Na última segunda-feira, 24 de outubro de 2022, faltando exatamente seis dias para o segundo turno das eleições presidenciais no Brasil, o jornalista esportivo Flávio Meireles, foi demitido da TV Clube (afiliada Globo no Piauí), após ter feito comentário nas redes sociais contra o atual presidente e candidato à reeleição, Jair Bolsonaro. Além da emissora, onde trabalhava há quase 7 anos, o jornalista também foi desligado do Clube de Futsal AABB/MESA 14, onde jogava a mais de um ano.
Flávio Meireles foi vítima de uma intensa campanha de ódio nas redes sociais, inflada por perfis bolsonaristas e que culminou com sua demissão. Nas redes sociais, uma verdadeira enxurrada de comentários pediam a ‘cabeça’ do jornalista, como se fosse palco de um dos jogos que ele por tantas vezes narrou na emissora. Flávio parece ter perdido essa partida, mas na verdade, quem perdeu foi a sociedade e o jornalismo piauiense.
Talvez Flavio não tenha se expressado da melhor forma (como ele mesmo reconheceu), mas o que chama atenção é como o tribunal virtual bolsonarista é seletivo (e, por que não dizer, hipócrita): se indigna com uma publicação nas redes sociais, mas se cala diante do presidente zombando das quase 700 mil mortes pela Covid-19, silencia diante das armas apontadas pro alto ou para Policiais Federais, relativiza insinuações à pedofilia propagadas pelo prórpio presidente. A cegueira coletiva parece ter encontrado um caminho fértil para se instaurar no Brasil.
Mas, além disso, o que a demissão de Flávio nos ensina sobre jornalismo e redes sociais? Há 3 dias a TV Clube emitiu uma nota afirmando que “a manifestação de teor político de um de nossos apresentadores em rede social não condiz com a conduta de isenção orientada pela emissora”. Assume e reafirma uma postura falaciosa de ‘neutralidade’, quando na verdade, mantém encobertos os reais motivos e interesses dos seus conselheiros e diretores.
O mito da neutralidade/imparcialidade foi absorvido pelas empresas de jornalismo no Brasil como forma de fundar uma instituição completamente isenta, justa e detentora da verdade. Se dizem imparciais, mas não dizem que são reféns do mercado, dos acordos políticos e das aferições de audiências. Se dizem isentos, mas aceitam como verdade uma campanha de ódio bolsonarista por medo de perder clientes.
O jornalismo não pode (e nem deve) ser confundido com as empresas de jornalismo. Jornalismo é, essencialmente, um estado permanente de defesa da democracia, da vida digna e dos direitos humanos. As empresas de jornalismo, embora absorvam em parte essa defesa, são essencialmente empresas e, como todas as outras no capitalismo, visam o lucro e seus interesses particulares. A isenção nessas empresas de jornalismo, assim como o tribunal do ódio bolsonarista, é seletiva. Vai até onde lhes convém.
Comments (1)
Glória Sandessays:
27 de outubro de 2022 at 12:10 AMSolidarizo-me com o jornalista. Ele agora poderá tet o próprio canal, desvinculando-se da prisão que é ter que dizer “sim, senhor”!