
Reportagem: Tânia Martins | Edição: Luan Matheus Santana
“As famílias não aguentam mais e só querem um lugar pra viver com tranquilidade, que possam produzir alimento e matar a fome do povo brasileiro”
Nazária (PI) – A luta por terra, dignidade e reforma agrária ganhou novo capítulo no Piauí. Na semana passada, cerca de 800 famílias Sem Terra foram despejadas da Fazenda Mangal, localizada no município de Nazária, a 30 km da capital Teresina. O local, que pertence à família do senador da República Marcelo Castro e está abandonado há mais de 20 anos, foi ocupado em 10 de abril pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), que reivindicavam a desapropriação da área improdutiva para fins de reforma agrária e agricultura familiar.
Lideranças do MST afirmam que a fazenda acumula dívidas milionárias após projeto fracassado de cultivo de mangas. O projeto jamais se concretizou e a área, sem função social, foi abandonada, segundo denunciam as lideranças. Ainda assim, a Justiça concedeu liminar de despejo aos proprietários, antecipando a ordem de retirada das famílias. O movimento questiona o prazo para executar a operação, feito bem antes dos 15 dias previstos e com uso da força de segurança do Estado e aparato da construtora Jurema, de propriedade dos irmãos de Marcelo Castro.
Enquanto as famílias brigam por um pedaço de terra para viver com tranquilidade e plantar, o Senador Marcelo Castro possui, sozinho, cerca de 38 lotes de terras no Piauí e Maranhão, que somam um total 17.266 hectares, o equivalente a aproximadamente 24.180 campos de futebol. Esses dados são referentes ao ano de 2018, hoje podem ser ainda maiores. “As famílias não aguentam mais e só querem um lugar pra viver com tranquilidade, que possam produzir alimento e matar a fome do povo brasileiro”, afirma Francisco Sousa, liderança do MST no Piauí.

Francisco explica ainda como foi o processo. “Após 20 dias da nossa ocupação, eles conseguiram uma liminar e as famílias tiveram que deixar a área. As famílias ocuparam a margem da PI 130, em frente a propriedade. Por lá passamos alguns dias, reivindicando do governo estadual e federal para que encontrasse um local seguro para receber as famílias e construir um assentamento. No início desta semana o estado indicou uma área para levar as famílias, próximo ao assentamento Vista Bonita, também em Nazária. Uma área de 800 hectares”, disse ele
Após pressão dos acampados e negociação com o governo estadual, o Estado indicou uma nova área de 800 hectares, também no município de Nazária. A área, segundo o MST, tem potencial para acolher parte das famílias, mas não todos e, por isso, eles ainda aguardam regularização fundiária.
Em nota, o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária – INCRA no Piauí informou que “está analisando a demanda do MST por áreas de assentamento na região e cadastrando as famílias acampadas. Até o momento, 328 famílias já foram cadastradas. A expectativa é de que esse trabalho de cadastro seja concluído até a próxima semana”. Enquanto isso, as famílias seguem acampadas, em situação precária, aguardando providências. O movimento também solicita a desapropriação da Fazenda Veneza, pertencente à empresa Suzano, e que, segundo relatos, também se encontra improdutiva.
Um histórico que vai de disputas por terras a interferências em áreas de proteção ambiental

O Senador Marcelo Castro (MDB-PI), acumula histórias vinculadas à apropriação de terras no Piauí, algumas delas com suspeitas de ilegalmente. Um caso que já exposto nacionalmente pelo Observatório do Agronegócio no Brasil – De Olho nos Ruralista. Uma rápida consulta na internet se encontra várias informações ligando a trajetória do senador Marcelo a conflitos por terra, entre eles, uma disputa por 5.683 hectares no município de Cristino Castro, sul do Piauí, com um ex-vereador. Outra no município de Santa Filomena, também no sul do Estado. Ele afirma ser dono de uma área de 5.790 hectares e briga na justiça para ficar com essa terra.
Em 2018, o senador declarou à Justiça Eleitoral ser proprietário de 17.266 hectares de terras no Piauí, divididos em 38 propriedades rurais, além de 1.924 hectares no Maranhão. Outro péssimo exemplo do político diz respeito ao envolvimento na mineração de granito em uma área da União no município de Buriti dos Lopes, sem autorização. A mineradora pertence a Mathias Neto Maia Machado e Castro, sobrinho de Marcelo.

Além das terras, Marcelo Castro possui cotas de capital da Mangal Frutas Tropicais de Exportação. Os sócios da empresa são os irmãos do ex-ministro, João Costa e Castro e Humberto Costa e Castro. Eles também são donos da Construtora Jurema, flagrada, em 2011, com seis trabalhadores em condição análoga à escravidão. Também investigada por superfaturamento em obra pública, a empresa doou R$ 50 mil à campanha de Marcelo em 2014.
Já os ambientalistas o acusam de atuar para impedir a anexação da Serra Vermelha, área de aproximadamente 140 mil, ao Parque Nacional Serra das Confusões, onde ele conseguiu barrar na Casa Civil. De acordo com a Rede de Ongs da Mata Atlântica-RMA, o Instituto Chico Mendes – ICMBio, esclareceu que fez os estudos e o decreto para o presidente Lula assinar, e que uma equipe de especialistas foi conversa com o político que já vinha trabalhando para evitar anexar a área ao parque e explicou da importância de proteger a biodiversidade da área e os remanescentes do bioma Mata Atlântica, no entanto, ele foi intransigente e conseguiu junto ao governador Rafael Fontelles que não aceitasse a proteção da área no Piauí, já que ela vem sendo reivindicada pelo agronegócio.
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