Por Gabriel Martins (Maio de 2021)
Os conflitos no Oriente Médio se revertem de um caráter complexo para os moradores do Ocidente. Sempre com um discurso de árabes terroristas ou, quando aparecem as imagens de crianças mortas, um discurso de que onde há religião há conflito, a mídia ocidental segue mostrando informações que nos colocam em uma situação de não ter opinião, de não entender o que está acontecendo. Este é o pensamento de grande parte das pessoas que acompanham o conflito Israel x Palestina pelos telejornais. Noticiam que o grupo “terrorista” Hamas, sem ver nem pra quê, lançou foguetes sobre Israel que, por sua vez, usou o seu “direito de autodefesa” e bombardeou a Faixa de Gaza com seus aviões F-35 e pilotos treinados nos Estados Unidos.
Dessa vez, contudo, as imagens que vieram da Palestina deixaram difícil para os defensores do “direito de autodefesa de Israel” sustentar que aquilo não é um massacre feito por um exército que recebe 8 bilhões de dólares por ano como mesada dos EUA contra um exército inferior mas que também tem armas e não se entrega.
O assunto não se esgotará. Sem embargos, para avançarmos é preciso acabar de vez com o discurso hegemônico de que este é um assunto complexo ou de que os dois lados estão errados, e, assim, chamar todas as pessoas a denunciarem os horrores da guerra, que só se encerrará quando os sionistas puserem fim ao apartheid do povo palestino. O fim da guerra só será possível com uma Palestina livre.
É neste sentido que segue a nossa contribuição para uma introdução ao tema.
Os judeus sempre viveram em diáspora e sofrendo perseguição nos seus países. Eles tinham nacionalidade, Freud, por exemplo, vinha de uma família judaica natural da Áustria, eram judeus austríacos, e, mesmo sendo ateu, foi perseguido na academia médica por ser descendente de judeus levando muitos anos para alcançar postos que os não-judeus alcançavam de maneira mais fácil. Havia, contudo, judeus em vários países da Europa, eles eram cidadãos daqueles países e sofriam preconceito na sociedade por serem judeus. Nessa época surgiu o movimento sionista que era formado por judeus que reivindicavam a criação de um Estado judeu. Um Estado que fosse dos judeus, onde eles pudessem fazer a lei, ser o governo e a sociedade, viver sem serem perseguidos e assassinados por causa da sua religião.
Com o recrudescimento da perseguição na Europa, milhares de judeus foram obrigados a emigrar e partiram em diáspora para a Palestina, que sempre recebeu judeus refugiados, já que é considerada uma terra sagrada para cristãos, judeus e muçulmanos. No final da Segunda Guerra Mundial a população de judeus na Palestina saltou de 11% para 30%. No início, eles compraram terras e viviam em comunidades judias dentro da Palestina, que, por sua vez, possuía maioria muçulmana convivendo com cristãos e judeus.
Nessa época a Palestina era controlada pela Inglaterra. O movimento sionista reivindicava do governo inglês a criação de um Estado nacional judeu. Os sionistas não queriam ser uma comunidade judia na Palestina. Eles queriam ser o Estado. Queriam criar o Estado de Israel no território palestino. A Inglaterra foi embora (entregando as suas armas nas mãos dos sionistas que os ajudaram na invasão da região) e deixou o problema da criação de um Estado para a ONU resolver. A ONU dividiu a Palestina e criou o Estado de Israel em 1948, que seria o Estado dos judeus, sendo Jerusalém uma cidade internacional podendo ser frequentada por israelenses e palestinos.
Na divisão, Israel ficou com 56% do território e a Palestina com 44%. No Estado Árabe deveriam viver 818 mil palestinos e 10 mil judeus, enquanto que em Israel deveriam viver 438 mil palestinos e 499 mil judeus. Ou seja, os judeus eram cerca de 1/3 da população e ficaram com mais da metade do território, e o seu Estado já nasceu com metade da população sendo palestinos.
