Professores da rede municipal de ensino em Teresina estão em greve desde o dia 07 de fevereiro. A mobilização é pelo reajuste salarial de 33,23% da categoria, estipulado pela Lei Federal 11738/2008. O reajuste é baseado na comparação da previsão do valor aluno-ano do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb) dos dois últimos exercícios.
A destinação de verbas para a preparação adequada das escolas, com os protocolos contra a covid-19, para receber com segurança estudantes e profissionais da educação, é outra importante pauta das professoras e professores. Além disso, docentes reivindicam o rateio das sobras do Fundeb de 2021 e apontam vários problemas relacionados ao mau uso das verbas destinadas à educação do município.
As aulas têm sido nas ruas da cidade: professoras e professores estão organizados e vêm recebendo apoio de muitos setores da sociedade, enquanto prefeito, vice-prefeito e secretário da educação da capital piauiense fazem que não vêem, não ouvem e não entendem as demandas da categoria.
A seguir leia, na íntegra, o relato de Thaís Rodrigues Costa Oliveira, professora municipal em greve.
Por Thaís Rodrigues Costa Oliveira
Meu nome é Thaís Rodrigues Costa Oliveira. Sou professora da Rede Municipal de Teresina e estou na docência há 11 anos. Particularmente, eu detesto Grevar, não gosto de estar na rua com o sol “queimando” minha cabeça, gritando alto sem ser ouvida, clamando por algo que eu nem precisaria pedir (por ser direito meu). Está muito enganado quem pensa que nós não refletimos, não nos questionamos várias vezes antes de encarar uma greve, que não cogitamos de não ir e que o peso do nosso alunado em casa, sem aula, não dói. Infelizmente, não nos resta outra alternativa.
Estamos em greve por nossos alunos também. Estamos em greve pelo fato de ser um direito nosso garantido por Lei e encontrarem brechas para a nossa desvalorização. Estou em greve porque sei da importância do que eu faço, sei o tanto que me dedico enquanto professora, alfabetizadora ,amante da educação, encantadora e mediadora desse processo de formação, que abre tantas portas.
Eu estou em greve porque várias vezes tirei do meu salário para que minha sala aula estivesse lúdica, enfeitada, preparada para receber minhas crianças. Estou em greve porque, para a minha segurança e dos outros, comprei álcool, máscaras, fiquei sem intervalo para vigiar distanciamento, levei ao banheiro para garantir a higiene correta, ensinei diariamente protocolos para evitar contaminação por covid-19 e evitar que meus alunos estivesse em risco de ter a doença em sua forma letal.
Estou em greve porque não temos voz em outras formas, não vejo uma emissora de TV mostrar o lado do professor, não passa em nenhum veículo de comunicação as nossas dores, nossa humilhação. Estou em greve porque só podemos nos apoiar nisso. Não gosto de estar aqui nesse papel, não gosto de ouvir de pais que eu não quero trabalhar, que estou prejudicando o futuro de seus filhos, me dói ouvir um prefeito, que não sabe nem se colocar diante de uma situação, expor Deus como fator moderador de uma volta às aulas.
Bem, sabemos que, embora sem espaço para falar que o estão fazendo conosco, é um crime. Eu detesto Grevar, mas para não formarmos mais futuros prefeitos iguais ao Dr. PESSOA, estou em greve para ensinar meus alunos a lição de ser cidadão, que é se reconhecer, antes de tudo, como agente transformador de suas próprias realidades.
Estou em greve para mostrar que, além de letrados no aprender, eles precisam aprender a fazer a leitura de suas próprias vidas. Estou em greve para valorizar os que não são valorizados (somente em falas de campanha eleitoral). Estou em greve, pois sei a importância que faço nesse mundo e valorizo cada noite de estudo e dedicação que tenho feito durante esses anos todos. E, se meu Secretário de Educação e o Prefeito não reconhecem, eu faço isso por mim mesma, pois nunca esperei que alguém me enxergasse para fazer meu trabalho bem feito e não seria agora, para me valorizar, que eu iria me sabotar.
Estou em greve por mim, por nós e por vocês que necessitam de uma Educação Pública de qualidade!
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