É na Praça da Liberdade que os antifascistas de Teresina se encontram. O ato que aconteceu na manhã do último domingo (7) levou a pauta antiracista para às ruas. Com um tom marcadamente antiBolsonaro, organizações de esquerda, militantes independentes e anarquistas demonstraram que a luta antifascista é por democracia, contra o racismo e também para barrar o governo federal.
“Estamos nas ruas hoje, porque foram nos matar em nossas casas. Porque estamos cansados de morrer e estamos cansados que o único futuro que tem reservado pra gente é a morte. Estamos aqui por justiça pelo Joilson que foi assassinado pela Polícia Federal em Picos e não foi noticiado a sua morte. Não queremos morrer, nem covid, nem de bala e nem de fome”, afirma Jhouseany Rodrigues, do coletivo Rua Juventude Anticapitalista.
As falas seguem no tom de se opor à flexibilização da quarentena, onde muitos setores da classe trabalhadora nunca deixaram de ir às ruas para trabalhar. Joseany conta o caso de sua mãe. “Minha mãe sai todos os dias 8h da manhã para trabalhar na casa da patroa branca que não dá espaço pra ela ficar em casa se cuidado e se ela ficar em casa não teremos o que comer. A gente quer viver, juventude negra quer viver”, conta.
Brenda Marques faz uma defesa de que é preciso observar as periferias pois é o setor que mais tem sido atingido pela covid-19. Segundo Brenda, do coletivo de Juventude Afronte, “nas periferias a gente está morrendo não somente da covid-19 e não porque a gente é geneticamente propenso a morrer por esse vírus, mas sim porque não existem políticas públicas minimamente o saneamento básico ou condições de vida para a classe trabalhadora. E fora isso a gente tem morrido também pela política genocida do estado que ceifa a vida dos jovens negros deste país, mesmo a gente estando em casa”. Para conhecer o rastro da pandemia nas periferias de Teresina clique aqui para ler reportagem especial.
Brenda destaca que a única forma de barrar a política de morte deste país é a organização e a mobilização popular. “Essa sim a nossa forma de falar. Se a mídia fala pelos patrões a gente tem que se manifestar. É preciso se organizar em nossas casas conversando com nossos familiares sobre a importância do impeachment. A gente precisa fazer trabalho de base nas nossas comunidades. A gente tem que ganhar primeiro os nossos, para o nosso projeto. Ainda tem muita gente que acredita nas fakenews que esse governo dissemina, então só existe uma saída é que a organização”, alerta Brenda.
O militante do Movimento de luta de Bairros, Vilas e Favelas, Hector Martins, analisa os atos de hoje que estão acontecendo no país como uma resposta ao crescimento do fascismo no país que, segundo ele, vem crescendo desde as últimas eleições presidenciais e nada tem sido feito para barrar. Ele alerta: “nós tivemos acampamento fascista na capital do país, que se denominava armado, e nada foi feito, porque é de interesse do governo federal”.
Perante mais de 35 mil mortos no país, contabilizando a desesperadora marca de cerca de 900 mortos por dia, Hector afirma que o povo brasileiro se manteve em casa e mesmo assim a doença se espalhava. “O povo se manteve em casa respeitando, inclusive as direções das órgãos municipais, estaduais e da Organização Mundial de Saúde. Mas hoje o Brasil é o epicentro da crise, não porque nosso povo saiu de casa, mas porque o governo federal não investiu verbas na saúde para evitar que a doença se espalhasse”, analisa.
Hector observa também que o governo federal não trabalhou para liberar o auxílio emergencial de 600 reais para a população. Ele destaca que o aplicativo Caixa Tem, criado exclusivamente para o auxílio emergencial ficou com problemas por mais de dez dias impedindo o povo a ter acesso ao benefício. “Os aplicativos da Caixa Econômica e do Banco do Brasil, que tem muito mais usuários, não apresentam problemas. Porque que para receber o auxílio passa mais de 10 dias com problemas? É justamente por esses motivos que o povo está indo às ruas agora”, explica.
Em defesa dos atos, Hector discorda de personalidades progressistas que se colocaram contra os atos de rua que tem ocorrido no país. É válido ressaltar que há setores que discordam dos atos por pelo medo do aumento da disseminação. Um exemplo é o cantor Emicida que usou suas redes sociais para alertar que os atos podem levar à mais contaminações.
No entanto, Hector avalia que “Eles dizem que estamos fazendo o jogo da direita, mas o jogo da direita é fazer com que mais pessoas morram por conta dessa crise. O jogo da direita é usar esse momento que as pessoas não podem sair de casa para privatizar e sucatear os serviços públicos. Eles jogam é com nossas vidas. A gente tá demonstrando que os 70% (referindo-se a pesquisa de opinião, onde 70% dos brasileiros discordam das posturas do governo federal) não vão ficar parados se contentando com abaixo assinado. Os 70% não vão deixar o fascismo crescer”, explica Hector.
Francisca Carla, do movimento anarquista, defende que o momento é de sair às ruas para protestar, “já passamos muito tempo calados e hoje estamos aqui para dar mais uma resposta ao racismo e ao fascismo no Brasil”.
Confira mais fotos do ato.
Fotos da galeria: Lourdes Melo e Luan Rusvell
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