Press ESC to close

Complexo de Alex

Um estudante de música, um de direito e outro de inglês, de cidades do interior do Piauí com criações totalmente diferentes. Foi, mesmo diante dessas diferenças, que os universitários Fernando, Ulisses e Alex deram vida a um sonho pessoal: formar uma banda. Mas, mesmo com histórias muito diferentes, a paixão pela música e o incentivo por parte de familiares são características que fazem parte da vida dos três componentes da Complexo de Alex.

Para os componentes da banda a música é sinônimo de sentimento e falam com paixão nesta entrevista exclusiva para a Ocorre Diário sobre esse projeto novo no cenário musical piauiense.

O início

Fernando

Foto: Arquivo pessoal.

Minha relação com a música começou com meu pai que é músico, então ele acabou influenciando todos da família. Desde pequeno a gente começou a ter esse contato com a música, com instrumentos musicais e o gênero que eu mais tive contato desde criança foi o rock. Minha irmã ouvia muito e eu cresci ouvindo rock. E na minha adolescência eu tive muito preconceito com o que não era rock. Para mim o sinônimo de música boa era rock, entendeu? Fugia daquilo pra mim já não era interessante. E com o tempo eu fui amadurecendo e vendo que não tem nada a ver. Música boa não tem gênero, não tem um estilo específico.

“Música boa é música boa que te tocar que te faz sentir alguma coisa.”

Para Ulisses, componente da banda, o rock também foi uma de suas paixões iniciais e a família, apesar de não trabalhar diretamente com a música, incentivou o contato com a arte.

Ulisses

 Foto: Arquivo pessoal.

Nasci no meio do rock principalmente internacional e meu pai escutava muito Scorpions. Quando eu trabalhava na loja eu ficava com o headfone o dia todinho escutando. Minha família já tocava na igreja, a gente sempre gostou muito de cantar, mas meu tio que me deu meu primeiro violão. Um crafter, até me lembro, artesanal e tudo. Ai pediu para eu aprender a tocar para ser o violeiro da família, tocar nas festas da família. Aprendi a tocar e aprendi não exatamente o que ele queria. Ele gosta muito de Engenheiros do Havaí, Catedral, Legião Urbana e eu fui primeiro para o pop rock internacional. Red Hot, e depois de ter aprendido tudo o que queria e o que eu não queria acabei ficando um pouco mais eclético. Na escola o pessoal escutava muita música sertaneja e acabei aprendendo para agradar o pessoal, fazer a rodinha. Chegando em Teresina eu estava um pouco limitado. Eu estava um pouco no Blues, já tinha saído totalmente da asa da minha cidade. Chegando aqui eu conheci o Alex, conheci o Fernando. O Alex acabou me influenciando na MPB. Eu comecei a reparar mais no Djavan, ouvi e achava legal. Ele começou a me mostrar mais umas perspectivas que eu não tinha observado. Acabou que me deixou um pouco mais eclético e eu era também, como ele falou, preconceituoso.

“Não só escuto aquilo que eu tô habituado”.

Alex

Foto: Arquivo pessoal.

Eu comecei a tocar violão com 10 anos de idade. Eu não tinha interesse algum na área de canto nem coisa parecida. Tenho uma enorme dificuldade de me comunicar e interagir comas pessoas. Meu pai viu na música uma forma para eu interagir na Igreja. Me incentivou muito a tocar músicas gospel. Ai eu tocava música para Jesus,  ia para a Igreja só para isso. Minha mãe, desde o início da carreira cantava música gospel. Hoje ela tem um trabalho bem reconhecido. Inclusive algumas das músicas que ela gravou são composições minhas. Eu vi minha mãe, crescendo neste ambiente da Igreja, ouvindo bastante música gospel mesmo.

“E no momento que eu vim para a universidade eu vivi outra realidade. Outra realidade musical. Eu comecei a gostar muito do que eu tava descobrindo sobre a nossa música.”

Poder sair daquele ambiente fechado, daquele estilo fechado da música gospel, que as vezes fazia com que eu tivesse receio de ouvir qualquer outra.

Fã da Música Popular Brasileira, o único estudante de música do grupo, Alex, conta que a experiência de troca de conhecimento e experiência está sendo fundamental para um crescimento pessoal e quebra de preconceitos formados ao longo dos anos.

A banda me proporcionou essa flexibilidade, poder experimentar coisa nova. Poder buscar novos conhecimentos, novas oportunidades para mexer naquilo que eu já tinha de carga musical. Porque como eu tô num processo de aprendizagem, todo esse conhecimento, toda essa experiência que eu vou tendo, tanto auditivo e na própria prática vai influenciar no que eu vou me tornar como músico. Então eu estou em um período frágil e resistente ao mesmo tempo do conhecimento, da aprendizagem. Eu queria dizer que eu não sou uma cabeça passiva de qualquer coisa, mas eu estou em um período que é importante ter esse cuidado. Que a gente fique resistente lá na frente. Mas que eu possa compreender que é importante ouvir mais só do que a Música Popular Brasileira.

A origem da banda

Vindos de cidades diferentes, os estudantes moram atualmente na residência estudantil, dentro da Universidade Federal, ponto de partida para o surgimento de uma amizade que se transformaria posteriormente no Complexo de Alex.

