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Profª Drª em Educação pela USP, Adriana Sousa recebe Moção de Louvor esta sexta (20/01) da Câmara de Vereadores de São João do Piauí.

O manifesto é uma proposição da vereadora Ana Célia (PT) e acontece às 19 horas, na Câmara de Vereadores de São João do Piauí. Com foco em educação, gênero e raça, a tese de Drª Adriana Sousa é premiada internacionalmente e discorre sobre mulheres negras e o enfrentamento das desigualdades a partir das práticas de fissura.

Nascida no Semiárido piauiense brasileiro, na cidade de São João do Piauí, sul do estado; Adriana Sousa é filha da professora aposentada, Antônia Maria, a Professora Toinha, e do trabalhador rural, Expedito Benevenuto, já falecido, analfabeto até os 54 anos de idade. 

Pedagoga, graduada pela Universidade Estadual do Piauí (UESPI) e Mestra em Educação pela Universidade Federal do Piauí (UFPI), ela é pesquisadora das áreas de gênero, raça e feminismo negro e chegou à Universidade de São Paulo (USP) enquanto doutoranda na área de Educação em 2016, trajetória de vida e acadêmica que ela considera “um contrafluxo da normalidade da população negra brasileira”. Nos anos 2000, foi membra da UMP (União das Mulheres Piauienses), numa época em que, de acordo com a pesquisadora, discutia-se gênero descolado de raça. Dessa forma, Raça começa a aparecer para a Drª Adriana Sousa a partir do mestre quilombola Nego Bispo, conterrâneo da mesma cidade, e do grupo de pesquisa Roda Griô da Universidade Federal do Piauí. 

Sua relação com movimentos feministas deu-se quando ela tentou compreender a relação que tinha com seu pai. Somente no Mestrado é que, segundo Adriana, ela pôde compreender que as mulheres negras possuem um ponto de vista privilegiado para analisar as questões do país, ou seja, a partir do enfrentamento das desigualdades onde elas lideram as estatísticas e através das práticas de fissura, um conceito elaborado pela pesquisadora é que as mulheres negras podem, de maneira interseccional, mudar os rumos do Brasil.

Prêmio Internacional

Em março de 2022, antes mesmo de defender sua tese, a professora e pesquisadora Adriana Sousa foi uma das quatro ganhadoras do Prêmio John M. Tolman 2022, promovido anualmente pela Brazilian Studies Association (Brasa) nos Estados Unidos. Na época, o trabalho premiado da doutoranda tratava de um dos capítulos de sua tese. O congresso Brasa, voltado para pesquisadores de todo o mundo que estudam o Brasil, após três etapas (análise da pesquisa, do currículo e da carta de recomendação da orientadora da candidata), então premiou o capítulo intitulado “Eu sou tudo o que eles não esperavam: mulheres negras entre agência e estrutura racial”. 

Moção de Louvor

Com o resultado da premiação, logo sua cidade natal, se mobilizou para apresentar uma Moção de Louvor e Congratulações à sanjoanense Adriana Sousa na Câmara Municipal. A vereadora Ana Célia de Sousa (PT) é a autora da Moção, que traça um histórico da vida de Adriana desde sua vida escolar ainda na infância, bem como nomeia seus pais e avós.

Estudante de escola pública em São João do Piauí por toda a vida, a moção cita ainda a atribuição de Adriana ao seu sucesso profissional como consequência dos incentivos e cuidados na formação básica que recebeu de sua mãe e o acesso às políticas públicas de educação que possibilitou seu ingresso na universidade. “Diante dessa linda e motivadora trajetória, prestamos a ela nosso reconhecimento e nossa homenagem”, finaliza a moção, que terá sessão solene para entrega do manifesto à pesquisadora em São João do Piauí nesta sexta (20).

Além do presidente da Câmara, Moacyr Rocha, que abre a sessão, a solenidade conta com outros vereadores, familiares e autoridades da capital.

Tese

“Como mulheres negras constituem trajetórias de formação e carreira em áreas elitizadas e, neste processo, elas possuem/usam conhecimentos (para além dos conferidos pelo diploma) para modificar suas chances e a estrutura em que atuam?”, foi a pergunta estruturante de Adriana Sousa que cercou o tema da sua tese “Mulheres Negras em profissões elitizadas: as práticas de fissura”.

De caráter inédito, palavras da própria Sueli Carneiro, filósofa e ativista que estava na Banca Avaliadora; realizado a partir de um vasto levantamento bibliográfico que lhe permitiu contribuir para a lacuna da ausência de dados sobre o tema, a pesquisadora levantou através de entrevistas, as histórias e trajetórias de vida de suas interlocutoras, as quais foram 04 engenheiras, 04 médicas, 02 advogadas e uma juíza de direito. Adriana conta que também se revelou para elas enquanto parte do grupo social mulher negra. “A intelectualidade negra me encoraja e me autoriza a utilizar na tese, conceitos de lugar da mulher negra, articulando esses conceitos através de uma construção dialógica com minhas interlocutoras, ao passo que, quando me deparei com elas minha memória foi disparada desde a infância”, explica.

Uma importante categoria levantada por Drª Adriana, são as Fissuras realizadas por essas mulheres negras, que ela resume em três características básicas. “A presença dessas mulheres causa impacto nas relações cotidianas de trabalho, desde o espanto de não ser uma assistência e sim a médica, a sua presença causa incômodo. É a mulher negra fora do lugar esperado. Outro fato, é a animosidade por parte dos colegas de trabalho, o confronto direto com autoridades, as relações com equipes subordinadas, como tudo isso impactava na forma de produzir conhecimento. Os cuidados e postura em como atendiam seus subordinados, seus jeitos e estratégias de estar e lidar com espaços de poder. Em alguns momentos, era o agir silencioso, quieta, como estratégia de enfrentamento. Por fim, de que forma essas profissionais se utilizavam desses conhecimentos para alterar suas chances individuais e do coletivo”, relata e questiona a pesquisadora.

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