Por Tânia Martins
Já faz tempo que os moradores do Assentamento Flores, 60 quilômetros de Uruçuí, município ao Sul do Piauí, reutilizam os “Silos Bolsas” descartados, (tubos de polietileno para armazenar safras das monoculturas transgênicas cultivadas na região) possivelmente contaminados por agrotóxicos, para cercar ambientes como currais, quintais, telhados, banheiros, paredes além de utilizarem para secar grãos e legumes que consomem na rotina.
Os silos bolsas são instalados na área da colheita dos grãos e armazenam as culturas por até um ano, depois são descartados. O destino da maioria é parar nas comunidades do entorno dos projetos, muitos recebem de doações, outros compram e repassam, o certo é que hoje não somente o Assentamento Flores se cobre com sobras de silos que armazenaram grãos envenenados, eles já chegaram também nas comunidades Sangue, Vereda do Mato, Ponte, Morrinhos, Baixa Funda, Maliças, Vereda do Mato, Assentamento Santa Tereza, entre outros povoamentos de trabalhadores rurais tratados por ruralista, na maioria das vezes, por mendigos.
As comunidades não demonstram preocupação com a utilização do plástico, mas conhecem as atividades do agronegócio na região e sabem que o material que usam são silos inservíveis que tiveram contato com vários tipos de venenos usados nas plantações de soja, milho, arroz e algodão, todos transgênicos. O descuido das famílias ocorre por falta de informações sobre os perigos do uso dos agrotóxicos para a saúde humana, animal e para o meio ambiente.
Usar agrotóxicos na região é algo tão comum como comer. Todos usam, a diferença é que as fazendas de soja, milho, arroz e algodão usam de tecnologias avançadas para aplicar enormes quantidades de agroquímicos seja por terra ou pelo ar; já o agricultor familiar compra herbicidas fracionados em lojas de produtos agrícolas e até em mercearias em qualquer cidade do interior do Piauí e ele mesmo é quem prepara a dose que acha melhor para pulverizar sua roça.
A rotina de convivência com agrotóxicos no Cerrado já ocorre há mais de 30 anos e só piora com ampliação de áreas destinadas a plantações de monoculturas, portanto, a presença dos agroquímicos e o contato direto com os plásticos que agora usam nas comunidades ainda não fez acordar a comunidade Flores para os perigos dessa convivência.
Também não se importam com a mudança da paisagem do lugar onde nasceram, antes emoldurada por estruturas feitas a partir de madeiras e palhas nativas da região, foi totalmente transformada depois dos silos. E não sabem que com o tempo o plástico vai dissolvendo e se transformando em partículas pequenas que são levadas pelos ventos contaminando as chapadas, florestas rios e solos.
São muitos os órgãos de controle criados para diminuir os impactos das agressões ambientais e humanas. Para citar alguns tem as Vigilâncias Sanitárias, estadual e municipal, o Emater, as Secretarias de Meio Ambiente, a Fundação Nacional de Saúde – Funasa, o Centro de Referência em Saúde do Trabalhador-CEREST, o Ministério do Trabalho, entre outros, que, apesar da existência e função, não funciona a contento.
Sem fiscalização tudo pode, tanto que funcionários dos projetos de monoculturas ficam a vontade para espalhar embalagens de agrotóxicos em qualquer ambiente, principalmente nas estradas. As embalagens terminam se dispersando pelo vento poluindo e contaminando solo, riachos, ar e pessoas.
** Tânia Martins é jornalista e ambientalista, uma das fundadores da REAPI – Rede de Ambientalistas do Piauí, que tem como missão criar mecanismos de denúncias aos grandes crimes ambientais no Piauí, bem como fortalecer e disseminar a agroecologia.
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