A resposta das sementes de Marielle em todo o Brasil é a unidade e fortalecimento das lutas populares. Em Teresina, o amanhecer por Marielle e Anderson reuniu militantes na Zona Sul da capital, na Ocupação Urbana Comunidade Resistência. Os de cima não dão respostas, e os debaixo reafirmam que vai ter luta: presente, hoje e sempre. Ela não morre.
O dia começou com o recado de Dona Francisca, uma das líderes da Ocupação Comunidade Resistência e militante cultural do Bairro Santa Cruz, em roda de conversa. Segundo ela, “A história de Marielle é idêntica a minha luta, pois minha vida toda foi de muita resistência, lutando na comunidade”, diz Dona Francisca lembrando que há dez anos o centro de vivência de idosos, que ocupam desde o dia 8 de abril encontra-se abandonado e servindo só para gerar medo. “As pessoas não passavam na rua com medo de assalto, mas hoje as pessoas passam a qualquer hora porque sabe que é firmeza”, Preto Augusto, militante cultural do bairro.
Brenda Marques, Afronte, faz coro a fala de Dona Francisca e destaca que é muito significativo conjugar o verbo luto por Marielle em uma ocupação na periferia da cidade – julgada pelo Estado como a zona mais perigosa da cidade – já que o povo negro sempre é invisibilizado e a luta de Marielle a cada segundo foi para reverter este quadro.
Para Brenda “Sempre houve a marginalização das nossas lutas, da nossa cultura. Nem sabemos quanta gente preta morre nessa cidade todo dia, porque eles não contam, nossos corpos não importam. É como dizia Marielle ‘nossos corpos são matáveis'”. Brenda lembra ainda, a solidão da mulher negra, uma companheira ingrata que se dá sempre, seja pela perda dos filhos ou de maridos que morrem por culpa de um sistema desigual.
O militante do PSOL-PI, Emerson Samuel lembra que luta não é apenas para prender ou criminalizar, nos colocando a refletir sobre os limites do Estado e o sistema penal. Segundo ele, “É importante saber quem matou Marielle e Anderson, a mando de quem e porque. No entanto, é preciso saber, acima de tudo, que a justiça a gente vai fazer no encontro e trazendo mais pessoas resistindo com as lutas que a Marielle tocava. Então o direito penal, o cárcere, essas medidas do Estado, não devem ser o centro das lutas dos movimentos sociais. O caminho é fortalecer as ocupações, a luta do povo negro, das mulheres. Só vamos garantir justiça provocando empoderamento das populações empobrecidas”, explica.
O dia inteiro na Ocupação Comunidade Resistência foi de muita movimentação e comunhão com a comunidade. Crianças, jovens, idosos e adultos dançaram, pintaram, grafitaram e, acima de tudo, renovaram esperanças coletivas, durante um dia inteiro de atividades.
Em todas as pessoas que ali passavam o sentimento de solidariedade era um só, tando em nome de Marielle como em nome da ocupação. Preto Kedé, importante militante cultural do Bairro, se emociona ao agradecer o apóio dos movimentos sociais à ocupação, mas ainda mais feliz se encontra pelo apóio da comunidade. “Há mais de dez anos a gente queria fazer uso desse espaço, mas sempre foi negado pra gente, hoje graças a Deus estamos aqui com o apóio da comunidade”, conclui.
Texto: Sarah Fontenelle Santos (Flores.Ser Comunicação Coletiva e Ocorre Diário)
Fotos: Kelson Fontinele
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