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ESTUDANTE DA UESPI DENUNCIA CASO DE RACISMO EM SALA DE AULA  

“Cadê a menina do cabelo assanhado?”, perguntou uma professora do curso de Enfermagem da UESPI à estudante Ilana Monteiro, em sala de aula no dia 30 de outubro. A situação gerou revolta na turma e principalmente na estudante, que procurou a delegacia de Direitos Humanos para registrar Boletim de Ocorrência.

Em um país onde o povo negro é a maioria da população (55,8%, de acordo com o IBGE) e a minoria dentro nas universidades (30% de acordo com o IBGE), casos de racismo e injúria racial ainda são comuns nos espaços acadêmicos. Isso porque ainda essa minoria universitária, data de um período muito recente na história do Brasil, visto que no início da década de 2010, esse número era por volta de apenas 15%.

“Nesse dia a professora chegou e já veio gritando no corredor, eu não entendi bem. Aí quando ela entrou na sala já foi perguntando: cadê a Ilana, aquela menina do cabelo assanhado, aquela menina que fica me atazanando toda hora por causa de nota de prova. Vocês me atazanam demais”, relata a estudante.

O caso começou após a estudante solicitar da professora notas de uma prova que tinha feito. Ilana contou para equipe do Ocorre Diário que falou com a professora no dia anterior do caso e na quarta-feira (30/10) haveria uma outra prova, marcada para às 8h. A professora atrasou e às 9 horas, um grupo de estudantes da turma procurou a coordenação do curso em busca de notícias da professora. Após isso, a professora enviou uma mensagem para Ilana informando que iria atrasar, mas, segundo a estudante, a situação teria irritado a professora, que já entrou na sala acusando Ilana com comentários racistas.

“Aí ela foi andando até a mesa, jogou as coisas em cima da mesa com muita força, dizendo: ‘ei menina do cabelo assanhado, porque você fica falando essas coisas? Porque você foi atrás de coordenador?’ Eu disse que não fui atrás de coordenador e as meninas da turma falaram que foram elas. Ela perguntou porque eu não avisei a turma do atraso e eu mostrei meu telefone, com a mensagem que mandei”, explica Ilana.  “Aí ela olhou pra mim e disse: seu cabelo é ruim sim, você vai me desculpar, mas seu cabelo é ruim sim”, afirmou a estudante.

 

“NÃO TIVE REAÇÃO”, DIZ ESTUDANTE

Depois das ofensas, a estudante disse que não teve reação. “É uma coisa que eu sofro a vida inteira, foi o motivo de eu ter alisado meu cabelo por sete anos. Porque eu não queria mais ter que passar por isso, das pessoas estarem me discriminando por conta do meu cabelo”, afirma Ilana.

Esse estado de paralisação acontece em muitos casos de racismo, mesmo com pessoas que estão cientes desse processo, pois o racismo não dá trégua no Brasil, e acontece velado, de diversas formas. Contrário a isso, temos outras pessoas que canalizam para a raiva e o ódio essas opressões. Nos dois casos temos sementes do trauma colonial e racista em pessoas negras que circulam e disputam espaços dominados por pessoas brancas.

 

PROFESSORA PEDE DESCULPAS E ALEGA MAL ENTENDIDO

Na sexta-feira (01/11), a professora retomou o assunto em sala de aula, após descobrir que um Boletim de Ocorrência foi registrado contra ela. “Eu só quero dizer que lutei muito por esse curso e não é um mal entendido que vai avacalhar o curso não, jogar o curso na lama. Isso vai pegar mal pra enfermagem gente. Eu vou ser processada por um mal entendido”, afirma a professora em áudio gravado pela estudante.

Na gravação, a professora pede desculpas chorando e afirma que não é racista. “Se eu fosse racista eu não teria casado com um marido negro, eu tenho uma filha que tem um cabelo igual ao da Ilana. Isso aqui é o maior testemunho que não tenho racismo na minha casa, eu quero mostrar essa boneca. É da minha filha, a que ela mais amava. Isso aqui mostra que eu não tenho racismo”, afirma a professora no áudio gravado pela estudante na sala de aula. 

O tom que move a fala da professora não é isolado. O Brasil se auto intitula para o mundo como um país miscigenado, onde os mais diversos povos estão misturados e ainda que conseguimos ver isso nos próprios traços das pessoas, que são vistas como ‘exóticas’. E é justamente esse o imaginário que as movimentações negras vêm tentando modificar. A ‘mistura’ do povo brasileiro se deu às custas de sangue derramado, povos sequestrados e traficados, mulheres negras e indígenas estupradas. Tudo isso com uma base sólida da população branca que sempre se manteve inerte, agarrada aos seus privilégios e sem nenhuma pretensão de compreender o racismo como um problema mais seu do que das pessoas pretas.

 

DCE UESPI EMITE NOTA DE REPÚDIO

Em nota de repúdio, o Diretório Central dos Estudantes da UESPI – DCE UESPI Livre, repudia qualquer forma de violência e desrespeito por parte de professores à estudantes. “Não nos calaremos diante de episódios de racismo e assédio moral em sala de aula como ocorreu, quarta-feira, 30 de outubro, no CCS com uma estudante negra da instituição. Lutamos por respeito e dignidade acima de tudo, e viemos notificar que essas práticas opressoras mão passarão despercebidas e os responsáveis não ficarão impunes”, afirma a nota.

 

 

** A equipe do Ocorre tentou contato com a professora, mas não teve sucesso. 

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