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Governador W. Dias (PT) abandona Palácio para não receber pauta das mulheres contra o Feminícidio

Texto: Sarah Fontenelle

Fotos e vídeos: Lu Rebordosa Leite

Foto: Moura Alves/ODIA

A última semana foi dilacerante para as mulheres a começar com o caso de Aretha que morreu com 20 facadas e um atropelamento. Depois dela, mais três mulheres, em uma mesma semana foram vítimas de feminicídio. A sensação de que basta ser mulher para morrer levou dezenas de mulheres a se reunir em frente ao Palácio de Karnak para enviar uma carta de reivindicações ao Governador Wellington Dias (PT). A postura do governador endossa o que as mulheres escreveram no chão do palácio de Governo “Estado Assassino”, pois W. D fugiu das mulheres em seu carro de luxo enquanto as mesmas exigiam políticas de segurança.

Ostentando a ingrata posição de ser o Estado brasileiro que mais mata mulheres (segundo o 11º Anuário de Segurança Pública), o Piauí ainda vira as costas para as mulheres que exigem segurança, proteção e o direito de viver.  Diante de um cenário onde já se contabilizam 25 mulheres mortas em 2018 no Piauí, sendo 11 onze delas por feminicídio, Luciana Reborsa Leite aponta que  é preciso questionar quanto vale a vida de mulher seja ela cis ou trans. “Espero mesmo que alguns e algumas percebam a gravidade do que ocorre diariamente conosco e apareçam para somar e refletir”, diz.

A sangria. Em todas dói a facada e escorre o sangue de Aretha e tantas outras que morreram pelos ex-maridos e namorados, pais ou irmãos. O ato performático de Luzia Amélia, bailarina e ativista representou as chagas ainda abertas e, parece longe de cicatrizem, que matam uma a uma todos os dias.

Lúcia Ferreira, feminista, se juntou a outras mulheres que protestavam pintadas de vermelho e lembra ainda o sangue das mulheres negras da periferia que são invisibilizados. O número de morte entre as mulheres negras aumentrou em 54%, enquanto o de mulheres brancas diminuiu em 10%, segundo o Mapa da Violência. Para a ativista uma vida não vale mais do que a outra, mas vale dizer que a violência é institucional, pois é culpa de Estado que não se importa com as mulheres.

Na porta do Palácio de Governo, policiais e funcionários riam das mulheres que pediam segurança e justiça ao que foram respondidos com a palavra de ordem “Não acabou, tem que acabar. Eu quero o fim da polícia militar”.

 

Mulheres que denunciam são assassinatas

“Porque as mulheres que denunciam são assassinadas, assim como aconteceu com a Aretha e tantas outras?”, questiona a professora e doutora em Direito, Maria Sueli. Durante a manifestação, as mulheres queriam entregar uma carta com as reivindicações e propostas de políticas públicas para mudar este quadro.

Dentro das propostas de cunho imediato que a carta apresenta, as mulheres pedem a resposta de porque as instituições que são responsáveis pela vida das mulheres não impedem que isso aconteça, ao tempo em que sugere mudar a dinâmica das insituições para que a mulher seja devidamente acolhida na Casa Abrigo e que essa passagem seja temporária enquanto o Governo procura outra casa para ela se reestabelecer. Ainda a carta exige que se pesquise o perfil do feminicida e divulgue por meio de cartilhas este perfil, assim como é feito com os pedófilos. Outra proposta é que o Governo do Estado tenha ação de promoção para quem empregar as mulheres em situação de violência, caso esteja desempregada (com incentivos fiscais).

Nas ações estruturantes, ou seja, políticas públicas de longo prazo, a carta das mulheres apontam a necessidade de trabalhar os eixos Educação, Comunicação, Cultura e desenvolvimento na coordenadoria de mulheres. A compreensão neste ponto é que é preciso ter uma política definida para criar outra concepção da mulher para que avancemos rumo ao empdoderamento a igualdade entre os gêneros. Além disso, a comunicação, educação e a cultura precisam criar outras condições para por fim a cultura do medo da denúncia à desiguldade de gênero. Por fim, que neste eixos abordados possa criar uma cultura que leve a uma educação para igualdade e formar outro perfil de mulheres e homens cidadãos e cidadãs.

