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Em meio ao calor extremo, obra do metrô de Teresina destrói dezenas de árvores na Av. Maranhão

Texto: Tânia Martins | Edição: Luan Matheus Santana

O clima mudou, nós também precisamos mudar. Compreender que as cidades precisam de políticas justas e eficazes direcionadas a combater as mudanças climáticas é um dever dos gestores públicos. No caso de Teresina e nas demais 222 cidades do Piauí, as ações demonstram pouca ou nenhuma intenção de transformar suas cidades a partir de um olhar socioambiental, ao contrário, vêem na natureza possibilidades de lucros.

Na capital do Piauí, o Governo do Estado, por meio da Secretaria dos Transportes (Setrans), está executando as obras da primeira etapa da modernização e revitalização do Metrô de Teresina. O investimento é milionário e a promessa é de triplicar o número de passageiros. São R$193 milhões na primeira etapa e outros R$390 milhões já orçados para a segunda etapa. Lendo até aqui, até parece uma notícia boa, afinal, o objetivo é melhorar a mobilidade urbana em Teresina, que há mais de uma década enfrenta uma crise sem fim.

No entanto, o que tem indignado especialistas e ambientalistas comprometidos com os desafios em curso das mudanças climáticas, é que o desenvolvimento da Teresina só parece ser possível quando passa por cima da natureza e da já pouca cobertura vegetal da cidade, que um dia já foi verde.

Para viabilizar parte da obra do metrô, o Governo do Estado optou por matar dezenas de Angicos Brancos, majestosos e com décadas de história. O angico que, por sinal, é árvore símbolo da cidade de Teresina. Outras árvores também foram retiradas do local, para dar lugar aos trilhos do metrô de superfície nos mais dois quilômetros da linha férrea na Avenida Maranhão. Teresina, ao contrário do crime ambiental praticado, merece viver em uma cidade limpa, segura e com os ecossistemas estáveis.

Os impactos promovidos pela destruição das árvores na “capital do sol” já podem ser sentidos pelos ciclistas que utilizam a ciclovia ao lado do túnel, antes protegidos pelas copas dos gigantes angicos. “Fui surpreendida com a devastação, a vontade é de chorar”, disse Amanda Santos, ciclista que costuma usar a ciclovia quatro vezes na semana. “Por que, meu Deus, fizeram isso? Tenho certeza que para ampliar o trilho necessariamente não precisava derrubar as árvores”, continua a ciclista visivelmente triste.

Foto: Luan Rusvel

Amanda tem razão. O desenvolvimento das cidades não pode e nem deve estar separado do debate ambiental e climático.

“As árvores não precisam sair, elas, melhor que o concreto, sabe fixar-se no solo e proteger as encostas”, diz o arquiteto e urbanista Luan Rusvell, para quem a solução escolhida foi “burra e egoísta”. Segundo ele, “bastaria usar novas tecnologias para garantir que elas continuem promovendo os serviços ecossistêmicos à cidade que é uma das quentes do País”, garante. Cada dia mais quente, Teresina precisa urgentemente de uma política capaz de atender aos enormes desafios sociais e ambientais causados pela emergência climática. Eventos extremos, calor extremo, escassez de águas. Fenômenos que tendem a ficar cada vez mais comuns, caso não tomemos medidas urgentes.

Comments (2)

  • Gasparsays:

    12 de outubro de 2024 at 6:41 AM

    A questão entre a proteção/conservação dos espaços verdes e obras de infraestrutura é insustentável. A sociedade não entende, nosso poder de engajamento é ínfimo. As pessoas envolvidas pela causa são poucos. E aí é só alimentando os pombos como diz Zé Geraldo! Mas, alguém precisa trabalhar nesse estado/país!

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