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DNA do Brasil: Pesquisa aponta miscigenação oriunda de estupro de mulheres negras e indígenas

Este conteúdo faz parte da série de reportagens sobre Direitos Humanos realizada pelos estudantes do curso de Comunicação Social da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) matriculados na disciplina Direitos Humanos, Comunicação e Políticas Públicas, unidade ministrada pelo professor Dr. Antonino Condoreli. As reportagens têm como objetivo refletir as questões de direitos humanos criando ambiente crítico no âmbito da mídia, além de contribuir para a disseminação dos conteúdos acadêmicos na sociedade.

Por Letícia Medeiros

Projeto analisará o genoma de 15 mil brasileiros; seus primeiros resultados apontam uma miscigenação pautada pelo estupro de mulheres negras e indígenas por colonizadores europeus.

Pesquisas genômicas, realizadas através da análise de sequenciamentos de DNA, permitem transpor os limites da própria ciência genética. A quantidade de informações obtidas ainda excede a capacidade humana de decodificá-las, levando a investimentos cada vez mais maiores no setor de bioinformática. Particularidades nas expressões gênicas podem revolucionar o campo da sáude e impactar projetos que prezam pelo qualidade e longevidade de vida.

No entanto, não menos importante são as contribuições para as ciências antropológicas e sociais, ao permitir uma plena compreensão do passado das civilizações. O mapeamento das estruturas sociais é tão importante quanto o mapeamento genético, pois sintetiza a maneira como nos organizamos em grupos e interagimos uns com os outros. Esses mecanismos são, em sua maioria, baseados em princípios de ancestralidade.

O Projeto “DNA do Brasil”, iniciativa do Departamento de Genética e Biologia Evolutiva da Universidade de São Paulo, pretende, com o apoio da empresa de diagnóstico médico DASA, sequenciar o genoma completo de aproximadamente 15 mil brasileiros. Lançado em dezembro de 2019, os primeiros resultados já foram divulgados a partir da análise de 1.247 voluntários e demonstram uma grande miscigenação populacional, algo já esperado e conhecido. Porém, o estudo comprova que esse processo aconteceu de uma maneira extremamente violenta: com o estupro em massa de mulheres negras e indígenas por colonizadores europeus.

A pesquisadora Lygia Pereira, coordenadora do projeto, celebrou a relevância do sequenciamento dos genomas, explicando que foi possível ver 88% das variações genéticas observadas em 54 populações ao redor do mundo. Para além dos benefícios que o sequenciamento trará para a medicina genômica voltada para a população brasileira, os achados também permitem cruzar eventos históricos para entender melhor a miscigenação do país.

Nesse sentido, o estudo comprova que o processo miscigenatório aconteceu de uma maneira extremamente violenta: com o estupro em massa de mulheres negras e indígenas por colonizadores europeus. Ao analisar o DNA mitocondrial das amostras, herdados pelo lado materno, 70% das mães que deram origem à população brasileira são africanas e indígenas. Enquanto a herança do cromossomo Y, lado paterno, é 75% europeia. 

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Com o conhecimento obtido, os pesquisadores esperam encontrar meios de prever e de tratar doenças com base no DNA da população brasileira de forma mais barata e efetiva. Fonte: DNA do Brasil.

Ao falar de direitos humanos, é necessário refletir sobre a origem das atrocidades que ainda são cometidas através de fenômenos sociais intoleráveis como o racismo e escravidão, por exemplo. São apenas 72 anos desde a Declaração Universal dos Direitos Humanos, que em seus artigos esboça o necessário para a dignidade da pessoa humana. São 32 anos desde a Constituição Cidadã, onde foram estabelecidos uma série de direitos sociais para os cidadãos brasileiros, que por sua vez abriram espaço para a criação de estatutos com o intuito de resguardar as parcelas mais vulneráveis da sociedade.

Atualmente, o Brasil possui uma das legislações mais avançadas do mundo em termos de proteção à mulher, com a Lei Maria da Penha que completou 14 anos e alterou o Código Penal, de Processo Penal e a Lei de Execução Penal, ao criar Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher. Porém, a aplicação dessa lei exemplar ainda encontra várias barreiras e falhas do nosso sistema judiciário e policial. 

A garantia dos direitos humanos ainda encontra inúmeras barreiras, visto que a malha da nossa sociedade foi construída através da desigualdade, do estupro, da privação de direitos fundamentais. Lutar pela efetivação desses direitos é honrar a ancestralidade materna brasileira, negra e indígena. São mais de 500 anos de Brasil, construídos a partir do sofrimento de povos que estão nas nossas veias.

Comments (1)

  • Felipe Bleichvelsays:

    13 de junho de 2024 at 11:27 AM

    Não tem como saber se é estupro ou não.
    Um traço de RNA, não vai dizer se a relação provém de superficialidade, prostituição, romance ou violência.
    Relações interaciais forma bem comuns durante a história do Brasil. Até mesmo incentivadas em alguns períodos, inclusive por motivos eugenistas e preconceituosos (“embranquecer” a população).
    É tudo especulação. E contenciosa, se me perguntar.

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