“Cor brilhante…telepática”, diz Luziane Barroso. “Verde, orvalho, floresta”, expressa Alana Gilmara. “Comecei chorando como bom filho de Oxum”, Lucas Januário”. Exercício de transcendência? Viagem astral? Pode ser que de tudo um pouco. Foram com essas percepções que começamos o nosso curso “Seja a mídia: comunicação popular e empoderamento digital”, nesta última segunda-feira (13), que contou com 83 pessoas nesse Círculo coletivo de construção do conhecimento e do poder popular.
Iniciamos com a proposição de criar desde a imaginAção para visualização de outros mundos com suas possibilidades comunicativas que celebram a diversidade. Que mundo cada um de nós quer criar? E nele, que comunicação terá? Qual o cheiro, a cor, a textura, que serem habitam essa comunicação? É falada, dançada, escrita? capoeirada? Imaginar é também criar. Vem com a gente no nosso Círculo de Saberes: Pensar-Agir em sociedade e comunidade.
Mas sabemos para imaginar e criar é preciso ter compromisso e disciplina para entender a realidade e suas conjunturas. Por isso, a Helena Martins (intervozes), trouxe uma série de elementos para problematizar o campo da comunicação e sua importância na disputa das lutas sociais. Veja aqui, na íntegra, o vídeo com o Módulo 1 – Democratização da Comunicação e Empoderamento Digital.
Helena trouxe o histórico da comunicação, mais precisamente no século XX, citando as experiências alternativas e fundamentais que orientaram as resistências na formas de comunicar, tais como a dança e capoeira (comunicação corporal); os/as anarquistas de tradição do movimento operário e a intensa participação das mulheres no processos comunicativos; e ainda o surgimento do estímulo da comunicação pelas CEB’s (Comunidades Eclesiásticas de Base) por meio do rádio.
Com este histórico de como o movimento popular caminhou com a comunicação para a organizar o povo, Helena expressa o quanto temos vitórias nesta área, embora ainda haja muito pelo que lutar para garantir o direito humano à comunicação, pois o contexto é de concentração deste direito fundamental nas mãos das empresas/mercado capitalista.
No contexto digital Helena afirma que as grandes corporações tem domínio sobre tudo sem qualquer regulação por parte do estado e controle por parte da população. Ela cita o exemplo do Instagram em que todo o projeto de datificação e produção de perfis vai facilitar o processo de compra e venda mostrando que a internet se tornou um espaço mercantil.
Nessa perspectiva de mercantilização do espaço digital, as principais empresas, consideradas as mais “tops”, são as empresas dos meios de comunicação e tecnologia da informação e que no momento elas estão apostando em uma nova produção de sociedade a partir do 5G em que vai ser usada na facilitação da vigilância, cooptação pelo agronegócio e até realização de procedimentos médicos.
Militante histórica do movimento pelo direito à comunicação, Helena Martins, afirma que no Brasil todas as tentativas de regular a comunicação é vista pelos empresários como censura. Para Helena, isso dá porque os nossos direitos são mercantilizado. “Hoje vivemos um processo brutal de mercantilização da água, mas por exemplo, se você quer reclamar sabe a quem recorrer, existe pelo menos um sac. Mas se você liga a televisão e vê um jovem negro é violentado nos programas policialescos para quem você liga?”, pergunta.
Este questionamento nos faz refletir sobre a importância do controle social da comunicação, pois da forma que se encontra os grandes meios de comunicação são os principais violadores dos direitos humanos, visto o racismo, o machismo, a lgbtfobia que os mesmos provocam.
Ah na pauta de diversidade, Lusiane Barroso, sindicalista, trouxe uma questão importante no que tange à acessibilidade. Na sua percepção é preciso incluir esse tema nas questões da comunicação. Helena lembra que na única conferência de comunicação que houve, em 2009, esse tema foi central, pois os militantes da área estavam bastante organizados. Mas diante das propostas do movimento, o empresariado sempre retrucava afirmando que as medidas gerariam gastos. Cabendo, portanto, deixar o debate vivo neste quesito. ABAIXO, SEGUE VÍDEO COMPLETO DO MÓDULO 1:
A SAÍDA PASSA PELO EMPODERAMENTO DIGITAL?
Para responder a esta pergunta, Helena Martins começa afirmando que o avanço da Pandemia da Covid-19 deixou exposta as fragilidades e desigualdades do sistema capitalista, expondo de forma violenta um sistema que coloca os lucros acima das vidas. Ao mesmo tempo, revelando como o uso das tecnologias e o acesso a internet acontece de modo desigual e excludente no Brasil, deixando milhares de jovens fora dos espaços educacionais e famílias inteiras distantes de direitos sociais, por exemplo.
Por isso, em um cenário de consolidação da Internet e de proliferação de dispositivos conectados, o direito à comunicação deve ser repensado considerando as especificidades do mundo online. Para Helena, a resposta passa por empoderamento digital.,
“Nosso pressuposto geral é a afirmação da web como espaço do exercício de direitos e vivência democrática, e não da prática do consumo, do controle por grandes agentes (como plataformas), da concentração de mercado, da expressão cultural vertical e homogeneizada e do debate contaminado por discursos de ódio e bolhas ideológicas”, afirma Helena.
Por isso, o Coletivo Intervozes (que Helena faz parte), considera como premissas da noção de empoderamento digital a indivisibilidade entre o direito à comunicação e outros direitos humanos, cuja garantia deve se dar também no ambiente online; a diversidade e o pluralismo como formas de expressão da liberdade de expressão de indivíduos e coletividades; o conhecimento como uma construção coletiva e compartilhada; a constituição das Tecnologias da Informação e da Comunicação como instrumentos democráticos a serem apropriados de forma ativa pelos sujeitos; e o combate a opressões e a defesa da Justiça Social e da democracia política como valores e objetivos associados a essas práticas.
Helena ainda acrescenta um sexto elemento a essas premissas. “Hoje, não há como falar em direitos sem incluir a noção de justiça ambiental. Embora o digital seja colocado em outra esfera, ele não está dissociado desse contexto”, finaliza.
NÃO EXISTE NEUTRALIDADE DENTRO DO ATUAL CONTEXTO DIGITAL
Lucas Martins é um participantes do curso. No momento da roda de debates, ele comentou sobre a noção de fake news situado em um processo de construção historiográfica, onde o próprio Brasil começou com a mentira da descoberta e colonização. “De que forma essas mentiras influenciam na consciência das pessoas”, questiona.
Dialogando com as questões apontadas por Lucas, Helena afirma que não existe neutralidade nesse cenário. O fato do Facebook disponibilizar determinados emojis ou o fato do twitter permitir até um certo número caracteres nas postagens, por exemplo, não é para instituir formas neutras de estar no espaço, na verdade, isso faz forjar uma cultura liberal nesses lugares.
Helena acredita ainda que o problema da mentira na política é que você não consegue nem saber se localizar no mundo. “Associado a isso, o problema da desinformação é que ela muda o horizonte de sociedade. Por exemplo os terra planistas se veem em outro mundo, em outra realidade e consequentemente pensam em outras alternativas. A gente não pode dar para essas plataformas os critérios para dizer o que é ou o que não é democrático na internet. Isso é um papel nosso, porque eles têm interesse”, finaliza.
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