Press ESC to close

Júri de Janaína é adiado pela segunda vez e causa indignação na luta contra o feminicídio

Com uma tristeza nos olhos e lágrimas que não saem do seu rosto desde o dia 27 de janeiro, quando sua filha foi brutalmente assassinada, Dona Maria do Socorro, grita por justiça em frente ao Tribunal que deveria sanar parte de suas dores. O motivo do choro é que, pela segunda vez, o julgamento do feminicídio de Janaína Bezerra foi adiado.  “Nos vamos lutar por justiça, não vamos aceitar nada disso. Tem todas as provas. Eles estão aí pra dificultar. Mas queremos justiça. JUSTIÇA!”, afirma.

De acordo com a advogada do Coletivo de Advocacia Popular Piauiense, Jéssica Lima Rocha, assistente de acusação do caso, o juiz acatou o pedido de adiamento solicitado pela defesa.  “Ele (a defesa) alegou e juntou uma AIJ (Audiência de Instrução e Julgamento) em Minas Gerais e pediu adiamento por isso. Pediu para o julgamento ser em dezembro, como forma de protelar e até de conseguir a soltura do preso, mas o Juiz marcou para fim do mês. Possivelmente dia 26”, afirmou a advogada. 

O Júri Popular do feminicídio de Janaina Bezerra, que deveria ter acontecido no dia 17 de agosto, voltaria à pauta do Tribunal de Justiça do Piauí nesta sexta-feira, 01 de setembro, porém, o julgamento foi adiado mais uma vez. O primeiro adiamento se deu pela ausência de 12 jurados que deveriam ter sido convocados pela Universidade Federal do Piauí (UFPI), mas não foram. Segundo a instituição, por erro de comunicação. Neste segundo adiamento a defesa alegou que teria compromissos em Minas Gerais.

A defesa do feminicida Thiago Mayson da Silva Barbosa foi assumida pelo advogado Ércio Quaresma, que atuou na defesa do goleiro Bruno, no caso envolvendo a morte de Elisa Samúdio. Essa prática de adiamentos sucessivos já é conhecida no meio jurídico. “Sabemos que a defesa continuará usando a estratégia de adiar o júri incansavelmente. Para desarticular essa grande rede de apoio da família da Janaína. Para nos desestimular , inclusive, financeiramente. Para tumultuar e desonrar a memória da vida e da história da Janaína. Para dar lugar a fake news e insinuações. Porém, seguimos firmes, dedicados e preparadas/os”, afirma Jéssica. 

Para Madalena Nunes, da Frente Popular de Mulheres contra o Feminicídio, esse adiamento do caso é uma nova violência contra a memória de Janaína e, sobretudo, contra sua família. “Nós não aceitamos. Queremos sair desse júri popular, que de popular só tem o nome, porque a população mesmo está aqui fora impedido de assistir o que acontece lá dentro. Queremos dizer que a sentença tem que sair e é hoje. O judiciário não pode brincar com a família, amigos, a vizinhança e com os movimentos sociais”, afirma. 

Professora da Universidade Federal do Piauí ( UFPI), Marli Clementino tem o mesmo sentimento de Madalena. “Nós estamos aqui enquanto docentes da UFPI para dizer que não vamos nos calar, não vamos arredar o pé até que esse feminicídio seja julgado. Estamos aqui pra dizer: basta! Basta de violência contra as mulheres. Por que esses adiamentos? Quem está por trás disso? Porque isso significa a possibilidade desse feminicida ser solto. Soltar feminicidas sem ser julgado, significa mais uma fez matar as mulheres”, afirma.

Articulação e união popular prometem não se abater com adiamentos

Um dos  fatores emblemáticos deste caso é a organização social e popular, também como forma de pressionar o estado. “O maior deles é a organização popular, movimentos de mulheres (como o Levante Feminista contra o Feminicídio e Frente Popular de Mulheres Contra o Feminicídio), movimentos sindicais, movimentos estudantis (DCE) e observatórios de segurança que ajudam se fazendo presentes e encabeçando manifestações, pressionando instituições estatais por justiça e reparação e/ou colaborando com as campanhas de arrecadação para os custos que envolvem essa movimentação”, explica Jéssica.

Mobilização em frente ao TJ, no dia 17 de Agosto.

 

A advogada destaca ainda o apoio da mídia (institucional ou livre/popular), como um espaço importante de divulgação e também conscientização para que o que aconteceu com Janaína não ocorra novamente. “Estudos científicos indicam que uma tática da defesa nesses casos é forçar adiamentos ao júri para ir cansando e desarticulando tais movimentações. E o espaço jornalístico nos ofertado nos ajuda nessa empreitada de deixar as coisas sempre postas, para que Janaína não vire apenas uma estatística”, complementa Jéssica. 

Jéssica destaca que o caso também também foi abraçado por advogados criminalistas de outros estados, sem nenhum custo para a família, como a advogada Florence Rosa e os advogados Davi Barroso e Zanone Júnior, todos, integrantes da Associação Nacional da Advocacia Criminal. Além do apoio jurídico, tiveram também apoio de uma equipe técnica de médicos forenses e uma empresa que atua com produção 3D para elaboração de provas.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.

Pular para o conteúdo