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Eleições Municipais em Teresina: renovação ou perpetuação da velha política?

As eleições municipais do último domingo (15) deram um recado muito importante ao Bolsonarismo e à extrema direita. A influência de Bolsonaro se mostrou pouco eficiente para eleger novos vereadores e prefeitos na maioria das cidades brasileiras. Aqui em Teresina foi da mesma forma, os/as candidatos/as que usam a imagem de Bolsonaro como propaganda política saíram derrotados. Pelo menos na câmara de vereadores, pois a situação para a prefeitura baila entre a direita tradicional clássica e a extrema direita. 

Por outro lado, em todo o país, a vitória nas urnas foi representativa para setores oprimidos.  Foram eleitos mais de 50 quilombolas foram eleitos/as para o executivo e legislativo municipal; 159 indígenas foram eleitos em 85 cidades de  21 estados brasileiros; e mais de 60 vereadores LGBTQIA+ saíram vitoriosos nas eleições. Um avanço fruto das lutas políticas por direitos, contra o racismo e em defesa dos povos tradicionais que ecoaram pelo planeta.

Enquanto isso, Teresina ainda parece sobrevoar os ares do colonialismo e do conservadorismo. A coligação do candidato Kléber Montezum – PSDB, formada por nove partidos, foi a que elegeu mais vereadores, 16 ao todo, representando 55% do total de vereadores eleitos. Os demais eleitos compõem a candidatura do Dr. Pessoa – MDB (três vereadores), Fábio Novo – PT (quatro vereadores), Fábio Abreu – PL (três vereadores), Simone – PSD (dois vereadores) e Diego Melo – PATRIOTA (uma vereadora). 

Os novos vereadores somam 44% do total de eleitos, ou seja, 13 dos 29 que irão assumir uma cadeira na Câmara Municipal não fizeram parte da última gestão. Mas o que tem de novo nisso? Até que ponto essa renovação, de fato, representa novas ideias para a política na cidade? O Ocorre Diário conversou com especialistas e alguns candidatos para entender e analisar esse processo. 

Professora Maria Sueli Brenda Marques

Para Maria Sueli, professora de direito da UFPI e candidata a vereadora mais votada do PSOL, o resultado da eleição não representa uma renovação, uma vez que os/as eleitos/as são filiados a partidos políticos ligados ao centrão ou à extrema direita. “Os 44% de pessoas novas são todos ligados ao esquemas políticos que já mandam na câmara. A câmara municipal, lamentavelmente, vai permanecer como sempre fez, negociando voto com Prefeito. É como se ela não existisse. Isso tem acontecido nas últimas três décadas e está caminhando pra quarta década”, afirma. 

Brenda Marques, jovem negra feminista e também candidata pelo Psol à câmara municipal de Teresina, lamenta a pouca quantidade de negros e negras entre os vereadores eleitos. “Hoje a câmara municipal infelizmente reflete essa política velha da troca de favores, a quantidade de pessoas negras diminui e nenhuma mulher negra entrou, o que cabe a nós dizer que ainda falta muito trabalho a ser feito”, afirma.

O projeto do estado brasileiro tem bases coloniais estruturadas pelas desigualdades de raça, gênero e classe

A professora Andreia Marreiro, presidenta do Instituto Esperança Garcia e professora da UESPI, avaliou o cenário eleitoral em Teresina como parte de um amplo projeto de estado, onde as marcas da colonialidade seguem delimitando esteriótipos e priorizando homens, cis, brancos e heterossexuais. Abaixo, compartilhamos na integra a fala da Professora Andreia:

O projeto do estado brasileiro tem bases coloniais estruturadas pelas desigualdades de raça, gênero e classe. Não por acaso temos uma baixíssima representatividade de negros/as, mulheres, indígenas, quilombolas e LGBT’s nos espaços de poder do Executivo, Legislativo e Judiciário. A cara da democracia representativa no Brasil é a cara do projeto colonizador: branco, masculino e herdeiro. O Sistema Eleitoral foi utilizado como uma das ferramentas de manutenção desta ordem desigual. 

