Se a contaminação da água do Rio Parnaíba por coliformes fecais (conforme identificado no levantamento realizado pela Ong Repórter Brasil, publicado em março desde ano) já causou indignação, imagina saber que existe também Amônia e Cromo na água do rio que abastece aproximadamente um milhão mil pessoas na região da Grande Teresina.
As substâncias encontradas constam na pesquisa do Gestor Ambiental e Mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente, Jorge Silva, que é professor do Instituto Federal do Piauí (IFPI). Os dados são parte da sua pesquisa de doutorado sobre a qualidade da água do Rio Parnaíba na capital e os impactos provenientes da poluição para a saúde humana e vidas aquáticas. Ao percorrer o curso do rio na zona urbana, o pesquisador contabilizou inúmeros esgotos clandestinos, in natura, com resíduos contaminantes variados, inclusive industriais. Segundo ele, tudo que viu e estudou, faz acreditar que existem outras substancias perigosas na água.
“Coleto água em diversos pontos do rio Parnaíba, dentre esses, coleto a água que sai da ETE – Estação de Tratamento de Esgoto. Nesse ponto, que sai efluentes de esgoto tratado, possui ainda muita amônia. A Amônia e o Cromo que encontrei nos outros pontos são de diversas fontes”, explica o professor. Essa descoberta liga uma sinal de alerta, já que o esgoto tratado que volta aos rios não deveria conter grandes concentrações desses metais pesados, como identificado na pequisa, uma vez que eles podem gerar graves problemas de saúde.
Os resultados não poderiam ser diferentes quando se confronta com o último diagnóstico da Agencia Nacional de Águas – ANA, sobre Saneamento Básico, que revela um quadro assustador em todo o País. Em Teresina, segundo os dados, somente 28% da população têm acesso a esgoto coletado e tratado. Apenas 44% dispõem de fossas sépticas e 37% da população não dispõe de coleta e tratamento de esgotos.
Em nota, a Águas de Teresina informou que a qualidade da água tratada e distribuída aos teresinenses atende integralmente aos padrões estabelecidos pelo Ministério da Saúde e que realiza mais de 120 mil análises anualmente para garantir a qualidade da água que chega às residências da zona urbana da capital (Nota na íntegra no final da reportagem)
A contaminação por cromo e amônia coloca em risco a saúde dos moradores visto que esses metais pesados causam inúmeros problemas de saúde, inclusive o câncer. Segundo a Hematologista Marcinda Araújo, infelizmente não se tem noção sobre os contaminantes existentes na água tratada. “Tem resíduos de agrotóxicos? Micro plástico? resíduos químicos e tantos outros? Claro que tem, entretanto, não se tem acesso às análises realizadas pelas concessionárias Águas de Teresina”, diz à médica que já tentou na empresa as informações nesse sentido e foi contida por barreira burocrática quase intransponível. “Quando se é cliente e paga uma taxa de esgoto cara, o mínimo que se espera da concessionária é que saibamos o que estamos bebendo”, pontua e acrescenta, “’quem não sabe, é como quem não vê”.
Em março deste ano, mostramos aqui no Ocorre Diário uma denúncia de aparecimento de manchas de óleo nas águas do Rio Parnaíba, próximo ao Iate Clube de Teresina. Segundo as pessoas que vivem na região é comum o despejo de óleo no rio, que vem principalmente pelo bueiro que fica na região.
Apesar das evidencias, os indicadores ambientais do rio resistem. Segundo Jorge Silva o sua capacidade de resiliência anima. “O rio ainda tem indicadores de qualidade ambiental positivo como boa vazão, em vários pontos possibilita o exercício de atividades que geram emprego e renda sem riscos”, diz o pesquisador que está limitado a dar continuidade a pesquisa por falta de uma bolsa de estudos que lhe possibilitaria ampliar a pesquisa, embora não tenha desistido de tentar conseguir os recursos para aumentar a pesquisa.
Nota, na íntegra, da Águas de Teresina
A qualidade da água tratada e distribuída aos teresinenses atende integralmente aos padrões estabelecidos pelo Ministério da Saúde. Quanto às informações sinalizadas pela reportagem, a Águas de Teresina pontua que o estudo científico em questão compreende água in natura do rio Parnaíba, que é diferente da água tratada pela concessionária. Mais de 120 mil análises são realizadas anualmente pela empresa, em laboratório próprio e terceiro certificados, garantindo a qualidade da água que chega às residências da zona urbana da capital. Além disso, publica em seu site e distribui aos clientes relatório anual sobre a qualidade da água, destacando os principais parâmetros de potabilidade.
A concessionária destaca ainda que a cobertura de esgoto mais que dobrou em quase cinco anos de atuação, alcançando os atuais 40%, devendo avançar para 67% até 2025, com universalização em 2033. Todo o esgoto coletado é tratado, passando por rigoroso processo até ser devolvido adequadamente ao rio Paranaíba, conforme legislação ambiental em vigor.
A fiscalização ambiental é de responsabilidade dos órgãos competentes. Em colaboração aos esforços de preservação do meio ambiente, a Águas de Teresina mantém parceria com a Secretaria Estadual de Meio Ambiente na busca ativa de pontos de lançamentos irregulares.
Quando divulgado o levantamento da Repórter Brasil, a empresa Água de Teresina se posicionou em nota assegurando que a água distribuída para a população é segura e não gera nenhum perigo à saúde humana. Segue a nota publicada na imprensa.
“A Águas de Teresina destaca que realiza monitoramento constante da qualidade da água que é distribuída na casa dos teresinenses”. Por ano, são realizadas mais de 120 mil análises para o controle dessa qualidade, a partir de coletas realizadas em 120 regiões estratégicas da cidade, a partir dos Pontos de Controle de Qualidade (PCQs). Além disso, a empresa contrata semestralmente um laboratório externo para atestar os resultados. O mais recente relatório de ensaio, emitido em setembro de 2021, atestou que a água distribuída aos teresinenses atende aos padrões de potabilidade estabelecidos pelo Ministério da Saúde. Portanto, o dado indicado em reportagem do portal Uol, referente a estudos entre 2018 e 2020, não condiz com informações atuais sobre a qualidade da água na zona urbana de Teresina. Dos 1.066 testes feitos naquele estudo, menos de 0,1% difere dos resultados analisados recentemente. A Águas de Teresina reforça que a água distribuída na cidade é própria para o consumo e não gera nenhum risco à saúde das pessoas”. (10.03.2022)
Reportagem: Tânia Martins | Edição: Luan Matheus Santana
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