorização do fazer artístico e do reconhecimento do bailarino como profissional.

O Balé da Cidade de Teresina é uma companhia pública de Dança Contemporânea que atua há 27 anos no cenário artístico local e nacional, contribuindo com o desenvolvimento e aprofundamento da dança piauiense. Atua na aproximação da dança da cidade através da sua atuação compromissada em diferentes ações, como temporadas de apresentações gratuitas, conversas e formação continuada. A Companhia conta com 18 integrantes.

Quais serão os rumos culturais de Teresina ? Porque apagar a  história da cultura teresinense? Qual a importância da cultura na pandemia e quais impactos teremos com essa tomada de decisão radical? São uma das indagações dos artistas e população teresinenese.

Reportagem coletiva: Maria Luisa Mendes e Luan Matheus Santana

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