Desde essa época os sionistas, que tem um exército bem mais forte e moderno, vêm expandindo o território de Israel sobre o território palestino através de guerras. Eles querem controlar totalmente Jerusalém expulsando de vez os muçulmanos da região. Eles não se contentaram com o limite territorial que a ONU traçou e seguiram expandindo a fronteira por meio da guerra, também não aceitam que palestinos vivam em seu território. Os sionistas se acham uma “raça” sagrada, e com o direito de expulsarem os mulçumanos da região.
Israel é infinitas vezes superior aos palestinos na questão militar. Possui exército, marinha e aeronáutica, com tecnologia nuclear, recebem treinamento e armas sofisticadas dos Estados Unidos. Os palestinos, por sua vez, possuem o Hamas e a Jihad Islâmica com armas menos modernas. Um verdadeiro Davi contra Golias, mas que lhes permitem resistir e também atacar os sionistas.
O Hamas, entretanto, vem aumentando o seu poder de fogo, possuindo mísseis de longo alcance que podem causar muito estrago em Israel. Esse, inclusive, foi um dos motivos que levou Israel a declarar o último cessar-fogo depois de bombardear a Faixa de Gaza por 11 dias, matando 248 pessoas, entre elas 66 crianças e 39 mulheres palestinas.
É uma guerra, e em uma guerra mesmo os vencedores saem perdendo. Apenas a paz interessa ao mundo, e esta só pode ser alcançada se os sionistas puserem fim ao sofrimento que impingem aos palestinos na região.
O cenário hoje é de completo apartheid social, com Israel controlando a água, energia e entrada de alimentos na Faixa de Gaza, um lugar densamente povoado e com o maior índice de desemprego do mundo. As forças policiais impedem a circulação dos muçulmanos pelo território, exigindo deles que tenham passaporte israelense para ficarem em Jerusalém, local onde sempre viveram e onde está a mesquita de Al-Aqsa, o terceiro lugar mais sagrado do Islã.
Polícia israelense expulsando palestinos que se reunião no pátio da mesquita de Al-Aqsa para rezar após a declaração do cessar-fogo, maio 2021.
A polícia de Israel promove o terror em Jerusalém. Constantemente impedem que os palestinos rezem nas mesquitas, expulsam os palestinos de suas casas e colocam judeus sionistas, chamados de colonos, para morarem nelas, boicotam a atividade econômica dos palestinos, orientando turistas a não comprarem nas suas vendas ou mesmo tornando o local onde estão os palestinos perigosos para que as pessoas não se sintam estimuladas a frequentar.
Os palestinos vivem perseguidos e humilhados na sua própria terra. A polícia de Israel e as milícias de colonos são os responsáveis pela perseguição em Jerusalém. A Faixa de Gaza hoje é um grande campo de concentração no qual Israel permite apenas a entrada de insumos básicos para eles sobreviverem.
Nessa última batalha o mundo viu que os sionistas não estão se defendendo. Estão atacando, matando crianças e mulheres, promovendo o extermínio da população Palestina. E mostrou que o povo da Palestina aceita o Hamas como seu exército de defesa.
A luta dos palestinos é uma luta humanitária que deve ser defendida por todas as pessoas do planeta. A repercussão que o extermínio do povo palestino está tendo no mundo foi fundamental para que Israel declarasse um cessar-fogo na última batalha, por isso é importante que todos permaneçam atentos à perseguição sionista e exige que acabe. É inaceitável que o mundo presencie calado o apartheid que os sionistas, com todo o apoio do governo dos Estados Unidos e dos capitalistas que controlam a mídia, promovem na Palestina.
Por último, vale frisar que não há que se falar em antissemitismo, mas sim em antissionismo. São os sionistas que promovem o apartheid na Palestina e só com uma Palestina livre é possível que a guerra acabe.
Por Gabriel Martins (Maio de 2021)
Comments (1)
willyames roberto martins santossays:
5 de junho de 2021 at 6:21 PMMuito esclarecedor essa materia sobre a questão do conflito entre Palestina e Israel. Israel está expulsando os palestinos de seu proprio territorio de origem. Um país dentro de outro país, essa chama so vai acabar qdo os poderosos (que apoiam Israel) tomarem de vez o territorio palestino, beneficiando Israel, o que é injusto.