
A Operação Aldeia Verde, deflagrada na manhã de hoje (19) pela Polícia Federal (PF), é um dos desdobramentos de investigação instaurada e conduzida pelo Ministério Público Federal (MPF) para desarticular esquema criminoso responsável por grilagem de terras indígenas na região do Cerrado piauiense. Segundo o órgão, entre 2021 e 2023, um grupo formado por dez pessoas – entre empresários, lideranças indígenas locais, lideranças sindicais, corretores de imóveis e funcionários públicos – promoveu a invasão de aproximadamente 6.600 hectares de terras tradicionalmente vinculadas à etnia indígena Akroá-Gamella, situadas em Morro d´Água e Barra do Correntinho, nos municípios de Baixa Grande do Ribeiro, Uruçuí, Bom Jesus e Currais.
A Associação do Povo Indígena Akroá-Gamella de Uruçuí-PI e Associação dos Povos Tradicionais e Indígenas da Comunidade Laranjeiras de Currais-PI, em comunicado oficial, lamenta a participação de lideranças indígenas nesse esquema, ao mesmo tempo que repudia todo forma de grilagem. “Repudiamos veementemente todas as formas de invasão, grilagem e depredação de nossos territórios tradicionais. Nossa luta histórica é pela proteção, demarcação e preservação das terras indígenas, garantindo os direitos constitucionais dos povos originários e o respeito à nossa cultura e ao meio ambiente”, afirma.
José Wylk Akroá-Gamela, liderança indíegna da região, reafirma a importância da luta dos povos indígenas e que casos isolados não podem se confundir com essa luta, que é histórica e fundamental para a preservação dos nossos biomas. “Não aceitaremos que nossos territórios continuem sendo alvo de criminosos que buscam lucrar às custas da destruição de nossa cultura e do meio ambiente. Reafirmamos nosso compromisso com a luta pela terra, pela dignidade dos povos indígenas e pela preservação do Cerrado, bioma essencial para a vida e a cultura de nosso povo”, afirma o comunicado oficial dos povos Akroá-Gamela.


De acordo com o MPF, os denunciados praticaram atos de grilagem de terras, forjando processos de regularização fundiária junto ao Instituto de Terras do Piauí (Interpi), com a apresentação de declarações falsas e a corrupção dos agentes públicos. No mesmo período, o grupo também forneceu armas de fogo e munições para invasores que atuavam sob sua direção, para proteger a ocupação das terras indígenas do interesse do esquema criminoso.
Foram cumpridos 2 mandados de prisão preventiva e 5 de busca e apreensão nas cidades de Teresina, Currais/PI, Bom Jesus/PI, Mamboré/PR e Maringá/PR. As investigações conduzidas pelo MPF tiveram início em 2022 com a instauração de procedimento investigatório criminal a partir de representação oferecida por um dos investigados. Ele procurou o MPF, em Floriano (PI), para narrar a existência de conflitos e grilagem de terras na região das comunidades indígenas Jacu e Morro D’Água. No curso das investigações, surgiram evidências de que o denunciante, apesar de se apresentar como indígena, estava atuando, na verdade, como intermediário na venda de terras do povo Akroá-Gamella para empresários do Paraná e de Mato Grosso, com o auxílio de uma outra pessoa que se apresentava como cacique daquela etnia. Diante dessas constatações, o MPF então pediu à Justiça Federal os dados armazenados na plataforma Google dos aparelhos celulares dos dois investigados.
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