No dia 28 de setembro de 2023, estudantes de diversos cursos da Universidade Federal do Maranhão (UFMA) ocuparam a reitoria da instituição após uma onda de mobilizações em prol de melhorias estruturais e educacionais da universidade, onde estão resistindo até a data de fechamento deste texto, exatamente 18 dias após o início da ocupação, levantando uma série de pautas sobre a política de assistência estudantil.
Campanha “Lutar não é crime”. Foto: Lucas Santos
Reivindicando melhorias nas estruturas dos ônibus que dão acesso ao campus, abertura total do restaurante universitário, apoio financeiro e institucional às mães, pais e gestantes universitários, além de melhorias na casa dos estudantes, diversos alunos, viram nos movimentos da Greve da meia passagem (1979) e da Greve estudantil (2013 e 2016) uma inspiração para fazer suas reivindicações serem ouvidas.
As primeiras reivindicações do presente movimento se desencadearam com a situação das duas residências universitárias na cidade de São Luís. A REUFMA (Residência Universitária da UFMA), fundada em 1969, carrega um símbolo da resistência pela reivindicação da política estudantil. A seguir veja o vídeo dos residentes demonstrando a situação da casa.
A Casa dos Estudantes do campus Bacanga também carrega histórico de re-existência, visto que foi nela o episódio datado de 10 anos atrás em que um estudante se acorrentou em greve de fome para que o prédio não virasse uma pró-reitoria. Mais informações aqui. Estudantes de ambas as casas mostram precariedades e exigem melhorias urgentes.
A ocupação atual se originou de manifestações organizadas por alunos e centros acadêmicos da própria universidade, através de grupos de WhatsApp. Esses estudantes expunham nessa plataforma os problemas em comum e específicos de cada centro de ensino. A partir disso, o primeiro ato em favorecimento ao direito dos estudantes foi a organização de uma assembleia geral, que legitimou e “oficializou” a luta dos estudantes.
No entanto, as reivindicações parecem não ter surtido efeito na administração superior, que não esboçou resposta positiva. Sendo assim, com o start nas reivindicações, novos apoios surgiram aos manifestantes, culminando na ocupação, no dia 28 de setembro, de parte do prédio da reitoria da universidade.
É importante destacar que ainda na segunda, dia 9 de outubro, alguns estudantes receberam em seus e-mails uma ordem de desocupação, sem qualquer diálogo por parte da reitoria. No dia 12/10/2023, por volta das 19h30, os estudantes foram surpreendidos com duas viaturas da Polícia Federal com policiais armados e sem identificação inspecionando o movimento grevista. Veja mais a seguir:
Os estudantes sustentam que a ocupação tem sido um movimento pacífico de profunda aprendizagem sobre a universidade e o fazer político coletivo. Desde o primeiro dia, o movimento tem promovido aulas públicas, rodas de conversas, cine debates, além de desenvolverem a pedagogia do trabalho que permite partilhas diárias das tarefas, desde manter o ambiente limpo e fazer comida, até a manutenção da segurança dos discentes que atravessam a madrugada no prédio.
Mobilização estudantil traz à tona as necessidades da universidade e precária assistência estudantil
Em relação às perspectivas futuras, o aluno de Jornalismo e membro do Diretório Acadêmico de Comunicação Social, André Moreno, destaca que a mobilização visa impulsionar o movimento estudantil na universidade e fazer com que debates sobre demandas de urgência sejam colocadas novamente em primeiro plano. Movimento também tem chamado atenção para precarização da universidade como falta de salas de aula, falta de ar condicionado nas mesmas, banheiros quebrados, dentre outros.
Segundo o estudante André, frente a falta de atenção do reitor da Universidade Federal do Maranhão, Natalino Salgado, o espaço universitário está marcado pelo imobilismo. Na sequência, é dito que a luta é, especialmente, dos estudantes da moradia universitária e que a causa abrange outras questões infraestruturais não reconhecidas, como a superlotação dos coletivos e o reajuste do valor das bolsas de permanência.
Já a estudante do curso de Artes Visuais da UFMA e moradora de uma das residências estudantis da universidade, Ágata Lakshimi, declara que após as manifestações os alunos esperam que Natalino Salgado cumpra, de fato, com os compromissos institucionais estabelecidos e assinados por ele quando assumiu o cargo de reitor. Por outro lado, a administração superior se esforça para mostrar boas condições e investimentos, como afirma a matéria do dia 29/09 que diz haver “fortes investimentos nas residências universitárias” em relatório de 2019-2023.
A mobilização estudantil representa um movimento crucial para trazer à tona as demandas urgentes e promover mudanças significativas no ambiente acadêmico. Os estudantes esperam que o movimento de ocupação e as manifestações realizadas inspirem a criação de um novo espaço universitário, com articulação da força estudantil, por meio do respeito e, principalmente, do diálogo.
O movimento grevista conta que com a pressão foi possível conseguir uma série de equipamentos, tais como ar-condicionados para as residências universitárias e máquinas de lavar roupas. No portal da UFMA, a administração superior informa sobre a aquisição de eletrodomésticos e colchões. No entanto, segundo ocupantes, as demandas colocadas ainda não estão sanadas, além de não haver garantia de instalação dos equipamentos.
Confira a seguir os cards com as conquistas do movimento:
Mães também querem estudar e serem cientistas
Bruna Travassos, estudante de História na UFMA e integrante ativa do movimento estudantil em prol das mães universitárias, compartilhou suas experiências pessoais e refletiu sobre a falta de políticas de apoio às mães estudantes na universidade. Este relato ocorre em meio à ocupação no prédio da reitoria, agora em seu 15º dia, onde estudantes, incluindo mães como Bruna, se acorrentaram em um ato de protesto pela falta de políticas inclusivas. A estudante, ingressante em 2018, enfrentou desafios significativos ao engravidar em 2022, quase concluindo o curso.
Durante a pandemia, ela tirou licença maternidade e, posteriormente, enfrentou dificuldades para conciliar os estudos com a maternidade, cursando apenas duas disciplinas por período e fazendo estágio. Moradora da residência universitária, Bruna foi pressionada a sair quando seu bebê completou um mês, alegando que não era um ambiente adequado para crianças.
A pauta das mães estudantes é uma das questões centrais neste movimento. Em todos os espaços da ocupação, os colegas mantêm espaços de ciranda para as crianças, as imagens de bonecas e cavalinhos também povoam a reitoria entre cartazes e colchões. Inclusive, os estudantes, com o dinheiro arrecadado de pessoas solidárias, sindicatos e movimentos sociais do campo e da cidade, compraram uma cadeirinha de alimentação para bebês e instalaram no RU. O ato simbólico de instalação da cadeira foi chamado de “Dia do Brincar”, no sétimo dia de ocupação. Veja mais a seguir.
Outra questão que levantam as mães estudantes é a falta de incentivo para que elas continuem em sala e possam ir além das mesmas. Por exemplo, elas podem receber uma bolsa de 200 reais, mas não podem reivindicar uma bolsa de pesquisa ou extensão, pois seria considerado acúmulo. O que gera a pergunta“o que fazer com 200 reais , um filho e demandas estudantis?”.
Quer saber mais sobre a ocupação? Siga @ocupaufma no instagram e visite debates, ações culturais e artísticas, cinemas e outras atividades realizadas diariamente pelo movimento. Confira também o protocolo com as pautas de reivindicações dos estudantes.
Texto: Esta matéria foi escrita em colaboração com os estudantes da UFMA como forma de registrar a memória de mais este capítulo histórico da luta estudantil. O OcorreDiário se solidariza e apoia a luta por assistência estudantil.
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