Era um dia como hoje, há exatamente seis anos. Ainda incrédulos com o crime bárbaro que tirou a vida de Marielle Franco em março de 2018, o “Ocorre Diário” se mostra para o mundo por meio do seu site (ocorrediário.com). Foi o momento em que lançamos nossa plataforma para co-criar um outro jornalismo e, por meio dele, outros mundos possíveis. Sem tanto planejamento, mas com muito afeto e certeza da missão desse corre. Foi quase como um empurrão: “vai lá, elaborar e dizer a palavra coletiva”.
Nossa primeira matéria, “Construindo Círculos: Ver, ouvir e tecer”, tratava de uma das atividades do Projeto Mulheres do Terreiro da Esperança, realizado na comunidade Boa Esperança, zona norte de Teresina, em 2017. O projeto foi executado pela Flores.Ser Comunicação Coletiva, fundada em 2016 como um instrumento de mobilização popular e cultural, por meio da comunicação. A Flores.Ser foi o embrião do que, dois anos depois, viria a se tornar “Ocorre Diário”. Alí, gestamos coletivamente uma plataforma de comunicação popular e jornalismo colaborativo.
De lá pra cá, já foram quase 630 matérias públicas. Um ritmo lento se comparado à frenética rotina de produção do jornalismo comercial, mas esse nunca foi um referencial para nós, porque experimentamos outras temporalidades e periodicidades. De lá pra cá, já alcançamos mais de 160 mil visualizações em nosso site, de forma orgânica. Apesar dos números, nos importa mais o caminho do que o ponto de chegada. As paisagens na andarilhagem, as trocas, os encontros, reencontros de um mundo perdido de si para se reencantar com as possibilidades de ser/fazer/agir. Pois comunicar é também agir, é palavrAção. E no ato de caminhar, elaboramos outros projetos de vida e bem viver com quem partilhamos e criamos discursos, narrativas e trajetórias.
Nos últimos seis anos, o Ocorre Diário tem fortalecido o compromisso que o fez nascer: atuar junto aos movimentos sociais e populares por uma cidade mais justa e digna para todos, todas e todes. Articulamos e construímos produtos comunicacionais com comunidades indígenas, quilombolas, pesqueiras, tradicionais e periféricas do Piauí e Maranhão. Somos fruto de uma demanda coletiva e popular; da necessidade de dizer aquilo que foi (e ainda é) apagado pelos jornalismo comercial/convencional. Nossa atuação vai desde produção coletiva das narrativas à oficinas e cursos de formação. Como um coletivo plural, formado por jornalistas, comunicadores populares, moradores/as da periferia, militantes/ativistas dos movimentos sociais e artistas. E assim articulamos diversas lutas e projetos coletivos.
Nas lutas por justiça socioambiental, em parceria com a REAPI (Rede Ambiental do Piauí), que tem importante atuação contra o agronegócio, carvoarias, mineração, proteção dos rios e das matas no estado do Piauí. Produzimos não apenas conteúdos jornalísticos, mas também ações conjuntas, como a campanha “Desafios para proteger a Mata Atlântica” (2021), o seminário “Cerrado, Te Queremos Vivo” (2023)“, a “Audiência Pública Popular em Defesa do Cerrado” (2023), “Seminário sobre transição energética com justiça socioambiental” (2024), entre outros.
Nas lutas em defesa dos povos do mar, estamos articulados com a Central Pastoral da Pesca/Piauí, que tem empenhado diversos esforços na proteção e preservação dos territórios pesqueiros no litoral piauiense. Mobilizações e denúncias contra a especulação imobiliária em Cajueiro da Praia (que tem arrancado à força pescadores e pescadoras artesanais de suas casas, inclusive, com prisões e ameaças de morte), contra os impactos do derramamento de óleo no Delta do Parnaíba em 2019 e do turismo predatório em Barra Grande. Além das denúncias, também celebramos a cultura que aflorou por la´, através do Projeto “Culturando nos Morros da Mariana”, em parceria com jovens de Ilha Grande que resgataram as histórias e memórias das pastorinhas, rendeiras, quadrilheiros, pescadores, parteiras, entre outras.
