Nosso Círculo de Saberes – Pensar/Agir na Sociedade segue desconstruindo certezas e aflorando novidades para pensar e agir mais próximo do comunitário. A professora Maria Sueli, no terceiro dia do Curso “Ações Coletivas e Relações de Poder: Reflexões nas Cosmovisões Ubuntu, Ukama e Bem Viver”, nos convidou a pensar sobre o que é político. A aula aconteceu na última terça-feira (19) em modalidade on-line. Segue o fio. [
Tivemos a participação da militante Maria Gonçalves – Movimento de Atingidos por Barragem (MAB) – que logo nos trouxe as violações de direitos e da vida por conta do modelo devastador de desenvolvimento e progresso, que a tudo arrasa em nome do lucro. “O movimento surgiu na década 60/70 quando iniciou aquilo que os liberais chamavam de desenvolvimento/progresso e que precisava ser implementado no país e junto com isso vieram as construções de barragens por todo o Brasil”, afirma.
Maria aponta que esse modelo de desenvolvimento não beneficia a todos, pelo contrário, há apenas uma classe que lucra, enquanto nos separa de sermos natureza. “Em relação a questão de barragens, tem-se 2 milhões de pessoas que foram atingidas e não há uma política que garanta os direitos dessas pessoas”, diz Maria.
Esse modelo de desenvolvimento destrói modos de vida (saberes, ciências, modos de ver o mundo). “Nesse contexto, vemos também os problemas trazidos por esse modelo de desenvolvimento como a remoção das famílias sem considerar o modo como se sustentam e a relação com o território onde vivem, não se considera como as famílias vão sobreviver depois da construção das barragens, as indenizações que não são justas e a destruição das comunidades tradicionais e dos povos indígenas”, assegura Maria Gonçalves.
Segundo Maria, mesmo em uma crise o capitalismo não muda sua racionalidade, porque para isso é necessário mudar sua finalidade e, essencialmente, ele é um sistema de exploração e expropriação. “Portanto cabe a nós, em coletividade, mudar a racionalidade desse sistema, porque do jeito que está não há vida, não há povo e não há território”. [
E o político, onde está?
Sueli nos questiona “O que é político? Você faz política? A política interfere na sua vida?” e a gente fica tipo – Uauuu! porque não me fiz essas perguntas antes? – É tempo de crise, e por isso mesmo é tempo também de se perguntar – O que eu faço atinge alguém?
Para Sueli “A gente acha que o que está fazendo não afeta ninguém. Não! O que nós fazemos afeta todo mundo, o que consumimos afeta todo mundo. Portanto, todas as nossas ações são política. Aquilo o que você faz comunica alguma coisa para alguém e esse comunicar é política. Política é um poder de conduzir nossas vidas”.
Opa! Mas peraí! A política não está em tudo! Quer dizer… Tem locais da vida subjetiva que a política não chegou, o amor, por exemplo. Meninos e meninas, cuidado! Sueli alerta “O mito do amor romântico é totalmente político e coletivo porque foi internalizado no imaginário coletivo. Esse mito é construtor da nossa subjetividade, por isso somos infelizes, pois é inalcançável. A partir disso, construímos nosso cenário em cima de uma pessoa então aquilo é político e depois vamos ensinando a outras pessoas como se construir a felicidade”.
E a gente fica – Uaauuu! – pela segunda vez. – Será que o capitalismo domina a minha forma de amar? Vai que o amor romântico é armadilha para garantir herança, propriedade, individualismo, dominação dos corpos (sobretudo das mulheres)… Será? De todo modo é bom pensar. Marx e Engels já falavam sobre isso no livro “A Sagrada Família”. Mas a gente também indica a intelectual indígena contemporânea Geni Nunes que tem versado muito sobre o amor romântico X o amor contra-colonial. Saca o instagram dela (@genipapos).
Porque nós, os subalternizados, não nos reconhecemos como seres políticos?
Para Sueli o excesso de informação dificulta que as classes subalternizadas se reconheçam como políticas e tomem seu protagonismo, pois é levado a se pensar somente como indivíduo. “Pra ajudar nisso, a pensar como indivíduo, a gente tem excesso de informação, inclusive temos dificuldade de compreender o que está acontecendo, porque as informações chegam de todos os lados. E a gente precisar fazer uma coisa, que é extremamente necessária, baseada na nossa realidade, para que nossa ação seja frutífera que é a análise de conjuntura”, afirma Su.
Sueli nos diz que, ao fazer análise de conjuntura, observamos que as vozes oficiais nos fazem acreditar que existem mais pessoas desobedecendo a lei do que obedecendo e isso é falso. Segundo ela isso nos leva, tanto esquerda como direita, a um modelo punitivista (por exemplo “tem que prender”).
Mas é preciso ter fé! E fé que movimenta os corpos na mudança. Para Sueli, nem tudo está perdido, mesmo que o cenário da conjuntura seja difícil. “A gente precisa se organizar, mas a gente precisar sair da nossa caixinha. A gente precisa se juntar, porque somos individualistas e se nos insurgimos, quem sabe a gente não constrói uma nova cultura, mesmo sendo um processo lento. Mas é preciso que a gente reconheça que é importante ir para a universidade, mas é preciso saber que isso é capitular o projeto da modernidade”, diz Sueli movendo esperança.
Você não conseguiu se inscrever no curso ou faltou à aula? Não se preocupe, segue aqui o link para a aula completa.
Comments (1)
O saber semear de Sueli Rodrigues: dois anos de sua passagem e a presença coletiva que resistesays:
27 de julho de 2024 at 4:39 PM[…] por direitos. Junto ao Ocorre Diário, Sueli realizou, em 2020, durante a pandemia de Covid-19, o Círculo de Saberes – Pensar/Agir na Sociedade com o curso “Ações Coletivas e Relações de Poder: Reflexões nas Cosmovisões Ubuntu, Ukama e […]