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No Piauí, uma única fazenda teve autorização para desmatar o equivalente à 7,8 mil campos de futebol

No Piauí, as maiores autorizações de desmatamento no ano de 2023 foram emitidas para produtores de soja, milho, algodão e gado da região de expansão agrícola conhecida como Matopiba, formada por áreas majoritariamente de cerrado nos estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia. 

Na cidade de Baixa Grande do Ribeiro, quatro autorizações permitiram o desmatamento de 22,7 mil hectares. O município é o segundo maior do Piauí, com área de 7,8 mil km² (ou 780 mil hectares). Projeções do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) apontam que a produção agrícola do município deverá crescer 31,7% nos próximos 10 anos.

Localizada em Baixa Grande do Ribeiro, a Fazenda Emaflor é detentora da maior autorização para desmate concedida no Piauí durante os últimos dois anos. Em setembro de 2023, a propriedade, que pertence à Emaflor Empreendimentos Rurais e Participações e é administrada pelo Grupo AZN, obteve o sinal verde para desmatar 7,8 mil hectares em seu interior. 

O Grupo AZN tem como sócio Alzir Pimentel Aguiar Neto, produtor de soja do Piauí e vice-presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Soja no estado (Aprosoja-PI). O próprio Alzir Neto também garantiu uma autorização para a supressão de 4,8 mil hectares de Cerrado na área ao lado da Fazenda Emaflor. O objetivo do desmatamento, segundo relatório apresentado à SEMARH-PI, é criar uma nova propriedade, destinada à criação de bovinos. 

A Fazenda Emaflor é fornecedora de soja da Bunge, segundo dados de notas fiscais acessados pela Repórter Brasil. Na safra 2022/2023, o grão colhido na propriedade foi enviado para a unidade da multinacional em Uruçuí (PI). 

Colheita de grãos de soja. As maiores autorizações de desmatamento no Piauí entre 2022 e 2023 foram emitidas para produtores de soja, milho, algodão e gado da região de expansão agrícola conhecida como Matopiba. (Foto: Pixabay)

A companhia americana assumiu um compromisso público de “desmatamento zero” em suas cadeias produtivas a partir de 2025. Em resposta à reportagem, a Bunge reafirmou o seu compromisso e disse que realiza o monitoramento dos seus fornecedores de soja para identificar aberturas de novas áreas. “Após a data estabelecida por nossa política, fazendas que plantarem soja em áreas recentemente abertas serão automaticamente excluídas da cadeia de fornecimento”, afirmou. Leia o posicionamento completo da companhia aqui

Repórter Brasil também tentou contato com o produtor Alzir Neto, com o Grupo AZN e com a Emaflor Empreendimentos Rurais e Participações, mas não obteve resposta até o fechamento desta reportagem.

Dos silos da Bunge espalhados pelo Matopiba, a soja brasileira alcança o mundo. Em 2023, os principais clientes da multinacional estavam localizados na França, Alemanha e Espanha. A Espanha também é o segundo maior importador da soja produzida no Piauí, atrás apenas da China.

Bioma menos protegido

Enquanto que a área de reserva legal em fazendas do bioma amazônico deve ser de 80% do total da propriedade, segundo o Código Florestal Brasileiro, no Cerrado esse percentual cai para 20%, com exceção das propriedades do Cerrado localizadas em estados da Amazônia Legal. Nesse caso, o percentual é 35%. 

“O Cerrado sempre foi visto como um bioma menos relevante, inicialmente por uma falta de compreensão da complexidade do bioma, da sua biodiversidade. Há também um senso comum de que não tem nada ali, que é uma região que deve ser destinada à produção de commodities”, pontua Crisostomo, do WWF-Brasil. A especialista afirma que, além da legislação menos protetiva ao Cerrado, há um “descontrole das emissões das Autorizações de Supressão de Vegetação”.

REPORTAGEM POR POLIANA DALLABRIDA | EDIÇÃO BRUNA BORGES – PUBLICADO ORIGINALMENTE EM REPORTER BRASIL

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