
Entre os dias 23 e 25 de maio, representantes de comunidades, povos tradicionais, agricultores familiares e movimentos populares de todo o país estão reunidos no município de Lagoa Seca (PB), no 1º Encontro do Movimento de Atingidas e Atingidos pelas Renováveis – MAR. O encontro reuniu vozes e territórios que hoje enfrentam, diretamente, os impactos socioambientais causados pelo avanço desenfreado de projetos de energia solar e eólica em seus territórios.
O evento marca um passo fundamental na consolidação de um movimento nacional que denuncia as contradições do modelo de expansão das energias renováveis no Brasil — um modelo que, apesar de “verde” na sua propaganda, tem produzido deslocamentos forçados, perda de territórios, violações de direitos e desestruturação de modos de vida ancestrais e tradicionais.
Com uma metodologia centrada no compartilhamento de experiências, o encontro fortalece a construção de uma identidade coletiva entre os atingidos, que agora passam a caminhar de forma articulada nacionalmente.


Piauí leva delegação de 14pessoas, representando 7 comunidades

Comunidades do Piauí, diretamente impactadas por mega projetos de de usinas solares e parques eólicos saíram de Teresina na última quarta-feira (21), em direção a Paraíba. Além da troca de experiência se articulação política, as comunidades do Piauí também levam um Manifesto, escrito e aprovado durante II Seminário Estadual sobre os impactos socioambientais das Energias
Renováveis no Piauí, realizado no dia 20 de março de 2025 pelo GETIER (Grupo de Estudo e Trabalho sobre Impactos das Energias Renováveis no Piauí). Abaixo, na íntegra, o manifesto:
Manifesto das populações atingidas pelas usinas das Energias Renováveis no Piauí
A forte incidência de sol, vento e água no Piauí coloca o Estado como um dos maiores produtores de energia solar e eólica do Brasil. Atualmente são 189 empreendimentos em operação e mais 427 em andamento ou esperando licença que seguramente saíra sem condicionantes.
A geração de tanta energia considerada limpa seria motivo a ser comemorado nos territórios que reconhecem a necessidade de todos combaterem as mudanças climáticas e as consequências do aquecimento global. No entanto, o modelo adotado no Estado do Piauí para expansão dos empreendimentos, assim como nos demais estados nordestinos, vem causando sofrimento e dor para as comunidades atingidas diretamente pelas usinas.
São milhares de pessoas que moram em zonas rurais, do litoral ao sertão que vivem em comunidades atingidas diretamente pelos empreendimentos no Estado. Os impactos são grandes desmatamentos, destruição da vegetação nativa, interferência na rota migratória de alguns pássaros, modificação da paisagem natural,danificação de casas, do solo, descarte de resíduos, impossibilidade de uso da terra, adoecimento de pessoas, perda dos territórios, do uso da terra para produção de alimentos e, principalmente, da água que sofrerá perdas irreversíveis com a mega produção de Hidrogênio Verde, além de desequilíbrio ambiental nos ecossistemas litorâneo, como restingas, mangues e dunas, impactos culturais e modo de vida.
Como é notório, o Piauí tem condições de contribuir para mitigar as mudanças do clima, mas, não pode ser feito sacrificando as populações que historicamente foram massacradas e esquecidas pelo poder público, a justiça e a classe politica que por sua vez vem trabalhando para mudar a legislação ambiental do Estado, de modo a facilitar o acesso aos recursos naturais, numa clara demonstração de priorizar ações de investidores estrangeiros, em detrimento da conservação dos biomas e bem-estar das comunidades prejudicadas.
É hora de exigir das empresas e governos,medidas de contenção da expansão das usinas no Estadoe exigir cumprimento da Consulta Prévia e Informada das comunidades, prevista da Organização Internacional do Trabalho-OIT 169, assim como compensação de danos e priorização de políticas públicas, não respeitada pelos empreendimentos, assim como a definiçãode implantação de Zonas de Exclusão das usinas, politicas ambientais verdadeiras, contratos justos e manutenção dos territórios. Para que a transição energética seja limpa é preciso ser justa, inclusiva, equilibrada e popular. Para tanto, é necessário que seja respeitada os direitos das populações atingidas, suas culturas, modo de vida, de trabalho e de saberes.
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