Texto por: Ana Monteiro
Sarah Fontenelle Santos
Luan Rusvell
Fotos: Luan Rusvell e Kelson Fontinele
Yarla, Camila, Erinalda, Emanuelle, Nazaré, Aretha, Gisleide, Aline, Joana D’Arc, Selene, Gabryella, Irismar, Frascinilda, Gisleide e tantas outras que tombaram na história, são sementes que reforçam a garra das mulheres no dia 8 de Março no Piauí, Dia Internacional de Luta das Mulheres. A pauta do feminicídio, deu a tônica dos atos das mulheres em Teresina, representada na arte de resistência de LuRebordosa. Além disso, mulheres de movimentos populares protestaram às portas da Prefeitura Municipal de Teresina, onde se destacou a resistência das mulheres Atingidas pelo Programa Lagoas do Norte. No período da tarde, os protestos foram contra a Reforma da Previdência e o Governo Bolsonaro, e ainda, lembraram a morte de Marielle Franco, vereadora do Psol, que completa um ano de sua execução no dia 14 de março.
É válido lembrar que nos dias 7 e 8 de março, de 2019, dia Internacional de lutas das mulheres, as camponesas do MPA, MST, MAB E FAF, iniciam as mobilizações em Teresina com o lema: Mulheres na luta contra a violência por direitos, soberania e previdência. As camponesas chegaram a ocupar prédio do Instituto de Terras do Piauí (INTERPI), em Teresina, e após audiência com o diretor geral do instituto Herbert Buenos, sobre a Regularização Fundiária de Terras no estado, as camponesas deixaram o prédio e seguiram para a SDR, Superintendência de Desenvolvimento Rural. A das camponesas lembram que a luta da mulher é no campo e na cidade.
Museu do Piauí: Basta Exigimos Viver
A luta iniciou cedo no Museu do Piauí com a abertura da exposição “Basta! Exigimos viver” da artista LuRebordosa. A exposição serve de denúncia contra os inúmeros casos de feminicídio que ocorrem no Brasil e no Piauí. A sensibilidade e força da artista deixou o museu vermelho sangue em menção a crueldade que assola sobre as mulheres vítimas de violência. Morte, estupro, violência psicológica … as paredes ficaram pequenas para o grito de basta.
De acordo com os dados da Secretária de Segurança Pública do Piauí, quase metade dos homicídios de mulheres em 2018 foram motivados por questões de gênero, ou seja, foram mortas pelo fato de serem mulheres. Registrou-se 55 mortes de mulheres durante o ano de 2018, destas 25 foram assassinadas pela condição de ser mulher.
Nas obras expostas a artista pergunta “Quem matou Marielle Franco? Quem matou Fernanda Lages?”. Também se relembra as mulheres que foram perseguidas políticas e mortas e que hoje são símbolo da luta pela liberdade feminina como Esperança Garcia, Olga Benário, Dandara, Teresa de Benguela, Joana D´Arc, Hipatia, Marinalva Manoel, Luiza Mahín e Irmã Doroti.
A tarde, a programação seguiu com roda de conversa “Todas Somos uma Só”, às 14h30, e a performance “Cartas para Mulheres de Cor” da companhia Luzia Amélia de dança. A exposição segue até o dia 15 de março.
“Não queremos flores queremos permanecer em nossas casas”
Dezenas de mulheres tomaram as escadarias da prefeitura de Teresina na manhã do 8 de Março representando o Movimento de Atingidas pelo Programas Lagoas do Norte (PLN), Movimento de Atingidas por Barragens – MAB, Grupo de Mulheres da Pastoral da Juventude do Meio Popular e Organização do Poder Popular – OPA. O ato serviu de denúncia pela ineficácia das políticas públicas municipais no combate à violência contra a mulher.
O grupo de mulheres atingidas pelo PLN levantou o grito “Não queremos flores, queremos permanecer em nossas casas” contra o programa de revitalização da zona norte que pretende afetar mais de 3 mil famílias da região e já deslocou centenas de famílias para lugares distantes do acesso às políticas públicas. As mulheres da Zona Norte denunciam ainda que a maioria dessas famílias são sustentadas por mulheres, sendo estas as principais atingidas pelo mega empreendimento da Prefeitura patrocinado pelo Banco Mundial e Governo Federal. É válido lembrar que, segundo IBGE (Dados do último PNAD, 2018), 28,5% dos lares brasileiros são chefiados por mulheres. De outro lado, essas mulheres são as primeiras a sentir o baque de qualquer política social, agravando-se ainda, no caso do direito moradia.
Deste modo, o ato declarou que este modelo de cidade projetado pelo Programa Lagoas do Norte se configura como uma violência contra a mulher. Assim, por volta das 11 horas da manhã uma comissão de mulheres fez a entrega da carta de reivindicação à Prefeitura de Teresina, no entanto, o prefeito de Teresina, Firmino Filho, não recebeu o grupo de manifestantes. Na carta reivindicam “para que a violência que nos ameaça e nos expulsa de nossos territórios, de nossas moradias seja identificada como violência de gênero contra mulher” (clique aqui para acessar a carta na íntegra).
