O denso óleo continua a escorrer por todo o litoral nordestino, a espalhar morte à vida marinha, angustiar comunidades tradicionais e pessoas que vivem do turismo e da pesca, mas quem se importa com o Nordeste? No entanto, a massa densa de óleo encontra um páreo duro: a solidariedade e resistência dos nossos povos tradicionais. É assim que se movem as comunidades da Reserva Extrativista Marinha do Delta do Parnaíba que realizam campanha para angariar recursos para compra de equipamentos de proteção individual, necessário para a retirada do óleo.
A Resex, Reserva Extrativista, é uma área de proteção que garante às comunidades tradicionais seus modos de vida. A reserva extrativista do Delta do Parnaíba é composta por cinco comunidades: Canárias, Torto, Passarinho, Caiçara, Morro do Meio. Quem vive em biointeração nessas comunidades sabe que o mangue é uma maternidade a céu aberto sem os quais muitas espécies de animais e plantas não existiriam, inclusive o homem-mulher-caranguejo que tem sede de ser coletivo. E é sendo coletivo que se mobilizam para barrar o óleo.
Segundo João Carlos, morador da Resex e presidente da Associação de Moradores do Torto, o óleo já chegou às praias de praticamente todas as comunidades da Reserva, principalmente Caiçaras e Morro do Meio. Estamos falando do único Delta em mar aberto das Américas, estamos falando de vidas (humanas e não humanas) que se colidem na matriz econômica de super exploração da natureza.
Após solicitação da comunidade feita no último domingo (17), a Marinha, ICMBio e Ibama estiveram na Resex – município de Araioses – para capacitar comunitários para a retirada do óleo nesta segunda-feira (18). As ações continuam na esperança de livrar água do óleo, já que qualquer principiante sabe que água e óleo não se misturam, menos os produtores de petróleo.
João Carlos relata que as comunidades se movimentam em procura de apoio “Esse final de semana chegou muito óleo, sábado e domingo. No domingo, ontem, nós fomos na Capitania dos Portos participar de uma reunião com a Capitania dos Portos do Maranhão, do Piauí, o exército do Maranhão e o ICMBio. Aí a gente teve essa conversa lá e eles se programaram pra ir em campo hoje. Então hoje (segunda-feira) por volta de sete horas da manhã eles saíram do porto dos Tatus e estão pra lá, trabalhando”, afirma.
No entanto, um dos grandes problemas para dar continuidade às ações de retirada do óleo é a falta de equipamentos, para tanto, a população está recebendo doações bancárias, ajuda por meio da Associação Mãe das Associações Comunitárias da Resex – Amar Delta. Outra forma de ajudar é entregar equipamento de proteção individual junto ao coletivo Sementes do Campus ou da Empresa Jr. Rotas do Turismo, cujo local de arrecadação é o auditório da Universidade Federal do Piauí (UFPI), campus Parnaíba.
É válido ressaltar que toda a ação do nordestino em tirar o óleo na força do braço e se pondo em risco diante de um lixo tóxico que ninguém sabe ao certo de onde vem, não deve ser romantizada. É preciso que o Estado brasileiro tome parte no processo e que o Governo Federal e suas instituições garantam as condições necessárias para descobrir e barrar a nascente desta tragédia, pois até agora nada foi feito.
Até o momento nenhuma empresa produtora de petróleo foi responsabilizada e toda a ação feita tem sido na contenção do óleo que escorre na área, deixando a origem de todo o desastroso crime encoberto e mais do que isso, deixa vulnerável a um esguichamento de óleo contínuo. Como diz o Quilombola e intelectual, Nêgo Bispo, se preocupam com a enchente, mas não procuram ver a nascente do rio.
Até que queiram observar a nascente desta caudalosa destruição, as Resex seguem cumprindo um papel de fundamental importância para impedir o naufrágio de suas comunidades neste mar de lama.
Confira o número da Conta Bancária e os endereços de coleta de material:
Texto: Sarah Fontenelle Santos com Colaboração de Lucas Pereira.
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