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Natureza biba: realeza biliar brasileira

Quando a gente não se ama, há uma imensa disposição para morte

É preciso inventar amor para viver

 Experimentos expositivos sobre fulegar corpo-casca

(o que seria o corpo se não uma belezura de carcaça?!)

Trilha sonora indicada para acompanhar Cortes de Cu Mara já!

corpo pode ser coleta de passageiras carapaças

Mãe dizia que muito maracujá afemia o homem. Não se pode tomar maracujá demais pra não virar mulherzinha, mas desde criancinha é meu suco preferido. Sabor frutífero predileto apesar de veladamente proibido. Como eram proibidas as brincadeiras de boneca. Se o pai visse os comportamentos femininos ainda mais exacerbados seria surra na certa. Tudo era muito escondido: a agulha roubada, as roupinhas falsamente costuradas com rudias. Não sabia costurar nem podia sonhar em pedir para que alguém ensinasse. Nem mesmo tinha bonecas a não ser aquelas folhas que eram cuidadosamente cortadas em volta do talo, que representava a coluna vertebral do pequeno ser que amava. 

No fim da tarde, quando já podia tomar banho sozinho, ia para a pia do quintal, pois  banhar no único banheiro da casa só para adultos ou sob supervisão de adultos. Também preferia a pia do quintal, pois além de ser pleno de folhas e galhos – matéria-prima para confeccionar as bonecas – havia o portal de água feito com lata de leite de alumínio cuidadosamente posicionada no jato de água que jorrava da torneira. O pai que havia ensinado aquela mágica de construir uma fina camada de água que formava um portal oval e transparente com as bordas chapiscadas de gotas ejaculativas de água onde se pulava às gaitas de alegria.  Mas o pai nunca estava em casa e a mãe vivia assoberbada de tarefas, então com uma incerta tranquilidade podia criar o portal e brincar com bonecas num reino encantado de sereias e fadas que mais tarde acolheria bruxas e pombas-giras. 

Hoje, consigo retomar os ternos prazeres pueris, 

em vez do medo de surras o acalanto de sussurros

eae

que me contam/encantam sobre… subversivas brincadeiras de criança…

hy

naturezas mortas, naturezas vivas, naturalezas bibas, artificialidades, organicidades, sinteticidades, efemeridades, durezas, belezas, les étoiles, estelares, bílis, vísceras, corporiedades, irrepetibilidades, impermanências, impermeabilidades, fungos, vírus, retrovirais, cápsulas, teletubies, recipientes, casinha, corpo-casca (o que seria o corpo se não uma belezura de carcaça?!), brincadeiras, vãos, ocos,  fita de Möbius, geometrias afetivas e afetada; encaixes, proporções áureas, flores, mousses veganas, gueixas baianas, calacas mexicanas (Catrinas e calaveras), odaliscas ciborgues, sirenas sensuais, meigas megeras, víboras visionárias, umidade, quebras, rachaduras, camadas, cavidades, dobras, plinças, rugas, pelicas, houppelande, capas, crostas, crânios, caveiras, esqueletos, texturas, tecitura de peles, pindoramas pictóricas

colorações que oscilam entre a escuridão e a claridade, o amarelo triunfa entre verdes desbotados, brancos encardidos, marrons acobreados, negro olhar aguçado, cortes (côrtes e córtes), adultérios, princesas, pestes, consortes, hierarquias, ninfas, musas, conselheiras, sacerdotisas, feiticeiras, herdeiras, bastardas, impérios, curiosidade de não haver homem algum no reinado, o nome rainha não ser mencionado, my queen, mah queen, má queer, interssexualidade, travesti, ausência de masculinidade na cavalaria, falo que grita, escuta aberta, colônias, palácios, templos, tempos, milhões, tesouros, raridades,  tonalidades douradas, amuletos, vudus, avatares, ventanias, instabilidades, frimezas, montagem, delicadezas, monstruosidades, desertos, oceanos, não lugares, morte, eternidade, desintegração, continuidade, fertilidade, semadura,  secura, resistência e cura.

