Sem medo de se posicionar, Diego Armando Maradona era admirador de líderes revolucionários latinoamericanos como Che Guevara, Fidel Castro e Evo Morales. Anti-imperialista ferrenho, condenava as políticas norte-americanas de controle e dominação aos países da América do sul. No campo, nas ruas, na mídia… a arte de fazer futebol se misturava à diversas lutas por justiça social e direitos humanos.
Com Che Guevara e Fidel Castro tatuados na pele, Maradona marchou contra Bush em 2005; criticou o impeachment de Dilma Rousseff em 2016; desafiou a homofobia nos gramados. Em 1997, quando jogava pelo Boca Juniors, Maradona celebrou um gol da equipe com um beijo na boca do seu companheiro de clube, Claudio Caniggia. O histórico machista e homofóbico do futebol mundial, por alguns instantes, foi desafiado.
Era daqueles que defendia a organização dos trabalhos do futebol. Em 1995, afirmou que “O futebol deveria ser comandando pelos jogadores. Os dirigentes somente desejam roubar o dinheiro dos clubes e sair nas fotos”. Em 2008, Eduardo Galeano escreveu no Livro “Espelhos: uma história quase universal”, que “nenhum jogador consagrado tinha denunciado sem papas na língua os amos do negócio do futebol. Foi o esportista mais famoso e popular de todos os tempos quem rompeu barreiras na defesa dos jogadores que não eram famosos nem populares”
Hoje, Dieguito nos deixa, mas estará para sempre eternizado na história do futebol latinoamericano. Ele desencarnou no mesmo dia e mês do Fidel Castro. Eduardo Galeano falou sobre os dois em Futebol ao Sol e à Sombra. Hoje estão os três juntos, contando outras histórias.
A origem de Maradona no futebol talvez explique seu pensamento de esquerda. Seu primeiro clube, Argentinos Juniors, tem uma longa tradição operária, iniciada ainda no começo do século passado. Em 1904, dois clubes de trabalhadores, formados por anarquistas e alguns socialistas, se juntaram para dar origem ao Argentinos Juniors. Na década de 70, a grande estrela dos Cebollitas (como era conhecido), era Diego Armando Maradona, que estreou na equipe principal com 15 anos.
Diversas entidades de esquerda se posicionaram e homenagearam o atleta. Em seu perfil no instagram, a organização “Abuelas de Plaza de Mayo”, que atua com o objetivo de localizar e devolver às suas famílias legítimas todos os filhos capturados pela ditadura Argentina, se despediu o jogador, a quem chamaram de Diego del Pueblo.
“Diego del Pueblo, aquele que percebeu as injustiças e a dor dos outros. O bom Diego, que sabia dizer a verdade independentemente das consequências. Aquele que nos encheu de alegria e hoje sua partida nos inunda de tristeza. Até sempre querido Diego. Obrigado por sua generosidade. Você vai viver em nossa memória”, afirma.
Aqui, não se trata de “endeusar” ou minimizar as contradições de Maradona. Trata-se de reconhecer seu incomparável talento nos gramados, seu forte posicionamento político e contribuição para a luta por direitos, justiça social e soberania latinoamérica.
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