Moradores e apoiadores das comunidades atingidas pelo Programa Lagoas do Norte enfrentaram com arte e resistência o grande circo que prefeitura de Teresina armou para o aniversário da cidade. Em protesto por conta da demolição de dezenas de casas na Vila Apolônia e Mafrense, os manifestantes chamaram a atenção da população durante o corte do bolo na praça do Poti Velho, nesta sexta-feira (16) no aniversário da cidade.
Cerca de duas mil pessoas esperavam há horas as migalhas em forma de bolo dadas pela prefeitura. Ironicamente o prefeito escolheu a praça do Poti Velho, zona Norte da Capital. Deste modo, tenta encobrir as ações violentas que destruíram cerca de 30 casas na região do Programa Lagoas do Norte. Este programa vem removendo centenas de pessoas de suas moradias e seus modos de vida, invisibilizando que foram estas pessoas que construíram a cidade de Teresina com sangue e suor.
O som alto e a aparelhagem cara da prefeitura de Firmino Filho (PSDB) não foram suficientes para abafar o grito de resistência dos moradores que denunciavam com a palavra de ordem: FIRMINO DITADOR, MASSACRA MORADOR!
Além de cartazes e faixas, os manifestantes distribuíram o informativo “Boletim Esperança” (produzido pelas comunidades que resistência frente as desapropriações do Programa Lagoas do Norte), denunciando que todo este discurso da prefeitura não passa de falácia. A mídia alternativa e a força do corpo a corpo e voz a voz, são algumas das alternativas diante dos milhões de reais gastos pela prefeitura para investir nos meios de comunicação locais. Na grande mídia se vende nos programas especiais de aniversário da cidade um discurso de Teresina em crescimento, capital do futuro, uma Teresina que respeita a cultura local e a diversidade da população. No entanto, por trás dessas imagens há uma verdadeira destruição de terreiros, de memórias de famílias e da história dos povos tradicionais da cidade.
Resistir é arte: Em protesto, manifestantes performam Banho de Sangue
A arte também deixou a mensagem de resistência. A artista Luíza Amélia e grupo de manifestantes performaram o Banho de Sangue que simbolizou o massacre da prefeitura aos moradores atingidos pelos programas da prefeitura. Toda a mega estrutura da prefeitura não foi suficiente para impedir que centenas de pessoas que acompanhavam o evento fossem atraídas para ver a intervenção, que gritava denúncias e violações ao som do movimento e das expressões dos bailarinos.
Diante do cinismo e da ironia da prefeitura em dar bolo à população mesmo com todo o processo excludente na comunidade, um dos manifestantes não quis do bolo e tentou devolvê-lo a Firmino e simbolicamente o arremessou de volta. O ato foi suficiente para a gestão Firmino retirar a máscara de amigo do povo e acionar a polícia, mostrando sua verdadeira face, a face de opressor e inimigo do povo pobre.
Um único manifestante munido com um pequeno pedaço de bolo foi alvo de dezenas de policiais da Guarda Municipal e a Polícia Militar, armados e com suas viaturas, mostrando o poder de truculência da PM contra os inimigos do prefeito. O manifestante é estudante da UFRJ e está de passagem por Teresina, ele foi perseguido pelos policiais, algemado, posto de forma grotesca na carroceria do carro da polícia.
“Manifestei contra as remoções do governo fascista. Eles vieram com toda truculência atrás de mim. Acho injusto o que o governo está fazendo. Não sou bandido, não sei o que estou fazendo aqui”, disse o rapaz algemado em cima da viatura da Guarda Municipal.
Ao tentar impedir a prisão do manifestante, a moradora do Lagoas do Norte, Maria Lucia de Oliveira foi agredida pelos policiais.
“Nossa Teresina não enxerga nosso sofrimento. Esse prefeito nos massacra e quer retirar os moradores que construíram esse bairro, que construíram essa cidade com seus braços, com seu suor”, gritou a moradora para os policiais.
Além de Lúcia, seu irmão Chico também foi alvo da reação ostensiva da polícia e da Guarda. Outro grupo de manifestantes que tentou impedir que a polícia levasse Cristian quase foi atropelado ao entrar em frente a viatura.
O estudante foi levado à Central de Flagrantes sob a alegação de crime de desobediência. Ele foi liberado sem nenhum registro, graças ao apoio de advogados populares.
Toda a truculência da prefeitura e dos governos não conseguirá calar a luta dos moradores que continuam a reivindicar por sua permanência e pelo respeito às suas memórias e vivências. A agressividade e a criminalização do movimento só demonstram e fazem vir a público a verdadeira face sob a qual a prefeitura sempre olhou os moradores da zona norte que resistem à forma opressora com que a prefeitura quer arrancar suas moradias e histórias.
Deixe um comentário