“Resistir para não morrer”, é assim que Maria Lúcia resume a atuação das mulheres na liderança dos movimentos de ocupação pelo Direito à Moradia em Teresina. Maria Lúcia, que é vice-presidenta do Centro de Defesa Ferreira de Sousa – entidade que representa as famílias atingidas pelo Programa Lagoas do Norte – diz que as mulheres têm assumido a liderança do movimento pela moradia principalmente como uma estratégia emergencial de sobrevivência. “A luta pela vida das mulheres está diretamente associada à luta pela casa própria, isso porque o lar é também abrigo contra as múltiplas relações abusivas sofridas pelas mulheres em seu cotidiano. Muitas vezes, na realidade de extrema opressão, nem mesmo o lar pode oferecer proteção, ou mesmo, é dentro de casa que a violência é silenciada”, denuncia.
Um caso recente de violência contra mulher em Teresina exemplifica a complexa realidade das mulheres que lutam pela moradia:
“uma companheira jovem, mãe, moradora e liderança de uma ocupação na periferia, sofria constantes assédios de um dos seus vizinhos; com a vida ameaçada essa mulher pediu socorro à comunidade, que reagiu expulsando o agressor da ocupação; o agressor então endureceu as ameaças, jurando contra vida dela; levamos a denúncia para o Estado, cujas estruturas machistas não ofereceram nenhum acolhimento à vítima; ela então teve de deixar sua casa e hoje está sob proteção do lar de uma outra companheira. Ou seja, existe o aparelho do Estado, mas quando a gente mais precisa ele não funciona”, denuncia Maria Lúcia.
Em Teresina, essa luta tem demonstrado o quanto o desafio para as mulheres é muito maior que apenas o acesso ao lar. A realidade é que proporcional ao empoderamento e consciência do seu papel político, está a perseguição e atentado à vida dessas mulheres. Um outro exemplo é o que vem acontecendo na ocupação Vila Vermelha, zona leste de Teresina. Como exemplificado no vídeo abaixo, as estruturas do Estado não estão preparadas para se deparar com uma mulher à frente de uma ocupação urbana. A cena ilustra a realidade: policial de pé, armado e municiado grita e aponta arma contra mulheres sentadas.
“A liderança das mulheres na luta pelo Direito à Moradia é um grande ato de coragem”
“Nossa única saída é a organização da luta das mulheres. Por isso queremos chamar todas para se unificarem no ato do 8 de março. Estamos em mobilização nas comunidades periféricas e vamos fazer desse dia um dia histórico”, chama Maria Lúcia. O Movimento Popular de Mulheres de Teresina iniciou as mobilizações para o dia 8 de março. Neste ano, a articulação está acontecendo nas ocupações e comunidades em ameaça de remoção na capital, levantando discussões como o Direito à Cidade, violência doméstica, liderança feminina e o protagonismo das mulheres periféricas.
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