Em 2020, a partir das lutas para fissurar essas estruturas, temos uma conquista importante com a aprovação da divisão igual de tempo e verba para candidaturas negras. Importante destacar que essa conquista é fruto de uma intensa mobilização do movimento negro com a denúncia de que “Enquanto houver racismo, não há democracia”. 

Se estamos comprometidos/as com a construção de uma sociedade justa e igualitária, é fundamental que tenhamos mais negros/as, mulheres, indígenas, LGBT,s, pessoas com deficiência nos espaços de poder. 

Todavia, os desafios ainda são intensos. A representatividade de mulheres e negros/as, por exemplo, importa, mas não basta. Não basta porque muitos vezes temos mulheres envolvidas com projetos patriarcais, negros/as envolvidos com projetos racistas. 

Sem dúvida, caminhamos para a construção de uma democracia em que cada vez mais as maiorias sociais lutam para se verem representadas politicamente, mas não podemos perder de vista sobre quais projetos de sociedade estão sendo artesanados.

Um desafio latente também é a ausência de uma educação crítica, reflexiva e engajada. A educação para o treinamento e reprodução nega a política. A desesperança com a política interessa apenas às elites que estão no poder. O discurso de que “todo político é igual”, “nada muda”, “política não se discute” favorece às classes dominantes que se perpetuam no poder.

É urgente entendermos nossa existência como algo político, (re) conhecer a impossibilidade da vida fora da coletividade e o imperativo de estudar para desaprender o projeto de educação colonial a que estamos submetidos para, assim, refundar a democracia brasileira.

Veja abaixo a lista dos/as Vereadores/as eleitos e reeleitos para a Câmara Municipal de Teresina

1.    JEOVÁ  ALENCAR   (MDB) REELEITO

2.    EVANDRO HIDD     (PDT)  REELEITO

3.    FERNANDA GOMES (SOLIDARIEDADE)  NOVO

4.    LEVINO DE JESUS  (REPUBLICANOS) REELEITO

5.    GUSTAVO DE CARVALHO (PSDB)   REELEIÇÃO

6.    PAULO LOPES (PSDB) NOVO

7.    EDSON MELO (PSDB) REELEITO

8.    LUÍS ANDRÉ  (PSL)   REELEITO

9.    ALUÍSIO SAMPAIO         (PROGRESSISTAS) REELEITO

10.    DR. LEONARDO EULÁLIO (PL) NOVO

11.    TERESINHA MEDEIROS  (PSL) NOVO

12.    VENÂNCIO CARDOSO     (PSDB) REELEITO

13.    VALDEMIR VIRGINO        (PROGRESSISTAS) REELEITO

14.    ENZO SAMUEL               (PDT)   REELEITO

15.     NETO DO ANGELIM       (PROGRESSISTAS)  REELEITO

16.    PROFESSOR ZÉ NITO       (MDB) REELEITO

17.    DEOLINDO MOURA         (PT)   REELEITO

18.    EDILBERTO “DUDU” BORGES (PT) REELEITO

19.    DR. LUIZ LOBÃO    (MDB)  REELEITO

20.    ELZUILA CALISTO     (PT)  NOVO

21.    THANANDRA SARAPATINHAS (PATRIOTA) NOVO

22.    POLLYANNA ROCHA (PV) REELEITA

23.    ISMAEL SILVA       (PSD) NOVO

24.    VINICIO FERREIRA  (AVANTE)  NOVO

25.    ALAN BRANDÃO     (PDT) NOVO

26.    RENATO BERGER   (PSD)   NOVO

27.    BRUNO VILARINHO  (PTB)   NOVO

28.    MARKIM COSTA             (DEM)   NOVO

29.    CAP. ROBERVAL QUEIROZ  (DEM) NOVO

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