“A temporada começa em julho e vai até o final de outubro. Nessa época, parece que a Ilha fica até mais cheirosa. Acho que é das flores. Depois que as flores viram frutas, o próprio caju fica cheiroso e enche o ar com seu perfume”, pensa e escreve a comunicadora comunitária Aparecida Fernandes da Silva, apaixonada pela principal fruta do seu lugar.
Pesquisando para conhecer melhor, Aparecida descobriu que o caju não é só gostoso, é também, extremamente nutritivo e faz um bem danado à saúde. Talvez esteja aí, conclui ela, “a razão das pessoas da Ilha Grande ter um coração cheio de vida e alegria”.
Aproveitando para descrever a fruta, entrevistou suas amigas que produzem, como ela, suco e doce de caju para dar e vender.
Caju, cores, sabores e alegrias
Aparecida Fernandes da Silva
O caju é uma das principais frutas nativas da Ilha Grande do Piauí. As vitaminas da fruta purificam o corpo humano das toxinas e das sujeiras que se acumulam no sangue. E a castanha do caju aumenta o colesterol bom, chamado de HDL, que protege o coração.
Acho que é por isso que as pessoas da Ilha Grande têm um coração cheio de vida e alegria. Afinal, se tem uma fruta que esse povo gosta é o caju.
Existem dois tipos de caju: o vermelho e o amarelo. Tem caju grande e caju pequeno, azedo e doce. Dá para fazer suco ou doce com qualquer um dos tipos. Mas, para cozinhar com peixe ou colocar no feijão, o melhor é o pequeno, que chama cajuí e é bem azedo.
O caju também é utilizado pra alimentar animais como ovelhas, cabras, vaca, boi, porcos. Patos e galinhas também comem essa fruta.
Quando chega a época do caju maduro é hora de catar a castanha do caju, que também é muito nutritiva e uma fonte de renda para quem coleta e beneficia. Nesse tempo, as pessoas preparam suas cestas e começam a caminhada. Para algumas pessoas, o local dos melhores “cajuzal” é bem distante, mas para outras é bem pertinho. Muitas delas têm a própria produção no seu cercado de casa, no quintal.
A temporada começa em julho e vai até o final de outubro. Nessa época, parece que a Ilha fica até mais cheirosa. Acho que é das flores. Depois que as flores viram frutas, o próprio caju fica cheiroso e enche o ar com seu perfume.
O beneficiamento do caju
Eu mesma sou doceira de caju. Faço o doce desde que era menina nova. Mas, eu entrevistei minhas amigas Águida Rodrigues e Cleudiana Nascimento para compartilhar tudo o que sabemos sobre as delícias que se pode fazer com caju.
A Águida tem 47 anos e nasceu aqui na Ilha, na comunidade Cal. Ela disse que gosta de fazer o suco do caju porque é natural e rico em vitamina C. Com 20 cajus ela faz três litros de suco. “É muito fácil fazer o suco do caju. Precisa lavar bem e tirar os fundos (parte da fruta com o cabinho) e a parte que fica a castanha que é para o suco não ficar amargando. Bate aquela polpa até ficar bem batida, côa em uma peneira e coloca em uma garrafa ou jarra. Aí vai para a geladeira pra ficar bem geladinho, uma delícia!”, diz a Águida já com água na boca.
A Cleudiana também nasceu na comunidade Cal, tem 32 anos e faz doce de caju desde os 13. Diz ela que fazer doce é bom porque “é uma distração e é gostoso de trabalhar. A gente esquece os problemas e o doce sai melhor quando se trabalha com amor. O doce com amor sai bem feito”, afirma.
Nós temos quatro receitas de doce de caju: o simples, o doce de caju “esmagaiado” (esbagaçado), o de liquidificador e o doce de caju seco com calda.
Para o doce simples precisa de 1 (um) quilo de caju, um quilo de açúcar e água até acertar o ponto. Primeiro queime o açúcar na panela. Depois coloque o caju lavado e a água e deixe ferver bem. Quando a água secar coloque mais água e repita a quantidade de água até três fervuras. Quando o caju tiver mudado de cor para bem vermelho ele já está apurado. Pronto!
As mesmas quantias de caju e açúcar são usadas no “doce esmagaiado”: Coloque um litro de água na panela com o açúcar e o caju esmagaiado, ou batido, e deixe ferver. Mexa o tempo todo para o doce não grudar na panela. Quando o caju estiver bem vermelhinho o doce está pronto.
O doce de caju de liquidificador usa 1,5 quilo de caju para um quilo de açúcar e um litro de água. Para o doce não ficar amargando corte o fundo e a parte de cima, onde fica a castanha dos cajus. Coloque os cajus na panela com água para ferver. Depois de fervido deixe esfriar e bata no liquidificador. Coloque novamente no fogo e deixe ferver até apurar o doce. Quando a água secar coloque mais água e deixe ferver só mais uma vez. Quando o caju estiver bem vermelhinho, coloque um quilo de açúcar e mexa novamente até ele ficar mais vermelho. Pronto, o doce chegou ao ponto. Retire do fogo e deixe esfriar.
Já o doce de caju seco com calda você vai precisar de dois quilos de caju seco, um quilo de açúcar branco e água suficiente para cobrir os cajus. Esse doce começa secando o caju no sol por três ou quatro dias. Depois, retira do sol e lava os cajus. Coloque a panela no fogo e queime o açúcar. Coloque os cajus dentro e acrescente a água. Cozinhe até ferver. Quando estiver seco acrescente mais água. Repita por quatro vezes. Mas, deixe só os cajus cozinharem, não mexa. Quando estiverem bem dourados, o doce está no ponto. Para finalizar coloque um pouco mais de açúcar, pra ficar a calda do doce. Acrescentar castanhas para dar mais sabor no doce.
As quatro receitas ficam mais saborosas acrescentando castanhas na massa.
Quem faz doce de caju tem uma importante fonte de renda.
A castanha do caju
As castanhas de caju são muito apreciadas. São gostosas, nutritivas e, da mesma forma que o doce, rendem um bom dinheiro para quem quiser trabalhar com ela.
Existem dois tipos de castanhas. As pequenas e as grandes. Geralmente, as pessoas têm das duas no seu cercado. Servem para colocar no doce, fazer paçoca, e dindim com a venda das frutas, ou mesmo para comer ao natural ou torradas.
Aqui na Ilha Grande, a venda de castanha é uma das mais importantes fontes de renda das pessoas. A Águida diz que a “venda da castanha ajuda muito no período da temporada, para a questão financeira porque dá comprar outros alimentos e a se manter nesse tempo da safra da castanha”.
O caju do litoral não tem igual. Vem pra Ilha experimentar caju, cores e sabores.
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