Pelo justo direito a moradia digna, cerca de 360 famílias ocuparam um lote de terra no Parque Universitário, bairro Samapi, zona leste de Teresina. São as ocupações Vila Verde e Núcleo Universitário. Neste caso, diferente do sonho imposto pelo sistema capitalista, é mais o sonho da moradia digna do que pela propriedade (este último próprio dos especuladores imobiliários). Hoje as famílias estão lutando contra o pedido de reintegração de posse. E a luta por moradia segue aguerrida, sem arrego.
Na encruzilhada, entre a especulação da terra e o direito à moradia, foi que no dia 24 de setembro de 2021, as famílias receberam o ultimato para abandonar seus sonhos. O pedido de reintegração de posse chegou enviado pelo Juiz da 2ª Vara dos Feitos da Fazenda Pública Comarca de Teresina direcionado para a Ocupação Vila Verde, 200 famílias, e mais 160 famílias da ocupação Núcleo Universitário. Um pedido de liminar movido pelo Município de Teresina.
Na mesma tarde se iniciou novo capítulo da luta, que agora unificou. As duas ocupações uniram-se em defesa de suas moradias, erguidas com seus próprios punhos. A Ocupação Vila Verde está no local desde janeiro deste ano.
“Só porque ocupamos agora eles querem fazer alguma coisa no terreno?”
Nádia, uma das moradoras, questiona que o local, que antes pertencia à União, passou à posse da Prefeitura há 20 anos, e está prestes a voltar à posse da União. Então questiona o fato de depois de duas décadas a prefeitura alegar que precisa do terreno para construir uma quadra e outros projetos.
Segundo o Mandado de Reintegração, no local está implantada uma Horta comunitária. “Alega que referidas áreas estavam sob a responsabilidade da Superintendência de Desenvolvimento Rural, responsável pelas hortas comunitárias, por isso, ainda sem cadastro imobiliário, mas agora estão sob a competência territorial da SAAD LESTE que vem realizando fiscalização nos imóveis do município naquela zonal”, diz o documento.
Adiante o documento, intitulado “Esbulho/turbação/ameaça”, afirma que as pessoas que ocupavam o local, haviam destruído os canteiros de hortaliças. No entanto, moradoras da ocupação afirmam que no local só haviam dois canteiros de hortas, mas não estavam ativos. Afirmam também que a maior parte do terreno era baldio e servia para desova de furtos.
A seguir é possível ver a situação do terreno assim que se iniciou a ocupação. Os espaços das hortas inativos.
Um pedaço de chão e muitas histórias de luta por moradia
Segundo reportagem já publicada aqui: A Vila Verde está implantada em um lote público que hoje pertence à Prefeitura Municipal de Teresina. Há 20 anos atrás esse mesmo lote fazia parte de uma área maior, pertencente à União e de posse da Universidade Federal do Piauí (UFPI).
Relembramos também que neste mesmo pedaço de chão, cerca de 70 hectares, foi palco de uma ocupação, onde 2 mil famílias sem teto resistiram contra tentativas de despejo entre 2002 e 2010, quando a UFPI abriu mão da disputa.
Mães e suas crianças em luta por moradia: Comunidade realiza campanha para o dia das crianças
O dia 12 de outubro chegando e a preocupação das mães destas duas ocupações, Vila Verde e Núcleo Universitário, é se suas crianças terão um teto para morar e brincar. O pedido de reintegração deu o prazo de 15 dias para as famílias saírem. O representante da PM, inclusive afirmou que a prefeitura vai dispor de carros para as famílias transportar seus pertences. Mas pra onde?
A ocupação é composta em sua maioria, por mães, idosos/as e crianças, muitas delas fugindo do aluguel ou mesmo de morar agregados com parentes. Entre as duas ocupações são pelo menos 400 crianças.
A comunidade tem realizado a campanha “Brinquedo na mão e comida na mesa”. A expectativa é arrecadar ao menos 1000 brinquedos e 500 cestas básicas.
Quer contribuir com a campanha? Envie um pix para: 013.747.343-57.
Reportagem Coletiva por: Help (Socorro) Barroso, Sarah F. Santos, Luan Rusvell, Luan Matheus Santana.
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