Desaparecida desde o dia 28 de fevereiro de 2021, a pergunta “onde está Renata?” reverbera sem respostas. A Frente de Mulheres Contra o Feminicídio no Piauí vem perpetrando diversas ações pela busca de Renata, bem como apoiando a família que sofre a falta de Renata. A seguir acompanhe na íntegra a carta da Frente citada exigindo andamento no caso.
Segue a carta:
Governador, prefeito, secretário, delegado: CADÊ A RENATA?!
É essa pergunta que vai circular em carros de som e outros meios de comunicação em Floriano, Nazaré do Piauí e região, no dia 28 de fevereiro e 01 de março, na programação alusiva ao dia Internacional da Mulher, desenvolvida pela Frente Popular de Mulheres Contra o Feminicídio.
Outras ações de luta pelos direitos da mulher e em protesto contra a atual conjuntura política e econômica brasileira serão realizadas ao longo do mês, unificadas com diversos movimentos populares feministas: Fora Bolsonaro! Vacina para Todas População; Pela Vida das Mulheres, Violência NÃO! As manifestações de rua poderão ser canceladas ou modificadas, devido ao agravamento da pandemia.
Renata Pereira Costa, jovem mãe, negra, natural de Nazaré do Piauí, desapareceu no dia 28 de dezembro de 2020. As investigações, com sua lentidão e equívocos, teria abraçado a tese apresentada pelo ex-marido da Renata, principal suspeito do seu desaparecimento.
O fato de Renata ser negra tem um peso nas investigações, pois é notório que mulheres brancas, em geral abastadas ou mais consideradas, tendem a obter maior atenção dos aparelhos de Segurança. E a explicação é simples: mulheres negras são geralmente as mais pobres, pobreza esta de que são vítimas desde que seus ancestrais foram trazidos criminosamente da África e aqui escravizados. E ainda há a questão do preconceito, tão arraigado, no Brasil.
É importante afirmar que a mulher procurada a partir da versão do ex-marido e que teria sido incorporada pelo delegado que investiga o caso, corresponde a uma Renata que nunca existiu. Pois, na realidade, a Renata que está desaparecida, viveu os horrores da violência, do espancamento, do machismo, do desaparecimento e da tentativa de silenciar a sua voz, que grita em nós. Tal qual Esperança Garcia, da mesma região de Renata, cuja história foi resgatada e continua ecoando, graças à luta por direitos individuais e sociais, que não se cala.
Devido a mirabolantes pressupostos, a investigação teria se deslocado para verificar o que logo se configuraria como simples boato. Desperdício de esforço e de dinheiro público, pois a maioria dos desaparecimentos de mulheres são explicados a partir de contatos iniciais com a própria família!
No entanto, o delegado responsável pelo caso não ouviu os tios e tias de Renata, que moravam na zona rural de Nazaré do Piauí. Somente após reiteradas reclamações e protestos realizados pela Frente Popular de Mulheres, o sistema de segurança resolveu, nesta semana, ouvir os tios de Renata, em depoimentos prestados à delegada Luana, coordenadora do Núcleo de Feminicídios, que se deslocou de Teresina e ouviu esse a família biológica e afetiva de Renata.
O que causa muita estranheza. Por que a família de Renata foi ouvida somente agora, há quase dois meses do seu desaparecimento? Tal demora certamente contribuiu para que o caso RENATA continue aparentemente misterioso. Afinal, ela tem em sua biografia, a maioria das informações constantes nas estatísticas de violência contra a mulher e seus desfechos.
As investigações, sob a justificativa de sigilo, não dizem se Renata chegou a Floriano; se as câmaras filmadoras dos estabelecimentos comerciais, bancários ou das ruas registraram e confirmam se ela chegou àquela cidade; se foi pedido quebra do sigilo telefônico e bancário dela e de seu ex-companheiro. No entanto, a moto encontrada e a busca do Corpo de Bombeiros num poço foram divulgadas sem nenhum receio de estarem violando o tal sigilo.
Qual o perfil de Renata? Uma mulher comum, sem título considerado importante, a não ser os de jovem e mãe. Era conhecida por grande parte da comunidade nazarena, inclusive na sua condição de mulher violentada e explorada .
Renata costumava sair de casa sem dizer aonde iria? É uma mulher com bens materiais que pudessem despertar a cobiça de alguém? Tem envolvimento com traficantes ou outros tipos de criminosos que pudesse ensejar a tal “queima de arquivo”? Abandonava a família/filhos? É alguém capaz de planejar e executar a própria fuga de Nazaré sem deixar qualquer vestígio?
Onde está a complexidade e o mistério dessa investigação?
Nós, da Frente Popular de Mulheres Contra Feminicídio, entendemos que as respostas negativas a tais perguntas são incontestes, posto que, a Renata está no rol das pessoas comuns, sem nenhum registro que desabone sua conduta.
Só nos resta cobrar das autoridades estaduais e municipais o que Nazaré e o Piauí querem
saber: onde está Renata?!
Nem uma a menos, vivas nos queremos! Cadê a Renata?
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