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A greve da UESPI e o “calcanhar de Aquiles” do Governador Rafael Fonteles (PT)

De prodígio da matemática a um dos barões da educação privada do Piauí. De Secretário da Fazenda ao cargo político mais alto do Estado. Rafael Fonteles, diferente dos principais quadros do Partido dos Trabalhadores (PT) no estado (a exemplo da ex. Governadora Regina Sousa, do atual Ministro do Desenvolvimento Wellington Dias e do próprio pai Nazareno Fonteles), não vem de uma base social vinculada aos movimentos sociais ou sindicais. Esteve, em boa parte da sua vida, do lado oposto, o dos patrões. Apesar disso, entrou na política partidária pela porta da frente do PT. Filho de um dos fundadores do partido no Piauí, iniciou a carreira política em 2015, quando foi alçado ao cargo de Secretário da Fazenda pelo então Governador Wellington Dias. Sete anos depois, disputando uma eleição pela primeira vez, foi eleito Governador do Piauí, com mais de 57% dos votos válidos. 

Midiático, o governador é daqueles adeptos às trends e modinhas da internet. Mas nem sempre foi assim. Antes da carreira política, não se via muito dele nas redes e plataformas digitais. Ainda em 2021, o PT assumiu o compromisso de projetar a imagem de Rafael nas redes sociais, mirando as eleições de 2022. A estratégia de marketing funcionou durante a campanha e após a eleição.

Seu perfil no instagram mais que triplicou em pouco mais de um ano, passando de 60 mil seguidores em setembro de 2022 (durante a campanha eleitoral) para 204 mil em fevereiro de 2024. Seus seguidores são engajados e não poupam elogios às ações instagramáveis. Em pouco mais de um ano à frente do executivo estadual, Rafael encontrou um cenário confortável nas redes sociais, poucos obstáculos políticos e uma oposição muito fragilizada. Agrada não só os gregos (petistas), mas também os troianos (bolsonaristas).

Prints do perfil do Governador Rafael (PT) no instagram para demonstrar o crescimento na rede social.

O fenômeno dos “políticos influencers” parece crescer no Brasil da mesma forma que cresce a desinformação, as distorções e as informações fora de contexto, para caber nos 60 segundos de um vídeo no reels do instagram ou no tik tok.  As redes sociais, aos poucos, criaram novos palanques políticos que mudaram a relação entre os cidadãos/eleitores, parlamentares e gestores públicos. No congresso nacional, a “bancada da selfie” ou “bancada do YouTube” é exemplo desse fenômeno, que estimula um novo e controverso modelo de legislar pautado em impulsionamentos, na super exposição, no clamor da internet e na aposta das bolhas que limitam a capacidade analítica da realidade.

Ao que parece, essa também tem sido a aposta do Governador Rafael Fonteles (PT). Uma equipe jovem por trás das suas redes sociais têm conseguido construir a imagem de um gestor público que trabalha, brinca, faz trend e corridinhas para inaugurar obras. Bem avaliado em pesquisas, a imagem simpática e atenciosa tem surtido os efeitos esperados. Neste editorial não entramos no mérito das ações, mas na forma como elas são apresentadas nas redes sociais e na forma como elas têm atuado para a construção de um ambiente muito confortável para o governador. Isso, até o dia 02 de janeiro de 2024. 

Nesta data, teve início a greve dos/as docentes da Universidade Estadual do Piauí (UESPI). Tida por sindicalistas como a maior greve que a categoria já realizou em mais de 30 anos de história da universidade, com adesão em 100% dos campi. Foi a deflagração da greve de docentes que, de forma organizada ou espontânea, representou o primeiro movimento coletivo no Estado do Piauí a questionar “massivamente”, a imagem do Governador construída nas redes sociais. Uma pedra no sapato. Seria um calcanhar de Aquiles do Governador?

Para a mitologia grega, Aquiles se tornou imortal após ter banhado no Rio Estige. Porém, sem molhar o calcanhar, este tornou-se seu ponto fraco. Assim como Aquiles, na política não há imortais. Apesar disso, parece inquestionável que a imagem do governador na internet se apresenta como um ponto forte do seu governo que, por consequência, também é um ponto fraco quando questionado e/ou desmontado por outros discursos, como aconteceu na greve da UESPI.

