Um Quilombo, 119 comunidades e as belezas da caatinga. Em meio a uma diversidade cultural rica, este é o território do Quilombo Lagoa, sudeste do Piauí que abrange os municípios de São Raimundo Nonato, Várzea Branca, Fartura do Piauí, São Lourenço, Bonfim do Piauí e Dirceu Arcoverde. Não é de se estranhar que seja um território tão solicitado por pesquisadores, já que as riquezas saltam os olhos. É por isso, que as comunidades resolveram criar o projeto Cumbuca, biblioteca virtual que visa reunir o conjunto de pesquisas científicas realizadas no local. Entram neste rol também poemas, produções audiovisuais, entrevistas, edições de jornais e tudo que conta a história do lugar.
Segundo Vanda, uma das idealizadoras do projeto, “O Território Quilombola Lagoas tem uma infinita diversidade cultural como: as Folia de Reis, São Gonçalo, Festas dos Santos padroeiros, Afoxé, religiões de matriz africana, capoeira, culinária, confecção de cestaria e cerâmica. Contamos também com ricos achados arqueológicos e paleontológicos em algumas comunidades do território”. Magna, outra idealizadora do Cumbuco, acrescenta à lista infindável: “As belezas naturais também merecem destaque como: o Morros dos Largos, a Pedra do São Victor, a caatinga, os lajedos, lagoas e entre outros. Outra importante riqueza para o Quilombo Lagoas é a Cova da Tia, lugar sagrado e de devoção”, completa.
Diante de tanta diversidade, a comunidade ainda lembra que outras riquezas imateriais é que permite que o quilombo continue forte e de pé, afinal de contas o que faz do quilombo quilombo são os laços comunitários, memórias e histórias de vida. “A luta de todos os mais velhos ancestrais pela demarcação, identidade e reconhecimento como quilombolas perante as instituições do governo. Luta de diversas pessoas da comunidade para construção da educação, cultura, lazer, alimentação saudável que se faz presente na maioria do território”, conta Vanda.
Quando a ciência é comprometida com a causa do povo
O Quilombo lembra do quanto a ciência comprometida com a luta popular é uma importante parceira nas lutas territoriais, mas destacam também que a auto-organização do povo é um pilar importante. Segundo Salvador, outro idealizador do Projeto, “Devemos lembrar daqueles pesquisadores que são convidados pelo território para ajudar com as problemáticas existentes. Também à importância da Associação territorial do quilombo Lagoas. Que banca à lutas diárias para o fortalecimento do território. A importância do Cláudio nesse processo de titulação”.
Segundo os idealizadores da biblioteca virtual, o território já foi campo para diversas áreas do conhecimento, tais como arqueologia, paleontologia, antropologia, história, geografia, gastronomia e turismo. Foram realizados também levantamentos sobre as manifestações culturais, a religiosidade, sobre os acervos museológicos presentes em algumas comunidades, modo de produção das abelhas, das hortas orgânicas. “O Território Quilombola Lagoas, respira cultura, luta, vida , diversidade e sustentabilidade das comunidades e a natureza local, tudo isso constrói preciosidade que esse local tem”, completa Salvador.
Quilombo Lagoa é fonte, matiz e fortaleza, nos ensina com seus conhecimentos ancestrais que outra vida é possível. Diante de tudo isso, Salvador não titubeia ao explicar porque o lugar é tão procurado para contribuir com a ciência piauiense e brasileira. “Por ser um território quilombola, já desperta muito interesse de pesquisadores. Devido à nossa diversidade cultural e resistência de vivermos em local semiárido que historicamente falta o básico para viver com dignidade”, afirma.
A reExistência destas comunidades nos convidam a aprender novos saberes na urgência de tempos tão cruéis. Deste modo Quilombo Lagoa é um celeiro para a ciência comprometida com as causas do povo, onde conhecimentos não faltam, explica Salvador. “As comunidades de Lagoas têm muitos saberes deixando pela diversidade de cultura existente que simboliza nossa oralidade de forma ancestral que são passados de geração em geração. O processo de luta pelos direitos sociais e políticos de compensação racial. Nossa cultura imaterial do tempo do cativeiro e diversidade de história espalhada pelo quilombo que faz de nossas manifestações populares riquíssimas”, conclui.
O acervo está aberto para colaborações. Se você tem algum trabalho voltado para o território Lagoa aqui aqui e acesse o formulário.
Por Sarah Fontenelle Santos (em colaboração com Quilombo Lagoa)
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