Fernando

Eu faço Inglês e o Ulisses faz direito. Eu faço licenciatura e ele faz bacharel. Eu entrei e conheci o Ulisses primeiro. Só que eu não sabia que ele tocava. Uma dia eu estava tocando lá na frente e ele pediu meu violão e eu pensei “Como assim?” ai eu dei pra ele. Eu ouvi ele cantar e eu pensei “Meu Deus do céu”. Fiquei só ouvindo. Depois o Alex entrou. Ai ele também tocou e eu pensei de novo “Meu Deus do céu”. Depois eu falei comigo mesmo “Orra duas pessoas…” Porque eu sempre tive essa vontade de ter uma banda, eu tinha vindo de uma família de músicos. Meu pai é músico, minha mãe é música então eu sempre tive nesse meio da música e sempre tive vontade de ter uma banda. E eu vi neles dois um grande potencial de formar uma e também para divulgar o próprio trabalho deles porque eu vi que eles eram um pouco tímidos e ai… Eu falei “vamos formar essa banda para a gente divulgar o nosso trabalho de uma forma geral”. E a gente ta aí fazendo esse trabalho autoral.

Foto: Arquivo pessoal.

Sobre a escolha do nome da banda “Complexo de Alex”, Alex respondeu que essa é “uma das perguntas que geralmente nos fazem e eu não sei responder. Porque não foi eu que coloquei o nome da banda e eu vou colocar a culpa no Fernando porque ele que colocou o nome” conta o universitário.

Apesar de eu estudar música, nem sempre era só isso que eu fazia. Eu não tinha muito tempo e nem oportunidade para sair do ambiente universitário e mostrar o meu trabalho. Eu já tinha feito algumas músicas também. E o Fernando teve a proposta de montar essa banda. Ele chegou pra mim e falou “Alex, eu e o Ulisses estamos a fim de montar uma banda. Eu e o Ulisses estávamos conversando e achamos legal compor uma banda.” Ai eu disse “Beleza então”. Ai ele chegou no Ulisses e disse “Ulisses eu e o Alex estamos querendo montar uma banda.” E o Ulisses falou “beleza”. Foi quando a gente ficou… “Deu certo”.

Foto: Arquivo pessoal.

O trabalho autoral

Alex

No início a gente até investiu bastante na música cover e ficamos bem empolgados porque o interessante dessa banda é a diversidade em estilística, porque não é só o que eu gosto, não é só o que o Ulisses gosta e nem é só o que o Fernando gosta. A gente juntou coisas bem diferentes mesmo, porque eu sou um pouco mais voltado para o MPB e o Fernando já gosta bastante de música estrangeira. E eu fui perdendo bastante, mas de forma bem drástica esse preconceito com música estrangeira.

Fernando

O Alex falou uma coisa interessante. Inicialmente a ideia da banda era de ser uma banda cover. Uma banda de cover. A gente ia tocar coisas que agente gosta. Só que a gente ia participar de um evento lá da UFPI e a gente falou “por que a gente não toca música autoral?” O Ulisses já tinha música autoral escrita, o Alex já tinha também, eu também. Eu falei “vamos fazer isso!”.A gente passou por um processo de composição justamente para esse evento. Aí que a gente começou a amadurecer essa história de autoral.

Ulisses

E o legal é que a gente gosta de mexer um na música do outro, acaba que quando ele termina ele mostra para gente e diz “isso aqui foi o que foi que eu fiz” ai eu com as minhas influências dou uns retoques, se ele gostar a gente deixa, a gente muda alguma coisinha, na melodia. A gente acaba criando de um jeito nosso. A gente dá autonomia para a pessoa criar a música da forma que ela quer só que a gente sempre tem esse retorno de deixa o outro dizer “o que poderia está melhor?”.

Cenário da música teresinense

Com apenas 1 ano de criação da banda, os músicos falam sobre o que acham do cenário musical independente na Capital do Piauí e reforçam como os espaços precisam ser conquistados nesse processo, mas que a trajetória não é fácil.

Alex

A nossa banda… nós somos calouros no cenário música piauiense. E eu acho assim: eu não vou dizer que não existem oportunidades, que não oferecem oportunidades, que não dão oportunidades para os músicos locais. Só que eu acho assim, que a gente tem sempre que buscar mais. Eu tenho que buscar mais oportunidades, quanto mais lugares eu ir e mais pessoas a gente mobilizar para a gente criar um movimento musical aqui artístico, que seja algo que realmente represente Teresina no cenário musical, a gente tem que tentar trabalhar isso da melhor forma possível para que a gente alcance esse cenário. Porque a gente ver que para uma banda conseguir o reconhecimento que a gente tanto procura, dependendo das circunstâncias a gente enfrenta uma série de barreiras. A nossa banda mesmo a gente tentou tocar em vários lugares, mas não deu certo porque a gente não tem experiência. E a gente só consegue experiência se a gente conseguir tocar. E aí é uma coisa confusa.

“No Brasil, em si, a gente tem uma música muito boa, a gente tem uma música maravilhosa. E não ter essa trabalho tão valorizado quanto a cultura do exterior, é para mim é motivo de tristeza. Porque a gente podia está ai disseminando o nosso próprio trabalho, mas não que a cultura estrangeira desvalorize isso, mas a gente mesmo acaba se deixando levar pela influência e perdendo um pouco o que é nosso né. Eu acho tão importante não só apreciar acultura alheia quanto a nossa também”, Alex.

Foto: Arquivo pessoal.

[Texto: Letícia Araújo]

[Produção: Ronald Moura e Camila Hilário]

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.

Pular para o conteúdo