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Com “A terra dá, a terra quer” quilombola Nêgo Bispo é indicado ao Prêmio Jabuti Acadêmico

“A terra dá, a terra quer” de Antônio Bispo dos Santos, Nêgo Bispo, está entre os 5 finalistas para o Prêmio Jabuti Acadêmico e toda a caatinga celebra seus novos começos. Vivas, vivas, Nêgo Bispo germina. Na categoria Ciências Agrárias e Ciências Ambientais, Bispo concorre, ou compartilha – para usar uma palavra germinante sua – com livros que abordam temáticas como a crise climática, questões botânicas no Brasil,  pluralidades investigativas e metodologias para enfrentamento aos desafios do século XXI. 

O Quilombo Saco-Curtume – São João do Piauí-, em meio a caatinga é de onde vem a produção do conhecimento que encantou e ensinou tanto ao mundo, como um fenômeno que denota a resistência do próprio território que, na aridez germina tanto e é berço para quem sabe biointeragir. É quilombola, é da caatinga e é contracolonial. A saída é comunitária e ancestral ou não será. Sim, senhoras e senhores é um quilombola indicado a ganhar um prêmio acadêmico. 

Esta é a primeira edição do Prêmio Jabuti Acadêmico, dedicado às contribuições significativas nas áreas científicas, técnicas e profissionais. Realizado com o apoio da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) e da Academia Brasileira de Ciências (ABC),  atualmente está dividido entre três Eixos eixos de Ciência e Cultura e Prêmios Especiais, subdivididos em 29 categorias.


A cerimônia de divulgação dos vencedores acontece dia 6 de agosto no Teatro Sérgio Cardoso, em São Paulo, mas pode ser acompanhada pelo canal do youtube da Academia Brasileira do Livro.

A terra dá, a terra quer

Nêgo Bispo e seu neto Norberto. | Imagem: acervo pessoal do Quilombo Saco Cortume.

O livro foi publicado pela Editora Ubu em 2023, em parceria com a Piseagrama, que realizou a coordenação editorial, edição e design. 

O livro reforça a sua trajetória e seu pensamento quilombista da caatinga, reafirma sua comunicação com o seu território e  problematiza a cosmofobia – que segundo ele é um “vírus pandêmico”, variante do desenvolvimento – ao que o mundo moderno e extremamente urbanizado nos afoga. 

Em uma das passagens ele afirma “Os humanos excluíram todas as possibilidades de outras vidas na cidade. Qualquer outra vida que tenta existir na cidade é destruída. Se existe, é  graças  à  força  do  orgânico,  não  porque  os  humanos queiram”, lembrando sua relação com a natureza como fator decisivo para a epistemologia que apresentou ao mundo. 

Palavras semeadas, palavras “meios” que germinam

Quilombo Saco Corturme em São João do Piauí | foto: Sabrina Moraes

Antônio Bispo dos Santos, tendo nascido em 1959 na comunidade Pequizeiro-Francinópolis e sendo o primeiro de sua família a lidar com as letras, gostava de deixar bem nítido, que suas viagens para dialogar com tantos setores da sociedade, seja da militância em movimentos sociais ou na militância acadêmica, era uma espécie de missão dada por sua comunidade, para levar os conhecimentos repassados por seus mestres e mestras do quilombo. São conhecimentos ancestrais e enraízados, portanto.

E que tarefa cumprida brilhantemente!! O mundo precisa se conectar com estes saberes necessários para superar a modernidade e a colonialidade, que apenas nos reduz a obedientes seres produtores e nos aparta de nossa relação com a natureza. Bispo publicou diversos livros e poemas. Em 2007 lançou  o livro Colonização, Quilombos: modos e significados. Em 2015 Bispo lançou Colonização, Quilombos: modos e significações pela  UnB/INCTI, o mesmo teve uma nova edição revista e ampliada em 2019.

Ele também coordenou a coleção Quatro Cantos (n-1 edições, 2022), livro que reúne diversos textos de confluentes próximos, incluindo sua amiga de muitas trajetórias de luta e conterrânea, a professora Maria Sueli Rodrigues, que se ancestralizou um pouco antes dele. O livro também confluencia com Luiz Rufino e Ana Mumbuca. Na revista piseagrama publicou os ensaios Modos quilombolas (2016) e Somos da terra (2018), além de diversas palestras e conferências que são uma verdadeira ode à sua rica oralidade, algumas das quais eternizadas no youtube. Sua voz da  mata sempre foi de fazer o chão tremer e seguirá.

Comments (1)

  • SARA ALVESsays:

    4 de agosto de 2024 at 11:59 AM

    Esperemos dia 06 de agosto para festejar! Nêgo Bispo, vive!! Estamos no Clube de Leitura da Casa Preta da Maré lendo o senhor; a terra dá, a terra quer, saiba que estamos saboreando sua oralidade que jamais morrerá.

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