Durante o ato, prestou-se homenagem a Dona Isabel de Paula, mulher idosa que morreu vítima de ataque cardíaco após saber que sua casa seria removida por conta das obras do PLN.
Ele Não: Mulheres protestam contra a Reforma da Previdência e lembram Marielle
No período da tarde, várias organizações, sindicatos, coletivos, partidos e mulheres independentes se reuniram na Praça da Liberdade e marcharam na principal avenida da cidade – Frei Serafim- pra juntas gritarem por JUSTIÇA e não à reforma da previdência.
Para Neide Carvalho, Coordenadora da Frente Brasil Popular e do Movimento de Moradia, “Nós estamos marchando contra toda e qualquer forma de violência contra a mulher, principalmente a questão do feminicídio. Nós não podemos ficar caladas e calados, porque cada mulher que morre nesse momento não é só mulher, ela é filha, ela é mãe, ela é irmã, ela é prima, ela tem alguém, um homem, tem as pessoas da vida dela”.
Neide destaca também que a reforma da previdência atinge frontalmente as mulheres, especialmente as camponesas “Não podemos ficar dentro de casa vendo pela televisão essa barbárie que é chamada de Reforma da Previdência. Jamais nós mulheres urbanas que temos as dificuldades, que sofremos as violências e que somos exploradas no trabalho, vamos nos comparar com as mulheres do campo, que desde pequena trabalha na roça de sol a sol, sendo duplamente marginalizada. Então a ordem aqui é resistir e fazer a revolução feminista nas ruas.”
A reforma que está em curso afeta em vários quesitos as mulheres, tendo como carro-chefe a padronização da idade mínima, isto fará com que as mulheres, em empregos urbanos, trabalhem cinco anos a mais; servidora públicas ou trabalhadoras rurais trabalharão mais dez anos; professoras mais 15 anos, segundo o artigo de Ana Carolina Freitas “Como a reforma da previdência afeta as mulheres?”. O projeto omite o trabalho doméstico e ignora que hoje as mulheres recebem 33% a menos que os homens para desempenhar os mesmos trabalhos.
Entre gritos de ordem e pedidos de Lula Livre, as mulheres se unificaram pra dizer que não vamos mais ficar paradas em casa, não vamos mais aceitar que sejamos mortas, estupradas, violentadas, assediadas e que não iremos aceitar a reforma da previdência.
Segundo Lila Luz, professora da UFPI, “Um dos nossos propósitos nesse ato é exatamente dizer pra sociedade que não admitimos que retirem os nossos direitos. Temos que tá na rua, porque essa é uma sociedade machista, por exemplo, cresceu o índice de feminicídio, de visibilidade do feminicídio no Brasil e em Teresina, e a gente precisa denunciar e se a gente ficar em casa não dá pra denunciar.”
Dalila Calisto, coordenação do Movimento dos Atingindo por Barragem, salientou a importância do ato para cobrar que os crimes ambientais cometidos pela VALE não fique impune, a mineração inclusive, tem impactado profundamente o cerrado piauiense. Além disso, ela destacou “Mas também estamos nas ruas pra dizer que é possível haver aposentadoria pública no nosso país”, diz. Dalila destaca ainda a violência institucional contra as mulheres com governos que legitimam práticas machistas e autoritárias “a gente tá vendo uma epidemia de casos de femincídio no Piauí, no Brasil e no Mundo”, assevera. É válido lembrar que o presidente Bolsonaro no 8M afirmou que seu Governo tem paridade de gênero, quando existem apenas duas mulheres nos ministérios. Além disso, uma de suas Ministras, Damares, famosa por expressar ideias nonsenses, afirmou que a igualdade de gênero incentiva a violência contra a mulher (oi?, desce da Goiabeira Jesus, porque aqui tá osso, Volta, pufavô).
A juventude também estava presente e a Brenda Marque, coletivo de juventude AFRONTE, afirma “O 8 de Março não é uma data de comemoração, pelo contrário é uma data de luta, a gente lembra que apesar de ter avançado, ainda precisa de muita coisa. Hoje a gente marcha contra a reforma da previdência que aumenta a desigualdade entre homens e mulheres, a gente marcha por Marielle, que foi cruelmente assassinada. A gente afirma também que não reconhece o governo Bolsonaro como um governo legitimo, como um governo que representa as mulheres”, conclui.
Pensaram que iriamos ficar caladas, a Luta ainda nem começou só estamos nos fortalecendo e nos unindo cada vez mais, porque ao contrário do que a mídia que passar, nós – mulheres- somos irmãs uma das outras, nós cuidamos uma da vida das outras. Ninguém vai nos parar, mesmo que derrubem uma nossa, nascerão mais mil.
O dia 8 de março e todos os dias serão de luta por Marille Franco, por Claudias, por Marias, Anas, Francisca, Teresas, Cristinas… é por todas nós.
Se cuida seu machista, a América Latina vais ser toda feminista.
A seguir confiram as fotos do ato unificado de Kelson Fontinele e vídeo do ato (imagens de Kelson e edição de Ronald Moura)
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