Mostramos aqui no Ocorre Diário, através da Frente Popular de Mulheres contra o Feminicídio, o caso do desaparecimento de Renata Costa, de 29 anos. A jovem, de Nazaré do Piauí, estava desaparecida há quase 3 meses e a família em desespero, sem respostas. Foi assim por longos 84 dias, onde o movimento de mulheres foi incansável na busca por solução.
A expetativa era que Renata não aumentasse a triste estatística do Feminicídio no Piauí, que nos últimos 5 anos já matou 112 mulheres em nosso estado. Mas infelizmente não foi o que aconteceu. A Frente Popular de Mulheres contra o Feminicídio emitiu uma nota de solidariedade e denúncia, que compartilhamos abaixo, na integra.
Cadê a Renata? Essa pergunta diz muito dos nossos sonhos. Nós, mulheres, lutamos e sonhamos. Velaremos os nossos sonhos e os da Renata; eles alimentam a nossa luta contra o machismo e o feminicídio
A Frente Popular de Mulheres contra o Feminicídio, com tristeza e indignação tomou conhecimento, nas primeiras horas do dia 24 de março de 2021 que, o corpo da RENATA PEREIRA DA COSTA (PRESENTE!!!) foi encontrado e que o principal suspeito, seu ex-marido, Francisco da Chagas Pereira, foi preso.
Abraçamos a família da Renata, mãe, filha, filho, irmã, irmã, irmão,, tias, tios, primas, primos, amigas, amigos que vivem esse momento de profunda dor pela mesma razão que tantas outras famílias vivem ou já viveram: a da Iones Sousa, nossa companheira, assassinada em janeiro de 2013 é um exemplo da justiça que não chega, é um caso simbólico para representar a dor que sentimos.
Perguntamos ao longo de 84 dias: Cadê a Renata? Nessa pergunta havia a esperança de que a qualquer momento nossas suspeitas pudessem ser contrariadas, apesar de termos, ao mesmo tempo, insistido em afirmar que as evidências levavam a mais um feminicídio e que o seu exmarido, garboso, influente e violento, seria o responsável pelo desaparecimento da Renata. A notícia de elucidação do crime, de modo algum, nos conforta. Seja pela demora ou pela forma como foi conduzido.
Nos coloca em situação de prontidão, inquietas, desafiadas, mas ainda com mais forças e, sem arredar nenhum passo, exigir dos poderes públicos que nos protejam em nossas vidas, em nossos direitos. Cobrar que os processos investigativos se movimentem em dinâmicas que deem maior atenção às violências e opressões reclamadas pelas mulheres agredidas, pelas vítimas. Se no caso da Renata isto tivesse acontecido, não teríamos precisado viver quase 90 dias de buscas, em meio a uma pandemia que mata muito mais a nós mulheres, negras, empobrecidas pelo sistema capitalista que naturaliza a nossa morte e violências consentidas.
Exigimos proteção à vida e aos Direitos das Mulheres
Queremos agradecer todo o apoio recebido, de todas as formas, seja de outras outras Organizações Sociais, de Mulheres, Sindicais, Populares, de pessoas que vieram e se juntaram a nós, voluntariamente, jornalistas e meios de comunicação que pautaram o desaparecimento da Renata, militantes da redes sociais que não se cansaram em repetir: Cadê a Renata?
Agradecer de modo especial, a Vice-Governadora, Regina Sousa, mulher, negra, oriunda das quebradeiras de coco e que certamente ensinou aos homens brancos, que quando a “Tia do Cafezinho” é levada a um espaço de poder e sabe muito bem o que quer e o que vai escrever, conseguir fazer a diferença.
No caso da Renata, cai muito bem o exemplo da importância do diálogo construído entre o Movimento de Mulheres e os espaços de poder constituídos. Da mesma forma, agradecemos a participação e empenho da Coordenadoria Estadual de Políticas Públicas para as Mulheres, da Defensoria Pública do Estado do Piauí, do Ministério Público e demais órgãos públicos, resultado das nossas lutas, que precisam ser valorizadas e fortalecidas, de forma que possam responder às demandas sociais.
Tal qual a nossa aguerrida Doutora Esperança Garcia, primeira Advogada do Brasil e da terra da Renata, continuamos exigindo que as instâncias competentes funcionem. Pagamos muito caro para isso e não pedimos, exigimos liberdade, respeito, direitos, vida, amor e dignidade. Ao aprovar uma lei, o Poder Legislativo se faça comprometido com a vida; Ao promover a vida, o Poder Executivo se faça competente; Ao julgar um crime, o Poder Judiciário se faça justo.
E que todo o poder constituído, de fato, seja competente para garantir a vida e os direitos das mulheres. Quando exigimos punidade a homens violentos, não é porque nosso objetivo final seja apenas a punição, mas porque a sociedade e os homens em seus ímpetos de dominar, conter, aprisionar, espancar, matar, sejam lembrados que há vigilância ao cumprimento das regras que orientam as relações sociais, lembrando que há limites para as condutas de maridos, namorados, parceiros, homens e mulheres.
Esse limite é o do respeito à vida, à liberdade e à dignidade;
VAMOS VELAR A PRESENÇA DA RENATA. Não o seu corpo assassinado, interrompido, violentado em plena juventude, mas os seus sonhos de viver, criar seus filhos, continuar trabalhando e construindo a vida e ser livre e feliz. Especialmente hoje, 25 de março de 2021, um dia após a nossa luta revelar o feminicida da Renata, estamos lançando a Campanha Nacional do Levante Feminista Contra o Feminicídio. Todas as pessoas que lutam conosco, precisam fortalecer essa luta, pela vida das mulheres, pela nossas vidas. Quem mata uma mulher, mata a humanidade.
Renata Pereira da Costa, Presente! Iones Sousa, Presente! Marielle Franco, Presente!
Frente Popular de Mulheres Contra o Feminicídio, juntas na Campanha do Levante Feminista Contra o Feminicídio.
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