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Buriti do cerrado tem potencial inibidor da Covid-19 e tem pesquisador negro no Piauí liderando esse estudo

“A terra deu, a terra dá, a terra cria”, já cantou Mestre do Coco, Verdelinho. Mas a terra também responde à super-exploração e o resultado é o terceiro mês de confinamento por conta de um vírus que ainda não tem vacina e nem remédio. AINDA! Por que é certo que, como mãe, “a terra dá” e vem do Buriti, uma planta típica do cerrado piauiense, essa esperança.

A possibilidade de um remédio é estudada por uma equipe de cinco pesquisadores no Piauí. A equipe é coordenada pelo professor Prof. Dr. Francisco das Chagas Alves Lima, vinculado ao Doutorado de Química da Universidade Federal do Piauí (UFPI) e, também, professor da Universidade Estadual do Piauí (UESPI).

Prof. Allan Costa (professor do IFPA)

A equipe de pesquisadores descobriu que o óleo extraído do fruto do Buriti apresenta substâncias com um efeito inibidor junto ao Complexo 2GTB-Peptidase, um dos principais componentes do envelope viral do vírus SARS-Cov2. O professor Francisco explica que seu orientando no doutorado, Prof. Allan Costa (professor do Instituto Federal do Pará – IFPA) tem uma pesquisa que examina moléculas com potencial para combater a dengue. “Com a pandemia, já sabendo dos estudos que ocorrem na UFPI, resolvemos estudar os constituintes químicos do Buriti em uma das enzimas que é caracterizado o coronavírus”, explica o professor. 

De acordo com o Prof. Francisco, o estudo realizado foi na modalidade in silico, quer dizer, em âmbito computacional. Este tipo de estudo, primeira etapa, tem a vantagem, segundo o pesquisador, de diminuir em pelo menos 40% o uso de animais em laboratórios. A partir deste estudo, Francisco aponta que já iniciou articulações para a segunda etapa de estudos, que são os testes in vitro

Francisco destaca a bravura dos pesquisadores do Norte e Nordeste envolvidos na pesquisa, sendo as regiões com maiores dificuldades em investimento em ciência e tecnologia. Os outros participantes da pesquisa, além de Francisco e Alan (IFPA) são os pesquisadores Ézio Sá (IFPI), Roosevelt Bezerra (IFPI) e Janilson Souza (IFMA), do mesmo grupo. Neste sentido, ele destaca a importância das parcerias entre as instituições e a necessidade de investimentos na área para que a pesquisa seja realizada no Piauí. 

Para o combate à Covid-19, segundo Francisco, é necessário dois fatores: agilidade e investimento. “Países como Alemanha, China e Inglaterra já estão testando vacinas, enquanto no Brasil ainda esperamos o resultado do edital do MCTIC (Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações) para investir nas pesquisas”, aponta. 

Para os pesquisadores a descoberta é animadora, pois em todo o mundo estão testando mais de 1000 moléculas para criação de um remédio para impedir que o vírus se prolifere ao entrar em contato com o corpo humano. Se confirmar a viabilidade do fármaco a partir do buriti é uma esperança que surge para o combate contra este vírus que, até o momento, já matou mais 38 mil pessoas em todo o Brasil. Mas essa ainda é uma primeira etapa.

Buriti

 

A pesquisa é negra e também é coisa de nêgo 

Assim, que a equipe do OcorreDiário recebeu a notícia sobre o potencial do buriti para combater à Covid-19, dois destaques nos foi caro: “O sertão, aah nosso sertão, tu nos salva” e, além disso, veio em negrito a mensagem “Tem pesquisador negro combatendo à Covid-19, sim”. As certezas que nos vêm são duas: a primeira – de que há vida onde só enxergam seca – e a segunda – de que toda transformação estrutural no Brasil só vai se dá pela destruição do racismo. 

Professor Francisco fez seu mestrado IQSC/USP, com estágio no Canadá e também foi professor convidado na Alemanha, nos conta como o seu histórico é vasto, não apenas no lattes. Conta ele que certa vez desembarcou em Paris, à caminho da Alemanha, no mesmo dia em que houve um atentado a uma boate. De companhia, ele tinha um amigo da USP (Universidade de São Paulo) e o que ocorreria não era mera coincidência: sempre que Francisco ia na frente, era parado para revista, enquanto seu amigo branco, que caminhava logo atrás, passava sem revista. Mas sempre que o amigo branco ia na frente era barrado, como forma de justificar o próximo a ser barrado também, no caso Francisco. 

Os transtornos eram cessados logo que Francisco mostrava sua credencial de professor “é que, ao contrário do Brasil, na Europa os professores e pesquisadores são respeitados”, explica Francisco. O professor explica que é importante que cada vez mais as pessoas negras adentrem a universidade, pois suas contribuições são de suma importância.

“Somos poucos homens negros na universidade e mulheres negras nem se fale”, diz Francisco. No entanto, a gente faz lembrar que mesmo sendo poucos, a presença é marcante para a luta pela sobrevivência diante da Covid-19, vide Jaqueline Goes de Jesus, pesquisadora negra e Baiana (Salve Nordeste, de novo!) que coordenou o estudo que conseguiu sequenciar o genoma do coronavírus no Brasil. 

Para Francisco, para superar as desigualdades é necessário muito investimento na educação básica. “Temos que reivindicar não somente as cotas, mas também melhoria no ensino básico”, afirma. Segue dizendo que “o Brasil só vai se desenvolver com investimento massivo em educação, ciência e tecnologia. Só cresceremos se for assim”, conclui.

Matéria Coletiva e Colaborativa por: Sarah Fontenelle Santos, Maria Luisa Mendes, Luan Matheus Santana.

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