Texto: Fabíola Lemos / Foto: Germano Portela
A discussão sobre a possibilidade de demolição do antigo Meduna, revela aspectos presentes na cultura teresinense que precisam ser enfrentados. A “cidade suicida” evidenciada pelo escritor Alex Sampaio, ou ainda, “a cidade vigiada” denunciada na poesia de Paulo Tabatinga, são exemplares entre as melhores tentativas de tratar do assunto.
No paradoxo que atravessa a alma da cidade entre a indiferença e o controle, cresce uma Teresina, empenhada em matar qualquer relação de comunidade.
Projeto facilmente verificável no abandono das praças, no esvaziamento das festividades dos bairros e na negligência do poder público em preservar ou recuperar o patrimônio histórico. Desde que o grupo Sá Cavalcante comprou o espaço, vozes desconfiadas alardeavam sobre a provável demolição do prédio.
Boatos otimistas especulavam sobre o uso do espaço que deveria ser adquirido pelo poder público, assegurando à população a proteção do patrimônio e uma alternativa de equipamento de cultura.
Mas Teresina é essa cidade impregnada de mitos que repercutem em constâncias difíceis de resolver. A indiferença estimulada no cotidiano de uma juventude educada sob os apelos do individualismo, reverte-se na “maldição” de uma cidade formada por um povo muito criativo e inteligente, mas onde a meta de vida é ir morar fora.
O Meduna, enquanto depósito de gente “fracassada” é o testemunho simbólico de uma província que vive da sanha de controlar quem “presta” e quem “não vale nada”.
Essa Teresina onde errar é proibido e parecer feliz é o que importa. Chega à lembrança o caso de Sebastião Mendes de Sousa, cinzelador das portas da Igreja São Benedito que, por ser negro e suicida, foi despudoradamente silenciado e deturpado nos motivos que lhe levaram à tragédia.
No imaginário popular a justificativa de um suposto amor frustrado até hoje é invocada como forma de não enfrentar o racismo e o pedantismo que o matou. Do mesmo jeito, demolir o Meduna é reafirmar as velhas soluções de sempre. Apagar o que soa inconveniente e não discutir uma ordem social injusta e um modelo urbano que adoece.
Uma “cidade suicida” porque é provinciana, controladora, racista, pedante e que faz da indiferença um sinal de elegância. Voltar ao meduna é encarar nossa verdade, descortinar nossos mitos e fazer justiça aos que foram e ainda são invisibilizados.
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