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Kleber Montezuma diz que uso de bicicleta não é para Teresina; Para Candidato veículo só serve para Europa

Na última semana, o Conselho de Arquitetura (CAU) promoveu um debate com candidates à Prefeitura Municipal de Teresina, onde Kleber Montezuma, candidato de Firmino Filho (PSDB)  se mostrou contrário ao uso de bicicletas na cidade de Teresina. Internautas se revoltaram e consideraram a argumentação de Kleber extremamente elitista, racista e colonizadora, uma vez que afirma que tais transportes só fazem sentido na Europa e Estados Unidos. O que dizer das populações periféricas que tem a bicicleta como seu único transporte?

Kleber Montezuma demonstrou que desconhece a realidade da cidade de Teresina, a qual ele quer gerir. Ao tratar como “inimaginável” o uso da bicicleta na cidade, ele reforça o pensamento que invisibiliza as milhares de pessoas que diariamente dependem desse meio de transporte para realizar seus percursos diários. Invisibiliza e subalterniza as populações periféricas, pois são em sua maioria negras e indígenas.

No discurso Kleber afirma : “Eu conheço, assim como vocês, arquitetos e urbanistas, muitos países na Europa, e quando a gente fala em andar de bicicleta na Holanda, na Suiça, andar de bicleta na França, na Finlândia… é uma coisa. Andar de bicicleta em Teresina, onde faz um calor de 40º graus (…)é outra coisa. Eu fico imaginando, na Europa a gente vê, eu via, no Estados Unidos, morei nos Estados Unidos, na universidade onde eu estudava os professores chegavam de paletó e bicicleta. Eu fico imaginando aqui, um arquiteto aqui em Teresina sair lá do Jóquei Clube, se deslocando para o centro da cidade e de volta para lá (…)”. 

Com estas palavras, Kleber Montezuma desdenha da população, com sorriso de canto de boca, por ter ido à Europa. “Fico imaginando um arquiteto saindo do Jóquei Clube (…)”. Logo se antevê que na cabeça racista das elites teresinenses, só existem arquitetos (leia, diplomados) na Zona Leste, na fina flor da burguesia piauiense. Reparem!

Além disso, Kleber aponta o calor de Teresina, mas sequer fala de propostas que levem a capital a amenizar o clima, por exemplo, com plantio de árvores. Aliás, a gestão de seu amigo Firmino Filho, é reconhecida pela prática de derrubar árvores e só manter áreas verdes na zona nobre, prática reconhecida pelos movimentos da cidade como “Racismo Ambiental”.

11,5% dos deslocamentos em Teresina são feitos por meio de Bicicleta.

De acordo com o último levantamento realizado pela Prefeitura Municipal de Teresina (2007), as pessoas que dependem da bicicleta como modal de transporte são, em maioria homens negros, desempregados ou que ganham até um salário mínimo e que vivem nas periferias da cidade. Trata-se então de uma parcela da população que sistematicamente é excluída do acesso à cidade. Esta é uma condição alarmante na capital que possui umas das tarifas mais caras entre as capitais e é a capital nordestina com maior índice de motorização, ou seja, onde as pessoas (quem pode pagar) são mais dependentes do transporte individual motorizado (carros ou motos). Mais que um meio de transporte, a bicicleta é um importante instrumento de Direito à Cidade. 

Em um trecho do discurso o candidato afirma que “não há nenhuma pesquisa séria que fale da bicicleta em Teresina como importante meio de transporte”. O candidato mostra total desconhecimento sobre o próprio levantamento realizado pelo município através do Plano Diretor Cicloviário¹, o qual comprova que 11,5% dos deslocamento diários na capital são realizados por meio da bicicleta – um dos maiores índices entre as capitais brasileiras. Em números, podemos afirmar que pelo menos 100 mil pessoas utilizam a bicicleta diariamente para realizar alguma atividade durante o dia: ir para o trabalho, deixar o filho na escola, fazer compras ou apenas por lazer. 

As atuais propostas do candidato se somam às políticas de mobilidade urbana que vem sendo implantado em Teresina e que privilegiam o transporte motorizado e desestimula o transporte cicloviário e a pé. Nos últimos 3 anos, perdemos 25% da malha cicloviária da capital após as obras de construção do sistema inthegra, além de não ter havido qualquer ação de recuperação dos trechos cicláveis na capital. Segundo levantamento, e em conformidade com o pensamento elitista do candidato, os melhores trechos de ciclovias em Teresina encontram-se nas av. Marechal Castelo Branco e av. Raul Lopes, na zona nobre da cidade.

O povo tem Proposta para mobilidade urbana em Teresina

Em reação a esse pensamento colonizador é preciso que se diga que bicicleta é liberdade, é inclusão e resistência. E se o candidato está sem propostas para a mobilidade cicloviária, segue algumas ideias que poderiam fortalecer quem pedala em Teresina:

  • Implantar o Plano Diretor Cicloviário de Teresina e efetuar a manutenção da rede existente;
  • Realizar Plano de Arborização integrado à rede cicloviário;
  • Implantar bicicletários e paraciclos em áreas comerciais, equipamentos públicos, polos geradores de viagens, estações e terminais de transporte público;
  • Implantar um serviço de bicicletas compartilhadas e integrada ao sistema de integração de ônibus;
  • Implementar políticas de incentivo ao uso de bicicletas e estimular a economia local por meio de parcerias com as oficinas mecânicas.

¹ Plano Diretor Cicloviário Integrado de Teresina, PI – PDCI – Teresina http://semplan.35.193.186.134.xip.io/wp-content/uploads/sites/39/2016/03/Teresina-Plano-Diretor-Cicloviario.pdf

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