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"Ao que não se vê com olhos", por Adda Lygia

Nessa semana estamos celebrando e reivindicando a visibilidade trans, em um país que carrega o triste de título de ser o que mais mata pessoas trans no mundo. Por visibilidade e respeito, esperamos que um dia nada nos defina e nada nos sujeite. Confira o texto dessa trans que é um estouro, Adda Lygia:

Agora nesse exato momento, quantas pessoas trans existem perto de você?

Pare um pouco e olhe a sua volta. Se viu alguma abra um sorriso e caminhe em direção a ela e lhe oferte um abraço. Poético.

Penso eu por minha triste experiência de vida que a maior parte das pessoas que estarão lendo este texto agora não poderá abrir um sorriso e ofertar abraços. Existe um abismo entre uma pessoa trans e uma pessoas CIS (cisgênero pessoas que se reconhecem com a atribuição identitária-biológica ao nasce) o tamanho da dimensão desse abismo quem da somos nós.

Adda Lygia Rissope, teórica da sexualidade identitária

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Vamos lá nessa caminhada, ver no que dá!? Convido-te a pensar junto comigo.

Quantas pessoas trans fizeram parte de sua vida da infância, até agora?

Quantas pessoas trans estudaram com você? Você teve algum professor ou professora trans?

Existem pessoas trans em sua família? Ou pessoas trans que casaram ou se relacionam com seus familiares?

Quantos de seus amigos mais próximos são pessoas trans?

Você já se relacionou (envolvimento afetivo sexual que não seja em um quarto escuro na clandestinidade) com uma mulher trans?

Se para todas essas perguntas sua resposta foi não. Lamento. Preciso lhe dizer que pessoas trans existem e não habitam sua vida e nem você a vida delas. Mas uma chance…

Você já viu pessoas trans nas esquinas a noite em avenidas semi desertas?

Você já viu pessoas trans em reportagens policiais onde se tem um imenso vexame e se refere a elas usando pronomes masculinos abertamente?

Você já riu de memes ou programas de TV que mostram pessoas trans cômicas e escandalosas?

Você já viu enunciado que fala que uma travesti foi esfaqueada por roubar à noite no centro da cidade?

Se suas respostas foram sim, sinto em lamentar. Existe um abismo entre você e nós, sim eu sou uma mulher trans. Na minha analise todas essas violências ligadas ao não reconhecimento afetivo social de pessoas trans em geral. É criado pela distância que nós resolvemos estabelecer ente pessoas trans em nossa vida. Antes de desejar feliz dia da visibilidade trans (dia 29 de janeiro) vamos fazer os dois exercícios acima. Depois nos dêem empregos, escolas, faculdades, cursos profissionalizantes e nos dêem amor. Sim, amor mesmo beijo de língua, mãos dadas no cinema e jantares em família. Isso tudo cria mecanismo de vida e findam o excludente que hoje mata tantas mulheres trans antes dos 35 anos de vida. O que vamos fazer com a compreensão que estamos construindo a partir de agora? Como usar nossos privilégios (de não ter a identidade negada e ser reconhecido pela mesma) como usar algo que é tão comum para  disponibilizar mecanismos de reconhecimento para quem tanto precisa?

Quantas travesti nos matamos por às colocar na clandestinidade. Todos os dias eu mesma sou acessada por pessoas do mundo todo. A maior parte deles são homens adultos e com algum nível de instrução. Alguns casados. Outros que se envolvem com pessoas trans na clandestinidade ao longo de suas vidas. Por que a aproximação que temos com pessoas trans sempre é marcada pelo escuro. Pela penumbra que cobre o rosto delas de violência e preconceito?

Você mulher, Já se perguntou quantas mulheres trans antes de você seu namorado assumiu e beijou?(não esqueça de pensar em que circunstância foi o beijo) kkkkkk. Bem, já chega.

 Até a próxima. Todas as pessoas deveriam se lembrar do dia de hoje. Sim, eu também me incluo. O dia de hoje deve ser de festa de alegria para todas as pessoas trans do Brasil e mundo. Por todos os seus sorrisos e sonhos de uma vida que deve ter continuidade até a velhice. Que todas as pessoas trans envelheçam sorrindo e lembrando de um monte de gente que fez faz e continua fazendo parte de suas vidas assim como você que me lê agora. Um grande beijo.

Uma parte de mim ri, a outra ainda voa. A maior delas devolvi pro mar, o que sobrou me fiz poema.

Adda Lygia Rissope, teórica da sexualidade identitária

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