A imagem do governador instagramável, simpático e brincalhão foi substituída pelo governador autoritário e intransigente, que não dialoga com servidores públicos (docentes tentaram diálogo durante todo o ano de 2023) e tenta intervir na universidade pública, modificar sua estrutura sem nenhum diálogo com a comunidade acadêmica (como fez com o PL 09/2023, que tentou alterar Plano de Cargos e Carreiras e Remuneração dos/das docentes da UESPI). 

A imagem do governador que trabalha e valoriza quem trabalha foi substituída pela imagem do patrão que arrocha salários, bate na mesa e persegue trabalhadores e trabalhadoras (como aconteceu com o corte de salários de 63 professores da UESPI). 

Além disso, a imagem do governador intelectual e rodeado de uma equipe extremamente técnica e que pouco erra (formada por juiz do trabalho, advogados de carreira, auditor fiscal, cientista político, etc. – também conhecidos como os “rafaboys” e ‘angloboys”) foi duramente afetada com perdas consecutivas no dissídio coletivo de greve. Advogados trabalhistas de todo o Brasil se surpreenderam com as reviravoltas dessa disputa jurídica, que conseguiu reverter uma decisão de ilegalidade de greve (como raramente se viu em casos similares); reverter medidas retaliativas de cortes de salários (como aconteceu em janeiro com 63 docentes); e ainda levar um dissídio para uma mesa de conciliação junto ao Poder Judiciário.

Interlocutores do governo e pessoas de dentro do Palácio de Karnak chegaram a confirmar o descontentamento do governo diante desse cenário que, pela primeira vez desde a eleição, se apresenta de modo negativo nas redes sociais. O que já tem respingado, inclusive, na candidatura petista ao Palácio da Cidade, com Fábio Novo. Nas redes sociais do pré-candidato à prefeitura de Teresina, que também é líder do Governo da  ALEPI, as criticas e questionamentos de estudantes e professores em greve têm sido comuns. 

Seja no perfil do Governador ou no perfil do próprio sindicato que representa a categoria, o cenário é um só. No perfil do Instagram da ADCESP (seção sindical dos docentes da UESPI) foram mais de 130 mil contas alcançadas durante os meses de greve, contrapondo a narrativa  oficial e atribuindo a culpa da greve ao Governador. Além das redes sociais, essa imagem também foi contraposta em notas e denúncias feitas nas redes de TV.

A greve dos/as docentes da UESPI, mais que atingir o calcanhar de Aquiles do governador, expõe uma face escondida do governo: aquela que é autoritária, intransigente, privatista e que vai na contramão da defesa dos direitos dos trabalhadores (contrariando até mesmo a base ideológica que fundou o partido do qual é filiado e representa, o Partido dos Trabalhadores/PT).

Talvez esse nem seja o ponto mais frágil da gestão de Rafael Fonteles, mas chama atenção pela forma com o petista reagiu ao movimento de greve e pela repercussão nas redes sociais e meios de comunicação. O desfecho dessa luta política será histórico e deve marcar o cenário da luta por direitos da classe trabalhadora do Piauí.

Comments (6)

  • CIRINEU LEMOS LINHARESsays:

    28 de fevereiro de 2024 at 4:43 PM

    Tornou-se um usurpador, um verdadeiro RAFAEL MILLEI!. SEM CONTAR OS DESATINOS DE TRANSFORMAR A UNIVERSIDADE EM ESCOLÃO. SEM PESQUISA, EXTENSÃO, FECHAMENTO DE CURSOS, FALTA DE RU, INCLUSÃO E ACESSIBILIDADE. ESTOU EXTREMAMENTE DECEPCIONADO COM SUA POSTURA. NÃO HONRA O PT DE JOSÉ DE RIBAMAR E LULA……

  • Jean Carlossays:

    28 de fevereiro de 2024 at 5:54 PM

    Texto sóbrio e contundente. Fonteles passa ao largo das lutas populares. Ele não é disso e, talvez, nem se interesse por isso. Fonteles é apenas um forasteiro dentro do PT Piauí, um hospedeiro que suga a imagem do partido diante da classe trabalhadora.

  • Flavianosays:

    28 de fevereiro de 2024 at 7:04 PM

    Longe de ser apenas um menino mimado. É um gestor rancoroso, autoritário e intransigente com inteligência.
    Rafael Fonteles é a encarnação de um soldado de Hitler.

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