Em 1800, a história de massacre e expulsão aos povos originários já era antiga, datada desde a chegada dos portugueses em 1500. Diversas tribos indígenas, que já sofriam com séculos de extermínio ou haviam sido expulsos de seus territórios, também se uniram na Guerra da Independência do Brasil. É o que conta a Batalha do Jenipapo, ocorrida em 23 de março de 1823 e que juntou o povo Tabajara nas trincheiras da guerra contra os portugueses.
Invisibilizado pela história única, que traz o mês de setembro como o marco da independência brasileira às margens do Riacho Ipiranga, em São Paulo, o dia 13 de março relembra a história de uma outra luta às margens do Rio Jenipapo. Ocorrida em 1823 na Vila de Campo Maior, hoje município de Campo Maior (PI), a Batalha foi um dos confrontos mais sangrentos da Guerra da Independência do Brasil e reforça que a luta contra o colonizador não acabou em 1822 com o grito de Dom Pedro I.
O que a história da batalha também registra é o papel fundamental da união dos brasileiros piauienses, cearenses e maranhenses contra as tropas do major português João José da Cunha Fidié, encarregado de manter o controle de Portugal no Norte do Brasil. De igual importância estão os povos originários, que já viviam no território quando este ainda nem se chamava Brasil e já resistiam a séculos de perseguição e extermínio no povoamento das vilas piauienses criadas pelos bandeirantes vindos de São Paulo e da Bahia.
No conflito ocorrido no Piauí pela independência de territórios do Norte do Brasil, o povo Tabajara se juntou aos colonos piauienses da capitania recém-criada. Estudos como o do professor historiador, Johny Santana de Araújo, da Universidade Federal do Piauí, comprovam essa participação na luta pela independência e as poucas conquistas dadas aos indígenas após esse processo. Após a Proclamação da Independência do Brasil, em 7 de setembro de 1822, muitas capitanias ainda estavam sob o domínio portugues, sobretudo, no norte e nordeste do país. O estado do Ceará se declarou independente um mês após o grito de Dom Pedro I. Sabendo da notícia que no estado vizinho, insurgentes parnaibanos do Piauí se deslocaram ao Ceará e solicitaram ajuda a esse novo governo.
“Parte desse exército libertador formado no Ceara era dotado de alguma coesão, a força era comandada pelo capitão Luiz Rodrigues Chaves, várias centenas de homens de todo o sertão do Ceará e do Piauí engrossaria seu efetivo. A tropa era constituída de corpos armados de infantaria, cavalaria e artilharia, com uma composição heterogênea popular formada por indígenas, mestiços e pretos. Por outro lado, para organizar um exército tão grande no Ceará a junta governativa também enfrentou consideráveis problemas com o recrutamento de homens, ocasionando fugas e resistências.”, afirma o historiador Johnu Santana, no artigo “O combate que decidiu o futuro do Brasil. A batalha do Jenipapo e a consolidação da independência do Brasil no Piauí 1823”.
A participação de povos indígenas na Guerra da Independência do Brasil também foi registrada em outras regiões, a exemplo da Bahia. Mesmo se juntando aos colonos brasileiros, sendo linha de frente e derramando seu sangue, pouco lhes foi dado de créditos e de direitos. A luta pelo direito à terra roubada continua sendo negada e ameaçada a esses povos originários no assim chamado Brasil independente, proclamado por Dom Pedro I, filho do rei de Portugal.
A prova maior é que os povos indígenas sequer são citados na nova constituição proclamada por Dom Pedro I após a independência.
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Batalha do Jenipapo: pretos e indígenas na linha de frente – RNCDsays:
16 de março de 2023 at 8:54 AM[…] Publicado originalmente em Ocorre Diário. Para acessar, clique aqui. […]