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“Árvore que Arranha”: exposição refloresta a história do Piauí com memórias do imaginário popular

O que as carnaúbas têm a nos dizer sobre a história do Piauí? Pelo senso comum e a historiografia oficial, nada. Mas, pelo olhar do fotógrafo e artista Maurício Pokemon, algumas delas são testemunhas oculares e tem muito a revelar sobre a Batalha do Jenipapo, fato histórico que marcou a independência do Piauí. Dessa inquietação, nasce “Árvore que Arranha”, um projeto de exposição fotográfica que traz uma profunda reflexão sobre a memória histórica e biomas nordestinos, colocando em foco a carnaúba, árvore emblemática do semiárido, que simboliza vida e resistência. 

A árvore, cuja madeira e palha são usadas por gerações, serve como metáfora para a resistência e o enraizamento das memórias locais. O projeto nasce a partir da escuta de diferentes vozes que preservam modos de vida tradicionais, em biointeração com os cocais. “Árvore que Arranha” não é apenas um projeto artístico, mas um convite ao público para refletir sobre a história viva e plural do Piauí.

“Referenciei e guiei a pesquisa inicialmente a partir das provocações do tradutor quilombola Antônio Bispo dos Santos (Nego Bispo), o qual convidei para colaborar diretamente na etapa inaugural da pesquisa em território em 2021, e juntos percorremos alguns trechos da Caatinga conversando com pessoas em diferentes comunidades e esgarçando reflexões pelo caminho. A partir dele, confluenciei com a professora, escritora, socioambientalista Maria Sueli, que trouxe outras ampliações de entendimento nessa trajetória”, afirma.

“Passei a imaginar como a gente poderia regenerar essa narrativa a Batalha do Jenipapo, quais novas memórias, imagens, poderiam compor esse marco”, nos traz Pokémon, recontextualizando o papel histórico e simbólico da árvore que arranha, a carnaúba, por meio das pessoas que vivem há gerações em territórios (Parnaíba, Campo Maior e Oeiras) ligados à insurgência.

Mais recentemente, Árvore que Arranha foi contemplado pelo Programa Funarte Retomada 2023 – Artes Visuais, e com este fomento estão sendo viabilizadas novas etapas.

Em vez de ser apenas um pano de fundo para eventos humanos, a palmeira é trazida ao protagonismo como testemunha viva da história, representando a luta cotidiana das comunidades locais. “Quando a gente vê essas pinturas e representações da Batalha do Jenipapo, as carnaúbas estão sempre atrás, como cenário da batalha. A minha sensação é que esse trabalho põe as carnaúbas na frente”, afirma Maurício Pokémon. 

A criação a partir dessas vivências e imagens vem acontecendo entre as viagens e a maturação em estúdio, no CAMPO arte/Teresina, onde Maurício reside. Em breve, na primeira quinzena de dezembro, Árvore que Arranha abre ao público sua materialização, festejando a história, a memória e as vidas da região. 

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