Gosto de ver as coisas de Castiel Vitorino Brasileiro, Efe Godoy, Iagor Peres… Gosto de ouvir Caetana (feat Deize Tigrona) e música popular brasileira cantada por bixas e travestis.
Penso em…
Paródia de um país pleno de plantas  e plexos ameaçados e entremeados 

Paródia imperial

Paródia verde-amarela

Paródia canarinha

Paródia de gêneros

Paródia sexual

Paródia ritual

Paródia natural

Natureza da paródia

Paródia de natureza

Paródia de natureza morta

Paródia de pintura

Paródia de escultura

Paródia de plasticidade

Paródia de plástico

Paródia visual

Paródia cênica

Paródia de palavras

Paródia de sonhos

Paródia pineal

Paródia pi… anal

Paródia de mim, de não eu… de talvez algum outro que sai, que habita em angústias próximas vagando por prospectos e prosperidades (in)comuns

Passear por estas cascas é passar por finas cortinas de memória. No Seminário de Pesquisa Imaginação e Memória na Arte Contemporânea (MAC Dragão/LAC Contemporânea – CE ministrado por Lucas Dilacerda e Rodrigo Lopes) mergulhei no peso da memória e o impulso imaginário neste processo imagético me fez perceber que a quantidade de tempo empreendido nesta produção imagética não é tempo distraído, mas sim tempo de cura, de cicatrização de traumas. A obra “Para a terra volta todo corpo em matéria” – Pedra Silva/ Rodrigo Lopes/ Garu/ Viúva Negra/ Dhiovana Barroso (https://paraaterra.hotglue.me/visite), apresentada neste seminário, impactou meu olhar sobre a delicadeza fecunda das coisas da terra, e como elas são potentes pistas ancestrais, entranhadas nas nossas memórias e relações familiares, constituindo algum tipo de potência para nossas realizações futuras.

A arte não salva, mas as imagens que povoam nossa mente assim como podem nos eliminar, podem nos curar… As imagens são forças capazes de reanimar a nossa luz que teima em não sumir num mundo de holofotes massificados. Para se conectar com esta “luz interior” é preciso nutri-la com a escuridão do que não lembramos muito bem, mas que insiste em ser rememorado… numa teia tênue comburente de pontos passados a iluminarem o futuro.

Talvez todo este processo seja uma experiência, talvez seja uma obra, talvez uma vida, uma natureza morta ou uma bixa… biba, viva!

Talvez eu devesse falar da fabulosa peça dramática que conta as fugas e farsas da famigerada imperatriz mestiça, intersexual e bastarda que foi exilada para o cu das terras abrasivas

Talvez fosse muito divertido contar dos refrescos e poções de maracujá 

Talvez acontecesse algo incrível se tudo fosse ficcionável e desdobrássemos tudo em épicos novelísticos, fílmicos, chanchadas, arabesques rocambolescos e outras tentativas vãs, vis e fãs de dizer tanta coisa nalgumas linguagens.

Alguma vez estivemos preparados para  encarar a verdade das nossas mentiras ou as mentiras das nossas verdades ou vice-versa e versa vice?

Provavelmente esta seja mais uma tentativa frufrustrada de saber sobre essências, sobre sobrevivências… sobre minha própria natureza, sobre impróprias naturezas produzidas

Há pretensões de tela, de telos, estética, ética, estátua, teos, tetéus, troféus,teclas, tecnologias… 

Eu sei que são só cascas de maracujá… se não fosse só o  que (não) seria?

E sigo na missão que todas as poetas em cantam 

Obviamente fracasso lindamente em quase tudo 

Estranhamente sigo alegre em não desistir de fracassar.

Este trabalho seguirá seu processo de criação em Residência Artística no Casarão Equilíbrio Cult, Rua das Flores, Amarante-PI.

Contribuições em prol da investigação dos protótipos e demais experimentos podem ser enviadas por PIX: 86994971551 Banco do Brasil, Ag: 4708-2, CC: 12.574-1, Vicente de Paula.

É dé… É dé… É delícia…Continua…

Cabrita da Peste

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