 

Confira a carta de reivindicações que o Governador Wellington Dias (PT) não quis receber

Carta aberta ao Governador do Estado do Piauí

As mulheres que assinam o presente instrumento em meio à multiplicação de casos de violência contra a mulher no Estado do Piauí, com destaque para os casos de feminicídios, com quatro casos na última semana, do que veio a público, com perfil de chacina, vêm ao chefe do Poder Executivo do Estado do Piauí para gritar que não aguentamos mais nos vermos morrendo a cada dia sem que nada seja feito por esse Estado que é por nós mantido para garantir nossas vidas com segurança, o que não faz: nem garante segurança e muito menos nossas vidas.
Sabemos que a violência contra a mulher está em todas as faces do Estado patriarcal. Diante disso, poderiam nos dizer: por que buscam o Estado? E a resposta é que nós mantemos o Estado, pagamos muito caro para que nos preste o serviço de garantir a nossa vida e nossa segurança como cidadãs que somos e importantes contribuintes desse Estado. Por isso acionar os poderes constituídos diante da calamidade que vivemos não é pedido é exigência. E na nossa condição de exigentes da garantia de nossas vidas, reivindicamos:

I – ações imediatas para os casos de violência em curso:
1. resposta imediata sobre as razões de denúncias feitas pelas mulheres não serem atendidas devidamente, como ocorreu com Aretha que denunciou e não foi atendida e o resultado foi sua morte;
2. levantar o perfil do feminicida e fazer cartazes e cartilhas para divulgar por meio das tvs, rádios e nas escolas;
3. mudança na atuação dos órgãos que devem proteger as mulheres para que denúncias não sejam deixadas passar e que
4. as mulheres disponham de pronto atendimento nos casos de violência, incluindo o encaminhamento para a casa abrigo enquanto isso
5. seja, com brevidade, providenciada outra moradia para esta mulher em situação de violência que não disponha de residência que não seja junto com o agressor;
6. política de emprego para as mulheres em situação de violência, cabendo ao Estado adotar incentivo fiscal para quem empregar a mulher em situação de violência;
7. considerar em toda a atuação estatal a diferença da desigualdade de gênero sofrida pelas mulheres negras, as que mais morrem nas estatísticas informadas pelos Estado, as que mais menos ganham e as que tem menos visibilidade nos casos de violência, basta ver o caso da Gisleide Alves.

II – ações imediatas para prevenir futuros casos de violência:
8. política estadual de gênero nas escolas que trabalhe a desigualdade de gênero e a importância de relações pacíficas e de respeito entre os gêneros;
9. política estadual de gênero e comunicação – obrigar os meios de comunicação das tvs abertas e rádios a ter programas voltados para educação de gênero e por relações não violentas de gênero;
10. política estadual de cultura de igualdade de gênero – a secretaria de cultura elabora programa de igualdade de gênero para desenvolver de modo interinstitucional com o objetivo de criar uma cultura de igualdade de gênero e raça;
11. política estadual de desenvolvimento e igualdade de gênero – o Estado formula uma política de desenvolvimento e gênero que inclua abertura de postos de trabalho, crédito para empreendimento de mulheres, incentivos fiscais para as mulheres empreendedoras e para quem empregar as mulheres, em especial, as vítimas de violência e igualdade salarial para postos equivalentes.
12. política de igualdade de gênero e raça – o Estado formula política de inclusão das mulheres negras, que enfrente o empobrecimento, violência e encarceramento das mulheres negras e racismo.

Queremos reposta imediata para as questões apresentadas na condição de cidadãs e contribuintes que somos.

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