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Organizações escrevem carta contra cultivo de soja e milho no Corredor Ecológico Capivara/Confusões

No último domingo (27/11), organizações da sociedade civil do Piauí divulgaram uma Carta Aberta de rejeição à implementação do empreendimento de soja e milho irrigados da APESA AGROPASTORIL PIAUIENSE, no Corredor Ecológico Capivara/Confusões. De acordo com as organizações, o objetivo é esclarecer a toda a sociedade algumas das consequências do Empreendimento na região do Corredor Ecológico entre os Parques Nacionais Serra da Capivara e Serra das Confusões em sua porção norte mais próxima e conservada. No final desta matéria, disponibilizamos o documento na íntegra.

“Posicionando-se totalmente contrários à implementação do Empreendimento Cultivo de Soja e Milho Irrigados da empresa APESA AGRO PASTORIL, cidadãos, cidadãs, individualmente ou representando instituições, que incluem a Sociedade Civil Organizada, residentes na região conhecida como o Berço do Homem Americano, vêm a público apresentar, de forma fundamentada, as razões que os levam a considerar o empreendimento totalmente inaceitável, frente ao seu impacto devastador, irremediável e destoante dos rumos que as políticas ambientais consensualizadas, em nível mundial, devem seguir diante das consequências das mudanças climáticas, que têm também como causa, ações antrópicas como as que serão executadas neste empreendimento”, afirmam as organizações na carta.

O documento, de 17 páginas, traz uma ampla abordagem sobre o caso, com uma contextualização acerca da importância histórica, cultural e socioambiental da região e, mais especificamente, do Corredor Ecológico Capivara-Confusões e das Unidades de Conversação ali presentes (Parque Nacional Serra da Capivara, Parque Nacional Serra das Confusões e Estação Ecológica Chapada da Serra Branca).

De acordo com as organizações, a implementação de cultivo de soja e milho na região pode trazer uma série de impactos, que vão desde a fauna, flora e reserva de água, até as pinturas rupestres, sítios arqueológicos e paleontológicos da região. “Considerando que os limites da gleba da Fazenda Apesa estão a aproximadamente a 110 metros do Parque Nacional Serra da Capivara, a retirada da vegetação e, consequente exposição do solo provocará a mudança na dinâmica dos ventos que acarretará na transposição de poeira para uma grande área, podendo provocar efeito abrasivo acelerando a degradação dos painéis rupestres”, afirma o documento.

Além disso, o documento alerta também acerca das marcas de antigas geleiras que remontam a épocas glaciais de 360 milhões de anos, em Brejo do Piauí e Canto do Buriti, que estão a menos de 10 Km da Ala Norte do empreendimento. “Estes afloramentos rochosos estriados são raros e de difícil preservação por serem superficiais. Depósitos de sedimentos ou abertura de estradas com passagens de tratores, maquinários, caminhões e mesmos veículos leves podem destruir esse patrimônio geológico de valor científico único, e que poderá ampliar o roteiro turístico do Estado do Piauí”, afirmam.

O documento destaca ainda o impacto com o solo e água, levando em consideração que a região enfrenta um contexto histórico de escazes de água e que a produção de soja e milha exige um volume muito elevado de água para irrigação. “Considerando essa produção média, em uma conta simples, serão necessários 4.500.000 litros de água para irrigar 01 hectare e para irrigar 6 mil hectares serão necessários 27 trilhões de litros de água”, diz o documento. Os impactos passam ainda pela economia local, em razão da produção de mel, e do turismo na região.

A carta foi escrita e assinada por Eliete de Sousa Silva Presidente “Os Pimenteiras” (Associação dos Condutores de Visitantes do Parque Nacional Serra da Capivara), Elisabeth Medeiros (Arqueóloga – Fundação Museu do Homem Americano – Fumdham), Henrique José Neri Junior (Apicultor – Gerente Comercial e Articulador Regional da Cooperativa Mel do Sertão), Juan Cisneros (Paleontólogo – Prof. Universidade Federal do Piauí – Teresina), Juliana do Nascimento Bendini (Bióloga, -Universidade Federal do Piauí UFPI – Picos), Maria Conceição Soares Meneses Lage (Arqueóloga – Profa. Universidade Federal do Piauí – Teresina), Maria da Conceição da Silva Araújo (Movimento Nacional de Direitos Humanos – MNDH-PI), Maria Fátima Ribeiro Barbosa (Arqueóloga – Universidade do Vale do São Francisco, São Raimundo Nonato – Univasf/ Fundação Museu do Homem Americano – Fumdham), Marcia Chame (Zoóloga – Pesquisadora da Fundação Oswaldo Cruz – Fiocruz/ Fundação Museu do Homem Americano – Fumdham), Marcinda da Silva Araújo (Médica Hematologista, Rede Ambiental do Piauí – REAPI), Raimundo Nonato Ferreira (Apicultor – Vice- presidente da Cooperativa Mel do Sertão) e Rute Maria Gonçalves de Andrade (Bióloga – Fundação Museu do Homem Americano – Fumdham).

Comments (4)

  • Marise Oliveira Fonsecasays:

    2 de dezembro de 2022 at 10:37 AM

    Essa região é de uma riqueza sem par! Natureza, história e cultura. Em nossos passeios vimos e nos contaram sobre a dificuldade de conseguir água. Cava-se muito profundamente e com dificuldade p alcançá-la. O capitalismo não tem olhar p o futuro. Vai destruindo tudo como se não importasse o amanhã, como se nossa casa terra fosse eterna e forte. Ah tristeza ! Vamos preservar essa região importantíssima. Nao à plantação de milho e soja nessa região!

  • APESA recorre e pede nova autorização de plantio no Corredor Ecológico Capivada/Confusõessays:

    3 de abril de 2023 at 10:49 AM

    […] Essa defesa já havia sido feita no ano passado, em carta aberta à sociedade, quando grupo defendeu que nada substitui a diversidade da Caatinga na nutrição das abelhas. “A continuidade da vegetação de Caatinga Arbustiva-Arbórea nativa do Corredor permite o trânsito dos animais entre os parques, especialmente durante o período de seca, já que os rios temporários da região e os reservatórios de água encontram-se cercados pela população urbana. É fundamental para a sobrevivência de animais como a onça pintada, a jaguatirica, o tatu bola e o tatu canastra, as araras, as abelhas sem ferrão e a abelha européia, pequenos animais como lagartos, anfíbios, insetos e para diversas espécies de plantas (angico de bezerro, marmeleiro, imburana, jurema-preta, dentre outras) que garantem a produção de mel durante todo o ano, mesmo na seca”, afirma a carta. […]

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