O sol ainda ardia na moleira quando Elielson Pacheco, Eli, pegou uma carona de moto às 15h da tarde para participar da organização da sessão da websérie Yolanda no centro histórico de Parnaíba. Munido de uma trouxa de panos coloridos e floridos e outros apetrechos, o multiartista seguiu em direção ao Espaço Cultural Dona Maroca, no casarão da Dona Alta para a 5ª sessão do Cine Livre, que começaria às 18h do dia 22.
Yolanda, encantou os corações das juventudes em Parnaíba, pela sua simplicidade, cotidianidade e a aparência familiar que nos carrega a todes para dentro da tela. Com um texto verdadeiro põe um corpo drag, kuir, afeminado, dissidente e insurgente para bailar uma vida que se emaranha em várias outras vidas inclusive as que estavam presentes na sessão daquela noite.
Para Isaias Cardoso “Yolanda transmitiu hoje para mim a realidade do corpo drag no Piauí. Questiona a mitologia do corpo perfeito, de ser uma drag bonita, bem maquiada. Isso foi quebrado porque é uma drag familiar, né? Que tem o apoio familiar que é complicado ter hoje em dia enfim, daqui a cem anos vai ser do mesmo jeito porque nunca vai ser aceitável as bichas serem felizes”, avalia.
De fato, como aponta Isaias, a família é um corpo presente na websérie, do início ao fim. A começar pela casa, set de filmagem das gravações, passando pela tia que dirigiu e criou uma paisagem fotográfica belíssima e forte, pois é feita de pedacinhos das casas piauienses. E para Eli, a série é sobre ser familiar às pessoas ao mesmo em que é estranho e extraterrestre “pois é sobre nós seres humanos e nós nunca somos totalmente compreensíveis e assimiláveis, mas ao mesmo tempo a gente se fortalece no comum”, diz o artista.
Para Eli a noite foi uma confluência que se iniciou há algum tempo e reforça a importância do projeto Cine Livre “Importante esta iniciativa pois proporciona espaço para as byshas que estão narrando suas próprias existências através de vídeos. Aqui foi um momento de encontro, poder encontrar um rapaz que falou que assistia a websérie quando ela estava no youtube, isso para mim foi muito especial. Isso reforça a importância de ter esse momento de encontro e bate papo para trocar”, dialoga Eli.
Cine Livre: Cine Clube em Parnaíba e a cena da realização independente
Iniciativa das juventudes que fazem arte e cultura pelo centro de Parnaíba, desde o espaço cultural Mameluco e outras iniciativas, o Cine Livre tem proporcionado uma movimentação no cenário audiovisual em Parnaíba. Quem dinamiza a cena são Shawene da Silva Gonçalves, Henderson Oliveira, Nathanael de Sousa Silva e Inaiê Mairê Apel.
Para Shaw, tudo se inicia no sonho e de incentivos nas conversas com o Labcine. “A gente sempre conversava sobre ter um cine clube em Parnaíba”, diz. Foi quando a turma conseguiu, em parceria com o Grupo Metáfora, um financiamento na Lei Aldir Blanc, o que possibilitou comprar os materiais mais básicos. As exibições se iniciaram em outubro de 2021 e tem trazido realizadores audiovisuais independentes para a roda.
O desafio, segundo os organizadores e organizadoras da iniciativa é garantir que o espaço seja itinerante e circule na cidade. E está acontecendo. O cine clube deve ir à Pedra do Sal e Frei Higino ainda em 2021 e início de 2022. Shaw chama atenção para o fato de que o cinema é para todes e de todas as idades. O público infantojuvenil também é contemplado nas sessões. A proposta é que tenha sessões para crianças adolescentes também.
Shaw lembra também a importância de ocupar os espaços abertos da cidade “Além de ser itinerante, a ideia também é que sejam em lugares livres, quadras, praças ou espaços abertos de escolas”, explica.
Vida longa ao Cine Clube e a produção audiovisual independente no Piauí! Vida longa à Yolanda e as narrações das nossas histórias.
Texto Sarah Fontenelle Santos
Fotos: Nathanael de Sousa
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