Nas lutas das periferias urbanas, construímos coletivamente campanhas em prol do aquilombamento da comunidade Boa Esperança, bem como campanha contra a remoção do agricultor e Vazanteiro, Senhor Raimundo, morador da Boa Esperança. Articulamos, para além da Comunidade Boa Esperança (Zona Norte), lutas contra diversos processos de remoções, como no Parque Vila Ferroviária (Zona Sul); Ocupação Lindalva Soares (Zona Norte), Vila Verde e Núcleo Universitário (Zona Leste). Em 2021, em parceria com o Centro de Defesa Ferreira de Sousa – Associação das famílias atingidas pelo PLN – contribuímos no desenvolvimento do Museu Virtual da Boa Esperança (https://www.museudaboaesperanca.org/sobre), uma importante ferramenta de luta das comunidades tradicionais do território.
Nas lutas dos povos originários e quilombolas, estamos articulados com diversas comunidades quilombolas, como o Quilombo Lagoas na luta contra a mineração; o Quilombola Macacos em luta por educação quilombola digna e titulação das suas terras; o Quilombo Mimbó como polo de fortalecimento da cultura negra no Piauí. Bem como com territórios indígenas, em luta por demarcação, com os indígenas Akroá Gamela, Tabajaras, Guegê do Sangue, Guajajaras, entre outros.
Celebrando e defendendo as vidas plurais. Ao longo desse período também temos atuado nas movimentações na cena local do Piauí junto aos movimentos de cultura, movimentos sociais pelo direito à cidade, à moradia, socioambiental, movimentos feministas, antirracistas e LGBTQIAPN+. Outro campo central de atuação tem sido as articulações pelo direito à cidade e à moradia.
Há cerca de três anos passamos a integrar a Rede Nacional de Combate à Desinformação – RNCD (https://rncd.org), uma iniciativa que interliga projetos e instituições de diversas naturezas que trabalham e contribuem de alguma forma para combater o mercado da desinformação que floresce em nosso Brasil. Há um ano, começamos a integrar também a Rede Nacional de Proteção a Jornalistas e Comunicadores, uma iniciativa do Instituto Vladimir Herzog, Artigo 19 e Repórteres Sem Fronteiras. Em 2023 estivemos entre os selecionados do curso “Jornalismo Independente no NE: desafios e soluções”, uma realização da Marco Zero Conteúdo em parceria com o Mestrado de Indústrias Criativas da Unicap (Universidade Católica de Pernambuco) que teve o objetivo de fortalecer institucionalmente organizações de jornalismo no Nordeste.
Outras ações já colaboração e construímos ao longo desses 6 anos:
- Ocorre da Quarentena: (https://www.instagram.com/p/B_YUIW6DJgE/) uma série de Lives no Instagram que trouxe para o centro da nossa pauta diversos temas negligenciados pela imprensa convencional, onde os protagonistas eram as pessoas periféricas e de movimentos sociais;
- Ações de solidariedade nas periferias e comunidades (https://www.instagram.com/p/CBeBgmOjFWW/ );
- Círculos de Saberes: (https://ocorrediario.com/ocorrediario-lanca-circulo-de-saberes-pensar-agir-na-sociedade-1o-minicurso-trata-de-acoes-coletivas-e-cosmovisoes-ancestrais/), iniciativa que reuniu lideranças populares, estudantes, trabalhadores e a população em geral de diversos estados em dois cursos: Ações coletivas e Relações de Poder e outro sobre Comunicação Popular e Digital;
- Dia Nacional Pela Democratização da Comunicação – Lives “Vozes Plurais: Direito à comunicação para adiar o fim do mundo” (https://ocorrediario.com/vozes-plurais-direito-a-comunicacao-para-adiar-o-fim-do-mundo-evento-marca-luta-pela-democratizacao-da-comunicacao/ ). que contou com a presença de Jacob Alves (artista e pesquisador de tecnologias), do Prof. Adilson Cabral (UFF), do o indígena Cristian Wari’u (@vozindigena e @coopioparente) e da Cecília Bizerra(UFMG);
- Cardápio 29: https://www.instagram.com/p/CQqun07Dlky/
- Salvem o Zoo: https://www.instagram.com/p/CRZO-BXDCHp/
- Visibilizando os invisíveis: https://www.instagram.com/p/CPJVVGIjL3G/
- Especial Teresina 169 anos: https://ocorrediario.com/teresina-tecida-pelos-sem-teto-169-anos-e-35-mil-pessoas-sem-direito-a-moradia/
Deixe um comentário