Por Sarah Fontenelle Santos
Jornalista, militante do Ocorre Diário e Flores.Ser Comunicação Coletiva.
“O voto no primeiro turno não pode ser o voto do medo”, diz Sônia Guajajara, candidata a co-presidência pelo PSOL em dia S com Sueli Rodrigues, candidata a Governadora do Piauí. Esta segunda-feira (24) iniciou com muitas esperanças, não no processo eleitoral, mas na luta diária da juventude, dos movimentos sociais povos originários e tradicionais e da classe que vive do trabalho.
Para Sueli, professora, socialista que se forjou nas lutas dos povos camponeses, do povo negro e também em defesa das mulheres, este é um momento onde brotam esperanças. “Brotam esperanças, não no processo eleitoral, mas em nós mesmos, pois somente o povo se organizando poderemos encontrar uma saída coletiva”, expressa, seguida de muitos aplausos emocionados da plateia que lotou todos os cantos do auditório da ADUFPI, naquele momento se transformando em celeiro de novidades para construir um mundo novo.
Para Sueli, reinventar a política é fazer como Mariele. “Ela representa esta invenção, procurando na vida cotidiana, nos nossos afetos e subjetividade, essa nova forma de lutar”. Grande representante da luta indígena, Sônia, concorda com essa forma que se inaugura na política brasileira. Para ela, sua representação como mulher indígena não é apenas simbólica, como fazem muitos partidos ao usarem mulheres para cumprir cotas. “Nossa candidatura não é simbólica. Ela pretende remorar o nosso passado para construir o nosso futuro”, afirma Guajajara trazendo o poder ancestral para preencher e fortalecer o caminhar de um momento tão sofrido e ameaçado pelo fascismo e a anti-mobilização social.
Sônia lembra que acabou de sair uma pesquisa onde aponta que o Programa do Psol é o que mais aparece a palavra “mulher”, com 156 vezes. O segundo lugar ficou com a chapa de Ciro Gomes, com 47 vezes. “Mas o que adianta falar de mulher e ter como vice a rainha do agronegócio, Kátia Abreu?”, afirma. Segundo ela, não adianta ser mulher e liderar os grandes ruralista e grandes empreendimentos do agronegócio como o Matopiba, projeto este, que até agora entregou 73 milhões de hectares de terras do Piauí, Maranhão, Tocantins e Bahia para a expansão agrícola.
O que acontece no Matopiba hoje representa uma devastação de 52% a mais do que a devastação que acontece na Amazônia. “O cerrado está sendo destruído pela monocultura. Não existe uma política de proteção nem à Amazônia e nem ao Cerrado, lugares que guardam a maior reserva de água doce potável do país”, lembra Sônia. Ela completa dizendo que a política de distribuição de água que existe hoje apenas leva a água para os grandes empreendimentos, “embora os canos de água passem por dentro das terras camponesas, a água não fica para a população”.
O que se enxerga nos cerrados brasileiros é uma imensa política de exclusão dos povos tradicionais e destruição ambiental. Tal como acontece no sul do Piauí com as grandes mineradoras, monocultura da soja e outros grãos e a trans nordestina, que por sua vez é pensada para transportar todos os produtos do agronegócio.
“O Estado é maior violador dos direitos humanos”, diz Sueli
Sueli destaca que há três eixos principais a serem enfrentados pelo povo neste momento, o que foi representado no programa de governo, mas que deve ultrapassa-lo, pois nenhuma mudança estrutural se dará dentro de um mandato. O primeiro dos eixos solicita um enfrentamento da crise da democracia “queremos enfrentar a democracia representativa burguesa com poder popular e uma democracia direta e radical”, diz.
O segundo eixo estruturante de sua campanha é fazer com o que o povo não caia na falácia midiática de que o grande problema do Brasil é a corrupção “nós sabemos que nada vai mudar se não enfrentarmos a desigualdade social e a concentração de riquezas”, afirma. O terceiro eixo “é o compromisso radical com a luta da classe trabalhadora. Precisamos valorizar o trabalho, a agricultura familiar, a agricultura camponesa”, diz.
Neste eixo, Sueli apresenta uma crítica às grandes redes de super mercados que chegaram no Piauí destruindo os modos de vida e as famílias que viviam das quitandas. As grandes redes ganharam de 30 a 40 anos de isenção fiscal, com a desculpa de que gerariam emprego. Segundo ela, “Nós sabemos que eles tiram mais empregos do que dão. Basta ver os trabalhos exaustivos e precarizantes da vida”, em contrapartida, os pequenos quitandeiros não recebem nenhum incentivo. Para Sueli é preciso valorizar o trabalho e se faz isso em todas as esferas da produção, sem injetar, por exemplo, recursos públicos nos grandes empresários, enquanto minguam os recursos para a população.
Por fim, Sueli destaca que para criar qualquer estratégia de superação da atual situação do país, é preciso entender que o Estado é o maior violador dos direitos humanos. “O Piauí, por exemplo, é o estado com maior número de pessoas presas, sem que estado tenha julgado”, a candidata destaca que da mesma forma há políticas higienização e perseguição da juventude e das periferias, tal qual se observa no Programa Vila Bairro Segurança, que tem feito batidas policiais nas casas de reggae da Zona Norte da Capital Teresina.
“Nossas vidas são inegociáveis”, diz Sônia
Sônia Guajajara convida a população a ter coragem para se auto-organizar frente ao desmantelamento social e da crise civilizacional pela qual passamos. Por isso, “o voto no primeiro turno não pode ser voto do medo. Temos que votar naquilo que acreditamos e irmos para as ruas para defender nosso projeto de sociedade. Nosso voto tem que ser guiado pela esperança. Não podemos escolher a lógica do menos pior, pois já sabemos onde essa lógica nos levou”, encoraja Sônia.
Para o conjunto dos movimentos sociais ali presentes e para as candidaturas proporcionais da Coligação Psol-PCB, este é o tom que deve ser abrasado nas ruas e nas urnas neste 7 de outubro e para além das eleições. Em todas as falas do dia S é consenso o fato de que a revolução não se dará nas urnas, por isso a necessidade de uma crescente mobilização social em defesa dos direitos conquistados e por uma profunda transformação. Aponta-se que o caminho é mobilização para que, enfim, 1% da população mundial não detenha mais 99% das riquezas do restante. Aqui mais importa mudar o quadro onde 1% dos proprietários agrícolas detém 45% da área rural do país. “Não vamos aceitar que diante deste cenário os ruralistas ainda questionem o fato dos indígenas terem 13% do território, o que não dá para comparar”, afirma. Ou seja, mais importa mudanças estruturais profundas e a emancipação humana.
A militância que renova os sonhos de outra vida possível diante do escamoteamento das relações sociais, do trabalho, da vida e dos direitos, reafirma que os diferentes projetos da diversidade brasileira não cabem nas urnas. “Nós nos colocamos a disposição desta campanha movimento, onde movimentos sociais se aliam a partidos comprometidos com as causas sociais, porque não queremos mais ser o país que mais mata militantes de direitos humanos e das causas ambientais. Não queremos mais ser o país que mais mata mulheres, LGBT’s , povo negro. Nem queremos estar no ranking de países que mais morrem mulheres vítimas de abortos inseguros. Cremos que nossas vidas são inegociáveis e nós, povos indígenas, tradicionais, mulheres, povo negro, LGBT’s precisamos continuar vivendo, por isso somos a semente de Mariele e estamos firmes na luta”, conclui.
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